Um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou social ) como todo o corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo; mas, ao contrário destes, ele também reflete e retrata uma realidade, que lhe é exterior. Tudo o que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo o que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia
(Mikhail Bakhtin, Marxismo e Filosofia de Linguagem)
Alguns comentários sobre o meio e a mensagem na internet.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O Rolezinho da Ditadura Global





Escrevendo para o Conselho do Atlântico, um insider de destaque sediado em Washington DC, Harlan K. Ullman, adverte que uma “crise extraordinária” é necessária para preservar a “Nova Ordem Mundial”, que está sob ameaça de ser descarrilado por atores não-estatais, como Edward Snowden.


O Conselho do Atlântico é considerado uma organização altamente influente com laços estreitos com os principais decisores políticos em todo o mundo. É liderado pelo general Brent Scowcroft, ex-Conselheiro de Segurança Nacional sob Presidentes dos EUA, Gerald Ford e George HW Bush. Snowcroft também aconselha o presidente Barack Obama.



Harlan K. Ullman

Harlan K. Ullman foi o principal autor da doutrina “choque e pavor” e é agora presidente do Grupo Killowen que assessora os líderes do governo.

Em um artigo intitulado “Guerra ao Terror não é a Única Ameaça” (orig. War on Terror Is not the Only Threat), Ullman afirma que, “mudanças tectônicas estão reformulando o sistema de geo-estratégica internacional”, argumentando que não são as superpotências militares, como a China, mas "atores não estatais", como Edward Snowden, Bradley Manning e hackers anônimos que representam a maior ameaça para os “365 anos de idade do sistema de Westfália”, porque eles estão incentivando as pessoas a se tornarem auto-capacitadas e com desejo de eviscerar o controle do Estado.

“Muito poucos tomaram nota e menos ainda tem sido feito sobre essa realização”, diz Ullman, lamentando que “revolução da informação e comunicações globais instantâneas” estão frustrando a “nova ordem mundial" anunciada pelo presidente dos EUA, George HW Bush mais de duas décadas atrás.



Brent Scowcroft

“Sem uma crise extraordinária, é pouco provável que seja feito algo para reverter ou limitar, os danos impostos pelo questionamento sobre se governo falhou ou não, escreve Ullman, o que implica que apenas um outro cataclismo como 9/11 permitirá ao estado, re-afirmar o seu domínio enquanto “contém, reduz e elimina os perigos representados por atores não-estatais recém-capacitados”.

Ullman conclui que a eliminação de agentes não estatais e indivíduos capacitados “deve ser feito”, a fim de preservar a nova ordem mundial. Um resumo de seu material sugere que a definição do Conselho do Atlântico de uma “nova ordem mundial” é uma tecnocracia mundial gerida por uma fusão de grande governo e um grande negócio em que a individualidade é substituída por uma singularidade trans-humanista.

A retórica de Ullman soa um tanto semelhante ao defendido pelo participante da Comissão Trilateral e co-fundador e participante regular do grupo Bilderberg, Zbigniew Brzezinski, que em 2010 disse em uma reunião do Conselho de Relações Exteriores que um “despertar político global”, em combinação com a luta interna entre a elite, estava ameaçando descarrilar a transição para um governo mundial.
A chamada implícita de Ullman para uma “Crise Extraordinária” necessária em revigorar o suporte para o poder do Estado grande de governo, tem tons misteriosos do Projeto para um novo século americano de 1997 (orig. Project For a New American Century’s), onde lamentam que “na ausência de algum evento catastrófico catalisador - como um novo Pearl Harbor”, uma expansão do militarismo dos EUA teria sido impossível.



Patrick Clawson

Em 2012, Patrick Clawson, membro da influente insider do pró-Israel Institute for Near East Policy (WINEP),também sugeriu que os Estados Unidos devem lançar uma provocação encenada para começar uma guerra com o Irã.

A preocupação de Ullman sobre as instituições do Estado de que tenham falhado e vêem a sua influência erodida por pessoas capacitadas, principalmente através da Internet, é mais um sinal de que a elite está em pânico sobre o “despertar político global” que expressou-se, mais recentemente, através das ações de pessoas como Edward Snowden, Julian Assange e Bradley Manning além de sua crescente legião de apoiadores.


[*] Paul Joseph Watson é o editor e articulista de Infowars.com e Prison Planet.com. É autor de Order Out Of Chãos e também é host de Infowars Nightly News.
Siga Paul Joseph Watson: https://twitter.com/PrisonPlanet


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Heloisa Villela: “Lobista americano morreu”




Eufemismo até no lobby

por Heloísa Villela, no Brasil Econômico, no Informe New York, sugerido por Franco Atirador

O título do e-mail me deixou os olhos arregalados.

O remetente era uma organização respeitada, que produz informações confiáveis.

Mas as palavras estavam lá, taxativas: “o lobista morreu”.

Não um lobista em particular. Mas a “profissão” em si.

Portanto, TODOS os lobistas.

Era uma notícia bombástica demais para ser verdadeira.

Afinal, são eles, os lobistas e o dinheiro que investem, em nome de seus clientes, nas campanhas eleitorais americanas que dominam a política do país. Abri o e-mail imediatamente.

Um texto inteligente e bem-humorado recordou um pouco da longa vida do “lobista” morto. Ele tinha já seus 150 anos e, coitado, sempre foi vítima de piadinhas, acusações e abusos verbais.

Mas entrou no século XXI com tudo! O governo passou por uma bela expansão e, com o país metido em duas guerras, não faltava trabalho. Em 2010, os lobistas faturaram, apenas em Washington, US$ 3,55 bilhões. Porém, essa fama de distorcer o sistema político, influenciar as decisões em Washington, trabalhar com dinheiro, por dinheiro e somente pelo dinheiro estava pesando. Foi então que surgiu a solução. Neste ano, os profissionais do ramo não se reuniram, como costumam fazer em todo fim de ano, em uma convenção nacional de lobistas. Eles participaram do encontro anual da “Associação de Profissionais de Relações com Governos”.

Piadinha boa do e-mail.

Me fez pensar nos eufemismos que deslizam do discurso do governo com a intenção de deitar raízes no vocabulário popular e assim produzir aceitação de práticas deploráveis, despertar simpatia por causas injustas e outras gracinhas.

As palavras têm o poder de atiçar imagens na mente de quem as ouve ou as pronuncia.

Cuidar minuciosamente do discurso, como faz a Casa Branca, tem justamente esta intenção: produzir a imagem desejada na mente da população.

Daí o “dano colateral” (collateral damage) no lugar de “civis mortos” ou “morte de inocentes”, que remete imediatamente a crianças dilaceradas, baleadas ou atingidas por bombas e mísseis.

Em uma prova de desfaçatez incalculável, o governo americano também adotou a expressão “técnica de interrogatório acentuada” ao se referir de forma genérica à tortura.

A “Guerra contra o Terror” de George W. Bush deu lugar às “Operações de Contingência no Exterior” de Barack Obama.

Não existe guerra. Ao menos para os americanos já que mais e mais são aviões controlados por controle remoto, do conforto das instalações americanas na Virgínia ou em outros estados, que lançam mísseis e eliminam terroristas, com ou sem a produção de “danos colaterais”.

Obama, ao contrário de Bush, preferiu matar os suspeitos do que prendê-los.

Guantânamo se tornou uma vergonha e um abacaxi.

Os presos que mofam lá há mais de uma década, para Obama, estão em uma situação de “detenção prolongada”, não mais presos por tempo indeterminado, sem direito a julgamento.

Em um ensaio publicado em 1946, o escritor e jornalista britânico George Orwell explicou com clareza do que se trata toda essa neblina verbal.

Ele disse que o objetivo dessa linguagem política obscura é “fazer com que mentiras soem verdadeiras e o assassinato respeitável”.

Ou, como disse o também britânico Quentim Crip, todo eufemismo “é uma verdade desagradável com perfume diplomático”.

Os Estados Unidos não inventaram essa brincadeira.

A Alemanha nazista foi mestra no uso dos eufemismos.

Basta lembrar do primeiro grande ataque aos judeus na Áustria e na Alemanha, em novembro de 1938, que resultou na morte de 96 judeus e no envio de outros 30 mil para os campos de concentração.

Ainda hoje, a data, considerada o início do Holocausto, mantém o nome que ganhou na época:

“A Noite de Cristal”, como se apenas alguns vidros tivessem sido quebrados.

Reinhard Neydrich, cabeça do escritório de segurança do Reich, se preocupou especificamente com o problema da disseminação de informações durante o nazismo.

Não queria que soldados e oficiais que voltavam do Leste falassem das atrocidades testemunhadas por lá.

Vários eufemismos foram adotados para substituir a realidade nua e crua dos campos de concentração.

As câmaras de gás se chamavam “casas de banho”.

“Reassentamento” nada mais era do que o assassinato de judeus.

“Liberar uma área”, torná-la livre de judeus, significava matar todos os judeus daquela região.



A lista é longa…

Mas os Estados Unidos entenderam rapidamente a importância de tomar as rédeas do vocabulário como forma de mobilizar a população ou tornar a realidade mais palatável.

Já no fim da Segunda Guerra Mundial, Tio Sam fez um ajuste importante. Transformou o Departamento da Guerra em Departamento de Defesa.

A nascente superpotência não agride.

Somente se defende e abraça a causa dos direitos humanos pelo mundo afora.

Daí, no afã de proteger mais alguns milhares, os Estados Unidos, com o apoio da ONU, bombardearam a Iugoslávia em 1999.

Como disse o professor de história da Universidade da Califórnia Perry Anderson, em “American Foreign Policy and Its Thinkers” (Política Externa Americana e seus Pensadores), “foi a primeira vez que um bombardeio aéreo foi declarado uma intervenção humanitária”.

Belgrado ainda tem prédios destruídos pela agressão.

Eles foram intencionalmente preservados, aos pedaços, como lembrança.

Mais recentemente, foi a vez da Líbia de Muammar Kadaffi.

Em 2011, o “esforço humanitário” americano veio dos céus novamente.

Mas nunca foi tratado, pela Casa Branca, como um bombardeio.

Não houve “hostilidade”, explicou o governo, porque os soldados americanos nem pisaram em solo estrangeiro.

Houve apenas uma “ação militar cinética”.




Como é que é?

Segundo o Dicionário Aurélio, cinético é o que produz movimento. Então está explicado.

Foi bastante “cinética” a participação dos Estados Unidos em toda a América Central e na nossa América do Sul.

Provocou mesmo um bocado de movimento.

E levou tempo… Em alguns casos, mais de 20 anos para reencontrar o rumo que a movimentação toda provocada pelo grande vizinho do Norte provocou nas nossas bandas derrubando governos democráticos e garantindo a permanência de ditaduras ao longo de quase toda a região ao Sul da Flórida.