Um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou social ) como todo o corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo; mas, ao contrário destes, ele também reflete e retrata uma realidade, que lhe é exterior. Tudo o que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo o que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia
(Mikhail Bakhtin, Marxismo e Filosofia de Linguagem)
Alguns comentários sobre o meio e a mensagem na internet.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Abelhas - Ameaça à Biodiversidade e Extinção de Espécies pelo Capital Selvagem




Fabricantes de pesticidas gastam milhões para ocultar desaparecimento de abelhas




Dois neonicotinoides amplamente usados na fabricação de pesticidas parecem prejudicar seriamente as colônias de abelhas, segundo um estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard. Em abril de 2015, a revista Science publicou dois estudos adicionais que corroboram as descobertas de Harvard sobre neonicotinoides utilizados no tratamento de sementes para mais de 140 cultivos. Estes pesticidas sistêmicos fabricados pela Bayer, Syngenta e Monsanto são absorvidos pelas raízes e folhas e distribuídos através de toda a planta, incluindo seu pólen e néctar.

A reportagem é publicada por Mapocho Press, 01-11-2015. A tradução é de André Langer.

Para os polinizadores, a exposição de baixo nível pode levar a efeitos subletais, como alteração de aprendizagem, deficiência na busca de alimentos e imunosupressão; a exposição a níveis superiores pode ser letal.

Em resposta à evidência científica deste tipo, as três principais empresas produtoras de pesticidas –Bayer, Syngenta e Monsanto – participam de campanhas massivas de relações públicas, efetuadas a um custo que ultrapassa os 100 milhões de dólares e empregando táticas similares àquelas utilizadas durante décadas pelas grandes fumageiras para negar os efeitos perniciosos na saúde pública.

Como informara Michele Simon em um estudo da Friends of the Earth (Amigos da Terra), estas táticas incluem a criação de distrações para culpar qualquer coisa, menos os inseticidas, pelos colapsos documentados nas populações de abelhas, incluindo, por exemplo, acusações contra os agricultores por suposto mau uso dos pesticidas. Estas empresas também atacam os cientistas e jornalistas para desacreditar suas conclusões.

Ao mesmo tempo, Bayer, Syngenta e Monsanto tentam comprar credibilidade mediante o cultivo de alianças e associações estratégicas com agricultores, apicultores e organizações agrícolas com a esperança de se representarem como “amigos das abelhas”. Assim, por exemplo, a Monsanto anunciou a formação de um Conselho Assessor da Abelha Melífera, uma aliança estratégica de executivos da Monsanto e outros. A Associação Britânica de Apicultores recebeu um importante financiamento da Bayer, Syngenta e outras empresas de inseticidas. Em troca, os inseticidas foram aprovados como “amistosos com as abelhas”.

Como relatou Rebeca Wilce para a PR Watch, “em vez de agir sobre um problema que ameaça a produção de alimentos em todo o mundo, as empresas de inseticidas pegaram uma página do manual de jogadas da indústria do tabaco para aumentar de maneira gradual os esforços para semear dúvidas sobre a magnitude do problema e sobre o seu próprio potencial papel na crise”. Na contramão, assinalou Wilce, a União Europeia colocou em prática uma proibição de dois anos para o uso dos três neonicotinoides mais comuns: imidacloprid, clotianidina e tiametoxam.

Escrevendo para a Wired, em junho de 2014, Brandom Keim informou sobre outro estudo da Friends of the Earth que mostra as floriculturas de grandes lojas da América do Norte, incluindo Home Depot, Lowe e Walmart, vendendo plantas com propaganda de ‘ostensivamente amigáveis com as abelhas’, mas que, na verdade, contêm altos níveis de neonicotinoides. O estudo descobriu que 36 de 71 (51%) amostras de plantas de jardim compradas nas principais floriculturas de 18 cidades dos Estados Unidos e Canadá continham pesticidas neonicotinoides. 40% das amostras positivas continham dois ou mais tipos de neonicotinoides. “Infelizmente”, escreveram os autores do relatório, “os jardineiros residenciais não têm ideia de que na realidade podem estar envenenando os polinizadores através de seus esforços para plantar jardins amistosos com as abelhas”.

Embora os principais meios de notícias, por exemplo, o New York Times, o Washington Post e aNational Public Radio publicaram dois anúncios de capa com marca Nature sobre os efeitos negativos dos neonicotinoides nas abelhas, mas não informaram sobre as campanhas de relações públicas da Bayer, Syngenta e Monsanto, que têm como objetivo minar as conclusões dos estudos científicos e desviar a culpa dos pesticidas.

Do mesmo modo, esses meios de imprensa cobriram o anúncio da Lowes de que já não venderá mais produtos que contenham neonicotinoides, mas não informaram que as plantas “amistosas com as abelhas” vendidas nas floriculturas nos Estados Unidos na realidade podem estar enganando os clientes bem intencionados e expondo os polinizadores aos neonicotinoides em seus próprios jardins familiares.


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Discurso de Putin nas Nações Unidas - O Urso Desperto




Uma lição aos americanos. Discurso de Putin na ONU

(...), "Senhoras e senhores.

O 70º aniversário da ONU é boa ocasião para considerar a história e falar de nosso futuro comum.

Em 1945, os países que derrotaram o nazismo reuniram esforços para lançar fundações sólidas para a ordem mundial do pós-guerra. Permitam-me lembrar-lhes que as decisões chaves sobre os princípios que guiaram a cooperação entre estados e o estabelecimento da ONU foram tomadas em nosso país – em Yalta, na Crimeia – onde se reuniram os líderes da coalizão anti-Hitler.

O "sistema de Yalta" nasceu de fato em ação. Nasceu ao custo de dez milhões de vidas e de duas guerras mundiais que varreram o planeta no século 20. Sejamos justos – o sistema de Yalta ajudou a humanidade a atravessar eventos turbulentos, muitas vezes dramáticos, das últimas sete décadas. E salvou o mundo de levantes em grande escala.

A ONU é única em sua legitimidade, representação e universalidade. É verdade que, em tempos recentes, a ONU tem sido amplamente criticada por supostamente não ser suficientemente eficiente e pelo fato de que a tomada de decisão em questões fundamentais resulta paralisada por diferenças insuperáveis – em primeiro lugar entre os membros do Conselho de Segurança.

Mas gostaria de lembrar que sempre houve diferenças na ONU ao longo desses 70 anos. O direito de vetar sempre foi exercido pelos EUA, pelo Reino Unido, pela França, pela China, pela União Soviética e pela Rússia em pés de igualdade.

É absolutamente normal que seja assim, numa organização representativa e tão diversa. Quando a ONU foi constituída, os fundadores de modo algum supuseram que sempre haveria unanimidade. De fato, a missão da ONU é buscar e alcançar consensos, sempre, claro, com concessões. A força da ONU advém de levar em consideração diferentes visadas e opiniões.

Decisões debatidas na ONU podem ser convertidas em Resolução, ou não. Como dizem os diplomatas, elas "passam ou não passam". E todas e quaisquer ações que um estado empreenda sem considerar esses procedimentos são ações ilegítimas, colidem com a Carta da ONU e desafiam a lei internacional.

Todos sabemos que, depois do fim da Guerra Fria, emergiu no mundo um centro de dominação. E então, os que se viram naquele momento no topo da pirâmide foram tentados a crer que, "se somos tão fortes e excepcionais, então sabemos mais e melhor o que fazer, que o resto do mundo; assim sendo, por que, afinal, teríamos de reconhecer a ONU, a qual, em vez de automaticamente autorizar e legitimar decisões que pareçam necessárias, tantas vezes cria obstáculos ou, em outras palavras "mete-se no caminho?".

Já se tornou lugar comum dizer que, no formato original, a organização tornou-se obsoleta e já teria cumprido sua missão histórica.

Claro, o mundo está mudando, e a ONU tem de ser consistente com essa transformação natural. A Rússia está pronta a trabalhar com todos os parceiros, à base de consenso amplo, mas consideramos extremamente perigosas as tentativas para solapar a autoridade e a legitimidade da ONU. Podem levar ao colapso de toda a arquitetura das relações internacionais. Aí, não nos restariam outras leis, se não a lei do mais forte.

Poderíamos chegar a um mundo dominado pelo egoísmo, não pelo trabalho coletivo. Um mundo cada vez mais caracterizado pela violência, não pela igualdade e por democracia e liberdade genuínas. Um mundo no qual estados verdadeiramente independentes seriam substituídos por número crescente de protetorados de fato e territórios controlados de fora para dentro.

O que é, afinal, a soberania do Estado? A soberania tem a ver, basicamente, com liberdade e com o direito de cada pessoa, nação ou estado escolher livremente o próprio futuro.

Na mesma direção, caminha a chamada "legitimidade da autoridade do Estado". Não se deve brincar com elas, nem manipular as palavras. Na lei internacional, nos negócios internacionais, cada termo deve ser claro, transparente, interpretado por critério uniformemente compreendido por todos.

Todos somos diferentes. E todos devemos respeitar as diferenças. Ninguém tem de encaixar-se num único modelo de desenvolvimento que outro, em algum momento, tenha decidido, de uma vez por todas, e para todos, que seria o único modelo correto.

Todos devemos lembrar o que nosso passado nos ensinou. Também recordamos alguns episódios da história da União Soviética. “Experimentos sociais" para exportação, tentativas de impor mudanças dentro de outros países baseadas em preferências ideológicas, quase sempre levaram a consequências trágicas e à degradação, não ao progresso.

Parece, contudo, que longe de aprender com os erros dos outros, tantos agora se põem, exatamente, a repeti-los. Por isso, continua a exportação de revoluções, agora chamadas "democráticas".

Para ver que assim é, basta examinar a situação no Oriente Médio e Norte da África. Claro que naquela região os problemas sociais já se acumulavam há longo tempo. Claro que as pessoas queriam mudanças.

Mas no que realmente deu tudo aquilo? Em vez de promover reformas, uma interferência estrangeira agressiva resultou na visível destruição de instituições nacionais e, até, de estilos de vida. Em vez de algum triunfo da democracia e de mais progresso, o que obtivemos foi mais violência, mais miséria e um desastre social. E ninguém dá qualquer atenção a qualquer dos direitos humanos, inclusive ao direito de viver.



Não posso me impedir de perguntar aos que causaram essa situação: Os senhores dão-se conta do que fizeram? Mas temo que ninguém responderá minha pergunta. Na verdade, nunca foram abandonadas as sempre mesmas políticas baseadas na arrogância, na cega confiança na própria "excepcionalidade" e 'correspondente' total impunidade.

Já é agora óbvio que o vácuo de poder criado em alguns países do Oriente Médio e Norte da África levou à emergência de áreas de anarquia. As quais, imediatamente, passaram a encher-se de extremistas e terroristas. Dezenas de milhares de militantes combatem hoje sob os estandartes do chamado "Estado Islâmico". Naquelas fileiras há ex-soldados iraquianos desmobilizados e jogados à rua depois da invasão do Iraque em 2003. Muitos dos recrutados também vêm da Líbia – país onde o próprio Estado foi destruído, na sequência de grosseira violação da Resolução nº 1.973 do Conselho de Segurança da ONU.

E agora as fileiras dos radicais são inchadas por membros de uma chamada "oposição síria moderada", sustentada, mantida, por países ocidentais. Primeiro, os radicais são armados e treinados; imediatamente depois, desertam e unem-se ao Estado Islâmico.

Mas o próprio Estado Islâmico, ele tampouco surgiu do nada, de lugar algum. O Estado Islâmico foi forjado inicialmente como ferramenta a empregar contra regimes seculares indesejáveis. Em seguida, depois de ter estabelecido uma base no Iraque e na Síria, o Estado Islâmico pôs-se a se expandir ativamente para outras regiões. Agora, busca dominar o mundo islâmico. E tem planos para avançar ainda além disso.

A situação é mais do que perigosa. Nessas circunstâncias, é atitude hipócrita e irresponsável pôr-se a fazer 'declarações' sobre a "ameaça do terrorismo internacional", ao mesmo tempo em que os mesmos 'declarantes' fingem que não veem os canais por onde caminha o dinheiro que financia e mantém terroristas, inclusive o tráfico de drogas e o comércio ilícito de petróleo e de armas. Também é igualmente irresponsável tentar 'manobrar' grupos extremistas e pô-los a seu próprio serviço para que 'colaborem' na busca de objetivos políticos só dos supostos 'manobradores', na esperança de "negociar com eles" ou, dito de outro modo, sob a certeza de que, "depois", poderão matá-los facilmente.

Aos que têm procedido assim, gostaria de dizer: "Caros senhores, não duvidem: os senhores estão lidando com gente dura e cruel, mas não são pessoas 'primitivas' ou 'atrasadas'. São exata e precisamente tão espertos quanto os senhores. Na relação com eles, ninguém jamais saberá quem manipula quem. Perfeita prova disso está nos dados recentes sobre destino final do armamento doado àquela oposição suposta "moderada".

Os russos acreditamos que qualquer tentativa de 'jogar' ou 'brincar' com terroristas – e de armar terroristas, então, nem fala! – não é só comportamento de pessoas sem visão, mas é criar pontos de alto risco de fogo, do tipo que iniciam grandes incêndios. É comportamento que pode resultar em aumento dramático na ameaça terrorista, e que se alastre para outras regiões – dado, especialmente, que o Estado Islâmico reúne em seus campos de treinamento militantes de muitos países, inclusive de países europeus.

Infelizmente, a Rússia não é exceção. Nós não podemos deixar que esses criminosos que já provaram o cheiro de sangue voltem aos seus países, para continuar suas práticas assassinas. Ninguém quer que tal coisa aconteça, suponho.

A Rússia sempre se opôs firme e consistentemente, sempre, contra o terrorismo em todas as suas formas. Hoje, damos assistência militar e técnica ao Iraque e à Síria, que enfrentam grupos terroristas.

Entendemos que é erro enorme e grave recusar-se a cooperar com o governo sírio e suas forças armadas, que valentemente lutam cara a cara contra o terrorismo. É mais que hora de reconhecer afinal que ninguém, além das forças armadas do presidente Assad e das milícias curdas estão dando real combate ao Estado Islâmico e a outras organizações terroristas na Síria.

Caros colegas, devo notar que a abordagem direta e honesta da Rússia foi recentemente usada como pretexto para nos acusar de estarmos alimentando ambições crescentes (como se os que nos acusam fossem libertos de todas as ambições...).

Mas a questão não são as ambições russas. A questão é reconhecer o fato de que já ninguém pode continuar a tolerar o atual estado de coisas no mundo.

Na essência, estamos sugerindo que nos façamos guiar por valores comuns e interesses comuns, não por ambições. Temos de unir esforços, considerando a lei internacional, para enfrentar os problemas que estão diante de todos nós, e criar uma coalizão ampla e genuinamente internacional contra o terrorismo.

Semelhante à coalizão que se constituiu anti-Hitler, a nova coalizão dever unir gama ampla de forças que desejem resolutamente resistir contra os que, exatamente como os nazistas, semeiam o mal e o ódio contra a humanidade.

Evidentemente, os países muçulmanos têm papel chave a desempenhar na coalizão, tanto mais que o Estado Islâmico não é só ameaça contra a sobrevivência deles, mas, além disso, ativamente agride e ofende, com suas práticas sanguinárias, uma das maiores religiões do mundo. Os ideólogos daquela militância zombam do Islã e pervertem todos os valores verdadeiramente humanistas do Islã.

Gostaria de me dirigir aos líderes espirituais muçulmanos, porque sua autoridade e orientação são agora ainda mais profundamente importantes. É essencial impedir que jovens recrutados por militantes tomem as mais desgraçadas decisões sobre a própria vida. E também os que já se tenham envolvido, que já foram enganados e que, pelas mais diferentes circunstâncias da vida, vejam-se hoje vivendo entre terroristas, esses também precisam de ajuda, para que consigam voltar à trilha da vida normal, para que deponham as armas e ponham fim ao fratricídio.

A Rússia, como atual presidente do Conselho de Segurança, convocará em breve uma reunião ministerial para que se faça análise ampla das ameaças que cercam o Oriente Médio.

Em primeiro lugar, propomos que se discuta a possibilidade de construir uma Resolução que vise a coordenar as ações de todas as forças que já estão resistindo contra o Estado Islâmico e outras organizações terroristas. Mas uma vez: essa coordenação terá de basear-se nos princípios da Carta da ONU.

Esperamos que a comunidade internacional será capaz de desenvolver uma estratégia ampla de estabilização política e, também para a recuperação social e econômica do Oriente Médio. Isso feito, não será preciso criar novos campos para concentração de refugiados.

Hoje, o fluxo de pessoas forçadas a deixar a terra natal já literalmente inundou a Europa. Há centenas de milhares deles agora e não demorará para que sejam milhões. De fato, é grande e trágica migração de pessoas. E é dura lição para os europeus.

Quero destacar: refugiados precisam, sem dúvida, de nossa compaixão e apoio. Mas o único meio de resolver esse problema em nível mais fundamental é restaurar o Estado, em todos os pontos onde foi destruído; reforçar as instituições de governo onde elas ainda existam ou estejam sendo restabelecidas; prover ajuda ampla – militar, econômica e material – a países em situação difícil; e, com certeza, também aos que não abandonarão suas casas, não importa quais sejam os padecimentos.

Claro que qualquer assistência a estados soberanos pode e deve ser oferecida, nunca imposta; e única e exclusivamente de acordo com a Carta da ONU. Em outras palavras, tudo nesse campo está sendo ou será feito em obediência ao disposto na lei internacional e com o apoio de nossa organização universal. Tudo que infrinja disposições da Carta da ONU deve ser rejeitado.

Acima de tudo, creio que é de máxima importância ajudar a restaurar as instituições de governo na Líbia, apoiar o novo governo do Iraque e prover assistência ampla ao governo legítimo da Síria.

Colegas, garantir a paz e a estabilidade regionais e globais continuam a ser os objetivos chaves da comunidade internacional, com a ONU no comando.

Acreditamos que isso implica criar um espaço de segurança igual e indivisível, não para uns poucos seletos, mas para todos. Sim, é tarefa desafiadora, difícil e que exige tempo, mas simplesmente não há via alternativa.

Porém, o pensamento de bloco dos tempos da Guerra Fria e o desejo de explorar novas áreas geopolíticas ainda persistem em alguns de nossos colegas.

É de lastimar que alguns dos nossos colegas tenham, até aqui, escolhido outra via – a via de explorar predatoriamente novos espaços geopolíticos.

Primeiro, continuaram sua política de expandir a OTAN e sua infraestrutura militar. Depois, ofereceram aos países pós-soviéticos uma escolha falsa: pôr-se ao lado do ocidente ou ao lado do oriente.

Essa lógica de confrontação está fadada, mais cedo ou mais tarde, a desencadear uma grave crise geopolítica. É precisamente o que foi feito na Ucrânia, onde o descontentamento da população com as autoridades foi usado, e se orquestrou um golpe militar de fora para dentro do país; e esse golpe disparou uma guerra civil.

Temos certeza de que só mediante a plena e fiel implementação dos Acordos de Minsk de 12/2/2015 poderemos pôr fim ao banho de sangue na Ucrânia e encontrar saída para aquele impasse.

A integridade territorial da Ucrânia não pode ser assegurada por tratados e sob armas. Indispensável ali é consideração genuína pelos interesses e direitos do povo na região do Donbass e respeito pelo que escolherem. É preciso coordenar com eles, como fazem os Acordos de Minsk, os elementos chaves da política do país.

Esses passos garantirão que a Ucrânia desenvolverá um estado civilizado, como elo essencial na construção de um espaço comum de segurança e cooperação econômica ao mesmo tempo na Europa e na Eurásia.

Senhoras e senhores, falei propositadamente de espaço comum de cooperação econômica. Não há muito tempo, parecia que na esfera econômica, com suas objetivas leis de mercado, aprenderíamos a viver sem linhas divisórias. Que construiríamos regras transparentes e de comum acordo, que incluiriam os princípios da Organização Mundial de Comércio, que estipulam a liberdade de comércio e investimento e a livre concorrência.

Mas hoje já é quase lugar comum impor sanções unilaterais que burlam o que determina a Carta da ONU. Além de perseguir objetivos políticos, essas sanções são visível manobra mal-intencionada, para eliminar concorrentes comerciais.

Quero apontar ainda mais um sinal de crescente "autismo econômico". Alguns países escolheram criar associações econômicas como clubes fechados e "exclusivos", cuja fundação está sendo negociada na clandestinidade, ocultada até dos próprios cidadãos daqueles países, do público em geral e da comunidade empresarial.

Outros estados, cujos interesses podem vir a ser afetados não são informados, tampouco, de coisa alguma. Parece que estamos a um passo de ser confrontados com um fato consumado, de que as regras do jogo foram mudadas a favor de um poucos privilegiados, sem que a OMC tenha sido jamais ouvida. Assim se desequilibra completamente o sistema comercial e desintegra-se o espaço econômico global.

Essas questões afetam os interesses de todos os estados e influenciam o futuro de toda a economia mundial. Por isso, propomos que essas questões sejam discutidas dentro da ONU, dentro da OMC e dentro do G-20.

Ao contrário da política de "exclusividade", a Rússia propõe harmonizar os projetos econômicos regionais. Refiro-me à chamada "integração de integrações", baseada em regras universais e transparentes do comércio internacional.

À guisa de exemplo, quero citar nossos planos para interconectar a "União Econômica Eurasiana" e a iniciativa da China, do "Cinturão Econômico da Rota da Seda". Ainda acreditamos que harmonizar os processos de integração dentro da União Econômica Eurasiana e a União Europeia é movimento altamente promissor.

Senhoras e senhores, as questões que afetam o futuro de todos os povos incluem o desafio da mudança do clima global.

É do nosso interesse fazer da Conferência da ONU sobre Mudança Climática, em dezembro, em Paris, um sucesso. Como parte de nossa contribuição nacional, temos planos para reduzir para 70-75% a emissão dos gases de efeito estufa, até 2030, de volta aos níveis de 1990.

Mas sugiro que tomemos, sobre essa questão, visada muito mais ampla. Sim, podemos aplacar as dificuldades, por algum tempo, definindo quotas de emissões venenosas, ou tomando outras medidas que, contudo, são medidas apenas táticas. Mas, por esse caminho, nada resolveremos.

Precisamos de abordagem completamente diferente. Temos de nos focar em, fundamentalmente, introduzir novas tecnologias inspiradas pela natureza e que não causarão dano ao meio ambiente, e conviverão em harmonia com ele. Além disso, elas restaurarão o equilíbrio entre a biosfera e tecnofera, alterado pelas atividades humanas.

É desafio, realmente, de escopo planetário. Mas tenho confiança de que a humanidade tem potencial intelectual para enfrentá-lo.

Temos de unir esforços. Refiro-me, em primeiro lugar, aos estados que têm sólida base de pesquisas e que têm obtido avanços significativos em ciência fundamental.

Propomos organizar um fórum especial, sob os auspícios da ONU, para discussão ampla das questões relacionadas ao esgotamento de recursos naturais não renováveis, à destruição do meio ambiente e à mudança climática. A Rússia está pronta para copatrocinar esse fórum.

Senhoras e senhores, foi em Londres, dia 10/1/1946, que a Assembleia Geral da ONU reuniu-se para sua primeira sessão. Zuleta Angel, diplomata colombiano, e presidente da Comissão Preparatória, abriu a sessão oferecendo, entendo eu, uma definição concisa dos princípios básicos que a ONU deveria seguir em suas atividades: defender o livre arbítrio, desafiar os conluios e trapaças e preservar o espírito de cooperação.

Hoje, essas palavras ainda soam como orientação para todos nós.

A Rússia acredita no enorme potencial da ONU, de dever ajudar-nos e evitar uma confrontação global e a nos engajar em franca cooperação estratégica. Juntos com outros países, trabalharemos empenhadamente para fortalecer o papel da ONU, de coordenação central.

Confio que, trabalhando juntos, conseguiremos fazer do mundo lugar pacífico e seguro, e asseguraremos condições propícias para o desenvolvimento de estados e nações.

Obrigado."


sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Nilson Lage - De Maidan com Ódio em Tempos de Fúria.





Texto: Nilson Lage - Professor Titular na UFSC e Professor da UFRJ

O golpe em curso no Brasil ocorre em várias frentes, protegido por uma estrutura legal que fragiliza o Estado e acionado com o apoio direito e indireto de várias instituições. Internamente, os operadores atuam sob cobertura diplomática e de acordos internacionais: via ongs, fundações de aparência beneficente e organizações acadêmicas de atuação ambígua. Contam com a colaboração de gerentes e intermediários em negócios com comando multinacional.

Diretamente, o apoio provém do oligopólio de mídia, que depende de financiamento e publicidade coordenados por hubs politicamente comprometidos e está orquestrado, do ponto de vista editorial, com o congêneres em toda a América Latina, desde o tempo da guerra fria; e de organizações, empresarias ou não, incorporadas aos "centros frouxos" que controlam as finanças globais.

Indiretamente, a sustentação é dada pelas oligarquias formadas com base em antigas estruturas de exportação de produtos primários (e cuja ideologia aparece esporadicamente nos empreendimentos agropecuários modernos); pelas corporações de ofício controladas por grupos enriquecidos (advogados, médicos); e por forças políticas alijadas do poder e que o ambicionam.

A instrumentação compreende dos antigos "institutos de pesquisa" (o Millenium, que reproduz o IPES), modernas unidades ativistas inspiradas formadas por pessoas jovens (oriundas de associações locais de marginais urbanos, academias de fisicultura, formações paramilitares etc.) que reproduzem, pelos métodos,e organização celular e técnicas utilizadas no movimento nazista.



A retórica se apoia no Princípio da Simplificação e do Inimigo Único (Domenach, 1958), em que se massifica (Princípio da Repetição e da Orquestração, idem) uma só versão dos fatos e se nomeiam ideologias a combater vagamente definidas (o sionismo, o terrorismo, o bolivarianismo, o lulopetismo) e pessoas que as incorporam (Hitler, Stalin, Saddam, Gadaffi, Getúlio, Lula).

O controle de opinião pública - motor do desenvolvimento de estudos de ponta em comunicação, psicologia .social e sociologia - vem sendo desenvolvido há décadas em instituições universitárias com grandes recursos financeiros e humanos (sobre isso escrevi um livro, há cerca de vinte anos).

Surge agora, com base nas experiências de campo feitas no Oriente Médio e Europa Central desde a implosão a Iugoslávia ("Primavera Árabe", "Operação Laranja", "Euromaidan" etc.), literatura crítica sobre os resultados. É o caso do texto citado.



http://www.academia.edu/9695687/Who_Were_the_Protesters_EuroMaidan_findings_are_based_on_only_multi-day_original_survey_of_the_protesting_population_


quinta-feira, 11 de junho de 2015

O Intervalo Mortal entre a Decadência e a Revolução

O jornalista Chris Hedges (prêmio Pulitzer) defende que vivemos o auge de uma crise humanitária sem precedentes.



Numa entrevista publicada no Salon, a propósito do lançamento do seu novo livro Wages of Rebellion: The Moral Imperative of Revolt, o jornalista Chris Hedges (prêmio Pulitzer) afirma que vivemos num período de incubação, um interregnum prévio ao eclodir da revolução, tal como Antonio Gramsci o havia descrito nos Cadernos do Cárcere a propósito do conceito de crise orgânica: a crise consiste precisamente no fato do antigo estar a morrer e do novo ainda não poder nascer; neste interregno uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem.

É a partir da definição de situação revolucionária (Lênin) que Gramsci situa este interregno, uma suspensão das funções democráticas de governação, onde os governantes já não conseguem governar e os governados não pretendem continuar a a ser governados. Mas é também neste impasse que os Estados tendem a impor o estado de exceção como paradigma de governo e regra dominante na política contemporânea, desde a 1ª Guerra (Giorgio Agamben), dificultando assim, através do exercício sistemático da violência, o surgimento de plataformas favoráveis à democracia radical, à luta antiglobalização ou aos movimentos anticapitalistas.

Na história mais recente do estado de exceção, o efeito panóptico do controle foi ampliado pela cibernética, o infame Patriot Act – iniciativa de George Bush após o 9/11- teve consequências sobejamente conhecidas na escalada da vigilância e controlo dos diversos movimentos sociais. Dada a situação de fim parcial de validade legal desta medida, o congresso americano poderá ainda mantê-la ou suspender os seus atos, nomeadamente desligar os sistemas de vigilância massivos da NSA, é isso que exigem os movimentos que defendem a liberdade de expressão e o direito à privacidade.

Na entrevista e num outro texto intitulado Our Invisible Revolution, Chris Hedges menciona o anarquista Alexander Berkman, para se referir à ideia de “ponto de ebulição” revolucionário. No ensaio The Idea is the Thing, Berkman coloca uma questão inicial que é ainda aquela que nos colocamos um século depois: já alguma vez se perguntaram como é que acontece que estes governos e o capitalismo continuem a existir apesar de toda miséria e problemas causados no mundo?

Apesar dos muitos (os 99%) terem consciência deste paradoxo, também sabemos que não existem fórmulas mágicas ou soluções prontas a usar. Neste sentido, Berkman diz que a revolução é o clímax de uma trajetória evolutiva, a revolução é pois o ponto de ebulição da evolução, e as condições econômicas e políticas o fogo que aquece mais, ou menos, o caldeirão social. De acordo com esta lógica, a Grécia teria atingido já o limiar da ebulição, sendo o Syriza o motor da revolução contra as políticas neoliberais e austeritárias em solo europeu.

Contudo, não se trata apenas de mecânica clássica dos fluidos, há mais variáveis na equação, segundo Berkman: as pressões vindas de cima (opressão política e económica); as pressões vindas de baixo (emancipação, ativismo e pensamento crítico); a disseminação e debate de ideias críticas que facilitem a emergência de subjetividades rebeldes (esclarecimento).

A causalidade necessária entre a preparação individual e coletiva, e a efetiva emergência de um movimento revolucionário organizado é um dos principais fatores de uma transformação social e política bem sucedidas. No caso da revolução Russa de 1917, Berkman só a reconhece como caso de sucesso até o ponto em que a falta de esclarecimento das massas acerca dos fundamentos políticos redundou na imposição da ditadura após a morte de Lênin.

Na atualidade, também se tornou evidente que os movimentos dos Indignados da Espanha, a partir do 15-M (15 Maio, 2011), precisaram de tempo para reforçar a construção de um programa político e a organização da ação, até ao momento em que eclodiram como movimento político Podemos e iniciaram a mudança política na Espanha. Também os Occupynecessitam de ter em conta essa “diferença de potencial” entre a difusão e o enraizamento de uma cultura de crítica política e social, tal como Slavoj Zizek mencionou no Occupy Wall Street: "há um perigo: não se apaixonem por vocês mesmos. Passamos um tempo bom aqui. Mas lembrem-se, carnavais vêm fácil. O que importa é o que vem depois, quando retornarmos às nossas vidas normais".

Chris Hedges menciona essencialmente as circunstâncias atuais nos EUA. Lá, apesar das revoltas em torno das mortes de cidadãos afroamericanos e contra a violência policial, a cada 28 horas uma pessoa de cor é abatida pela polícia, pessoas que na maioria dos casos estão desarmadas. Isto é sintomático de um Estado ossificado em torno dos interesses das corporações, que já não se preocupa nem age a favor da sociedade civil. Atingido este ponto, afirma Chris Hedges, os mecanismos normais de reforma incremental das instituições sociais deixam de funcionar porque foram capturados por outros poderes exteriores ao Estado (corporações financeiras ou impérios de comunicação social, p.ex).

As frentes de luta são muitas e em diversas escalas, desde a globalização secreta dos mercados livres inscrita no atual Tratado Transatlântico às privatizações nacionais, passando pelas alterações climáticas, migrações forçadas e inumanas, a expansão do poder militar e da guerra, ou o reforço da violência contra os cidadãos, etc. É aliás na conjuntura desta frente de confronto, onde a violência e os recursos tecnológicos bélicos serão certamente usados em caso de levantamento popular, que os ativistas e movimentos sociais têm hoje de aliar-se aos hackers e ciberativistas. 

Miguel Caetano (investigador em Ciências da Comunicação), questiona, num post sobre a entrevista de Chris Hedges: como é possível vencer o aparelho militar-industrial dos EUA? Eu diria que sem intervenção de hackers é quase impossível. O resultado só poderá ser uma guerra civil sangrenta e, consequentemente, o regresso à barbárie... De qualquer forma, EUA e Espanha continuam a ser países com um elevado potencial "revolucionário", seja pela via pacífica ou não.... é que parece impossível que uma revolução ocorra em pleno século XXI sem ter em conta o plano da ciberguerra e dos ataques informáticos contra infraestruturas militares e de comunicações. De outro modo o número de vítimas tenderá a ser gigantesco, dada a capacidade de extermínio das armas dos dias de hoje.

Seja como for é preciso atenção redobrada neste interregnum, e ter em consideração que na derradeira carta ao comité revolucionário Lenin fez notar que a história não perdoará aos revolucionários procrastinadores...





quarta-feira, 25 de março de 2015

O Ser Alienado pela Internet


25/03/2015 - Copyleft

A nova fase da Sociedade do Espetáculo

O espetáculo é a fase extrema do processo de alienação, impondo uma redução da vida humana e social à simples aparência mediada pelas novas mídias.




Primeira definição: quem são os “coisa”. O poeta Carlos Drumond de Andrade diz o seguinte no poema Eu Etiqueta: com que inocência demito-me de ser / eu que antes era e não sabia / agora sou anúncio / ora vulgar ora bizarro / peço que meu nome retifiquem / já não me convém o título de homem / meu novo nome é coisa / eu sou a coisa, coisamente.

Este é um texto sobre a sociedade do espetáculo, a sociedade do consumo e das influências dos meios eletrônicos – televisão, internet, redes sociais – na mente das pessoas, escrito e inspirado na domingueira do ódio explícito do dia 15 de março, na semana que a Organização Mundial da Saúde realizou uma conferência na Suíça onde anunciou a existência de 47 milhões de idosos afetados por demência mental, número que poderá triplicar nos próximos anos – sempre é bom lembrar que 5% da população humana atualmente, ou seja, 350 milhões sofrem de depressão.

A influência da era digital no cotidiano do mundo globalizado não é uma questão de comunicação, é algo muito mais complexo. Várias pesquisas já apontam a dependência de jovens e adultos do ciberespaço. Nos Estados Unidos o índice varia de 13 a 18%, entre jovens na faixa dos 20 anos. No Brasil uma pesquisa de Jefferson Cabra Azevedo, da Universidade do Norte Fluminense realizada com 7.500 jovens do ensino secundário de Macaé apontou o índice de 13,08%. Porém, o problema envolve realmente mudanças nas articulações do cérebro provocadas pelo uso intensivo dos meios digitais. Como explica o pesquisador Jefferson Azevedo:

“-Vive-se na era da informação, de rápidas mudanças nas estruturas sociais e em suas relações, tornou-se evidente que as atuais tecnologias e suas aplicações possibilitam novos arranjos sociais e psíquicos, mudando paulatinamente o comportamento individual e coletivo. Esta nova tecnologia se entranha e se ramifica nas mais variadas concepções, tornando-nos dependentes, não apenas no sentido patalógico, mas, principalmente por permear nossas manifestações culturais, econômicas, sociais e psicológicas”.

Cérebro não é binário

O pesquisador norte-americano Nicholas Carr, autor do livro “A geração Superficial” explica que ao usarmos uma nova tecnologia não trocamos imediatamente de um modo mental para outro, porque o nosso cérebro não funciona como um sistema binário. Uma tecnologia intelectual, escreve, exerce sua influência deslocando a ênfase do nosso pensamento, padrões de atenção, cognição, memória. À medida que o cérebro se adapta à nova mídia, também desenvolve respostas que serão conhecidas somente em longo prazo. Deveríamos perguntar: o que ocorrerá com a forma como estamos lendo, escrevendo, pensando? Desde que os sumérios inventaram a escrita cuneiforme, possibilitando um maior controle sobre a economia, a humanidade deu vários saltos tecnológicos, criando novos símbolos e também novas concepções mentais. A linguagem e a fala são instrumentos que participaram do processo de cognição da espécie, entendida na forma de elaborar o conhecimento. Como explica Jefferson Azevedo, a história da linguagem é uma história da mente.

“- A internet e as redes sociais digitais utilizam-se de mecanismos que estimulam nosso aparato sensorial e cognitivo e, também, o sistema límbico, parte mais primitiva do cérebro, onde se originam sentimentos primários e instintivos, responsáveis pela autopreservação, como lutar ou fugir”.

Nova maneira de ler: pulando

Nicholas Carr argumenta que a internet descarrega o tipo de estímulo sensorial e cognitivo –repetitivos, intensivos, interativos e aditivos (viciantes) - que já foi demonstrado como provocadores de fortes e rápidas alterações dos circuitos e funções cerebrais. Por exemplo: como os usuários de internet leem? Simples, eles não leem. Eles permanecem 10 segundos numa página e já trocam. Carr cita uma pesquisa de uma empresa israelense que vende software para empresas interessadas em perfis de consumidores, realizada com um milhão de usuários em vários países. A maioria deles permanecia entre 19 e 27 segundo antes de trocar de página, e quando liam um artigo, no máximo duas páginas, e novamente trocavam. Trata-se de uma nova maneira de ler “por cima” e pulando. “estamos evoluindo de seres cultivadores de conhecimento pessoal para seres caçadores e coletores de dados eletrônicos”, define Nicholas Carr.

Tudo isso é muito interessante, mas na verdade é somente uma nova faceta do capitalismo, e como tal sempre tem os proprietários da tecnologia. No caso do Google, por exemplo, o criador Larry Page considera que o cérebro humano e o computador funcionam da mesma maneira. Não custa lembrar, como esclarece Fritjof Capra em A Teia da Vida que nós pensamos com emoções, baseados na experiência de vida e conectado com o ambiente. Porém, o gigante transnacional Google fatura os anúncios que os internautas ajudam a vender – quanto mais cliques, maior o faturamento. Segundo Carr na Googleplex, a sede da empresa no Vale do Silício, está sempre atrás de algoritmos perfeitos que conduzam os movimentos mentais dos usuários para determinado objetivo.



Cibernética inventada pelos militares

Também não custa recordar que a cibernética foi inventada pelos militares norte-americanos durante a segunda guerra mundial e toda a concepção de linguagem e de comandos está relacionada com a tecnologia de guerra. Última citação de Nicholas Carr:

“- Podemos supor que os circuitos neurais dedicados a vasculhar, passar os olhos e executar multitarefas estão se expandindo e fortalecendo, enquanto aqueles usados para a leitura e pensamentos profundos, com concentração continuada, estão enfraquecendo e se desgastando”.

O professor Valdemar Setzer, da Escola de Matemática e Estatística da USP é um dos maiores críticos da televisão, como veículo de comunicação, principalmente em relação às crianças e adolescentes, inclui também os jogos eletrônicos. Tem um extenso trabalho de pesquisa e divulgação sobre a influência maléfica desses meios nas mentes dos jovens. Ele insiste em uma questão fundamental: todos os meios eletrônicos, incluindo a internet, tem um efeito absolutamente garantido – aceleram o desenvolvimento, especialmente, o intelectual e o emotivo.

Aceleração de todo tipo de sentimento

O imediatismo das redes sociais, a troca de mensagens em massa, os grupos formadores de opinião se transformaram em uma nova forma de socialização, se é que podemos definir desta maneira. O que é evidente é que há uma aceleração de todo tipo de sentimento e de emoção, além é claro, da ansiedade, da raiva e do ódio. É o pacote completo do espetáculo e da sociedade de consumo, as duas outras pontas do texto. O escritor francês Guy Debord escreveu “A Sociedade do Espetáculo” em 1967, como uma crítica direta contra a nova fórmula do capitalismo se expandir e alterar o comportamento das populações mundo afora. Selecionei algumas frases para ilustrar:

“- O espetáculo, compreendido, na sua totalidade é o resultado e o projeto do modo de produção existente. É o coração da irrealidade da sociedade atual. Sob todas as suas formas particulares de informação ou propaganda ou consumo direto do entretenimento, o espetáculo constitui o modelo presente da vida socialmente dominante. A forma e o conteúdo do espetáculo são a justificação das condições e dos fins do sistema existente. O espetáculo é a afirmação da aparência e a afirmação de toda a vida humana, socialmente falando, como simples aparência. O espetáculo é o mau sonho da sociedade moderna acorrentada, que ao cabo não exprime senão o seu desejo de dormir”.

Uma falsa realidade

O pesquisador Weligton Rodrigues da Paz, da Universidade de Goiás fez a sua tese de doutorado sobre a sociedade do espetáculo, a formação humana, mercado, tecnologia e cultura. O argumento central é o mesmo de Guy Debord: a forma contemporânea de organização capitalista da sociedade:

“- Sua concepção, além de reafirmar a natureza excludente e alienada da vida sob essa sociedade revela ainda como essa formação social produz e acentua a sujeição dos homens pelas coisas, mercadorias e imagens, reduzindo os indivíduos à condição de expectadores passivos, limitados a contemplação da sociedade, da história, da economia e do movimento geral do mundo por eles mesmos criados. São manifestações específicas de uma maneira de produzir, consumir e viver na qual a dominância pertence às coisas, ao valor abstrato da troca, às representações que a legitimam.”

Enfim: o espetáculo é a fase extrema do processo de alienação, presente na totalidade do mundo capitalista, na produção e no consumo, na política, na cultura e no lazer, mas antes nas relações sociais e na relação do indivíduo consigo mesmo e com sua vida. O espetáculo impõe uma falsa realidade, uma redução da vida humana e social à simples aparência, com a mediação dos meios de comunicação, servem como mediadores indispensáveis à ordem social, fundada no afastamento e na separação. O que transmitem são ‘ordens’, que serão analisadas e defendidas pelos mesmos que as produzem.

Ainda citando Weligton Rodrigues da Paz :

“- Liquidaram com a inquietante concepção, que predominara por mais de 200 anos, segundo a qual uma sociedade pode ser criticada e transformada, reformada e revolucionada. Os especialistas a serviço do espetáculo substituíram os espaços ainda autônomos, comunidades em geral, associações ou instituições em que ainda havia algum espaço para o debate, a dúvida, a contestação”.

O planeta tem ‘americanos’ demais

Quem executou nos últimos anos este modelo de sociedade do espetáculo e do consumo, como um estilo de vida. Claro, os Estados Unidos, tendo a cidade de New York como a Meca da mercadoria, e como objetivo principal na vida dos “coisa”. Em 2014, este cidade recebeu 56,4 milhões de turistas e faturou 62 bilhões de dólares. Os brasileiros contribuíram com 965 mil turistas. O Brasil, no entanto, é o país que mais manda turistas para Miami – 755 mil no ano passado, que deixaram lá quase dois bilhões de dólares – atualmente moram 250 mil brasileiros na cidade. O centro do espetáculo recebe mais de 12 milhões de turistas anualmente. Somente este fato, já serviria como impulso para a divulgação do tal estilo de vida. Ocorre, como escreve o jornalista e crítico do The New York Times, Thomas Friedman em “Quente, Plano e Lotado”, o planeta já suporta um contingente acima de um bilhão de “americanos”, contando a Europa, Japão, Oriente Médio, e agora partes da China, Índia, Brasil, que reproduzem os mesmos valores:

“-Lembre-se o que deve ser observado não é o número total de pessoas no planeta, e sim o número de ‘americanos’. Este é o número chave e vem crescendo de forma consistente. Eu não censuro os cidadãos de Doha (capital do Catar), ou de Dalian (cidade do nordeste da China, considerada o Vale do Silício local) por aspirarem a um estilo de vida americano, ou por optarem erguê-lo sobre fundações de combustíveis fósseis baratos assim como nós fizemos. Nós inventamos esse sistema. Nós o exportamos. Americanos brotam em toda a parte nos dias de hoje, de Doha, Dalian, de Calcutá a Casablanca, passando pelo Cairo, mudando-se para bairros em estilo americano, comprando carros em estilo americano, comendo fast food no estilo americano e produzindo lixo em níveis americanos. O planeta nunca viu tantos americanos”.

A piração dos coisa

Friedman também se arrepende de ter acreditado, como a geração que nasceu depois da segunda guerra mundial, que “seria uma coisa boa se todos pudessem viver como nós. Nós queríamos que todos se convertessem ao estilo americano, embora na realidade nunca pensássemos sobre as implicações disso. Bem, agora sabemos”.

A competição exacerbada, as novas gerações dispostas a fazer qualquer coisa para manter o estilo, incluindo roubar e matar, para ter o tênis da moda, e condenando milhares de jovens à morte como ocorre no Brasil. A transformação dos seres humanos em “coisas”, também é abordada pelo escrito Istvám Mészáros autor de “A Teoria da Alienação em Marx”:

“- A alienação caracteriza-se, portanto, pela extensão universal de ‘vendabilidade’, a transformação de tudo em mercadoria, pela conversão dos seres humanos em ‘coisas’, para que eles possam aparecer como mercadorias no mercado...e pela fragmentação do corpo social em indivíduos isolados, que perseguem seus próprios objetivos limitados, particularistas, em servidão à necessidade egoísta, fazendo de seu egoísmo uma virtude em seu culto da privacidade”.

O problema maior é que uma parcela abastada dos “coisa” está liberando o sistema límbico cerebral no Brasil e está prestes a executar o ódio que tanto promete e divulga. Por isso, a piração dos “coisa” acabará se convertendo em tragédia.


 

segunda-feira, 23 de março de 2015

Enquanto a Avibrás sucumbe nas mãos dos Entreguistas e Quinta Colunas a Rússia se defende da Agressão Externa.


No Brasil a empresa Nacional Avibrás tem o recém desenvolvido Sistema ASTROS II.

Esse sistema sobre rodas, de última geração, emprega diversos tipos de foguetes e possui grande mobilidade, precisão e alcance. A empresa Avibrás possui contratos de entrega desse sistema com o execito Brasileiro e esta sendo sondada por exércitos internacionais, não alinhados com as grandes potencias.

Porém, a Avibrás estava sendo preparada para ser incorporada pela Odebrecht Defesa quando a Lava Jato imobilizou todos os ativos do Grupo Odebrecht, até onde eu sei, todos os funcionários da Avibrás estão sem receber desde Dezembro.

É o efeito de destruição em cadeia promovido pelo Ministério Público.


Sistema Balistico Bastian Russo

As escaramuças russo-americanas no Mar Negro


No documentário “Crimeia. De volta à Pátria”, transmitido recentemente pela rede de televisão Rússia 1, foi apresentado um episodio dedicado ao sistema de mísseis costeiros russos Bastião-P.

Em março de 2014, o presidente Putin determinou o deslocamento de vários desses sistemas para as proximidades de Sebastopol, na Crimeia; uma decisão que, como se revelou logo depois, tinha razão de ser. Rapidamente o sistema Bastião conseguiu afastar das costas da península as provocações do moderno contratorpedeiro porta-mísseis norte-americano Donald Cook [incorporado à marinha americana em 1998], lembrou o jornal russo Rossíiskaya Gazeta.

Essa poderosa nave de guerra está armada com mísseis de cruzeiro Tomahawk, que têm um alcance de até 2.500 quilômetros e capacidade de carregar cargas nucleares. Além disso, o Donald Cook está dotado do sistema naval integrado Aegis, que unifica a ação de todos os mísseis instalados em navios na forma de rede. Isso lhes permite realizar um rastreamento simultâneo e atacar centenas de alvos ao mesmo tempo.

À primeira vista, a aparição de um navio desse tipo no mar Negro poderia ter causado comoção e terror às forças independentistas da península. Mas ocorreu o contrario. Quando, há um ano, foram deslocados para a costa da Crimeia os lançadores Bastião com mísseis supersônicos Yájont, e o sistema de reconhecimento de radar Monolit-B começou a funcionar, quem sentiu comoção e terror acabou sendo a tripulação norte-americana. Seus equipamentos de bordo rapidamente acusaram que o navio se encontrava na zona de impacto potencial de mísseis russos.

Como consequência, o comando do contratorpedeiro desistiu de tentar a sorte e abandonou o seu rumo com tanta rapidez que “é possível que nunca antes no Mar Negro se tenha visto um ‘oito’ como o que o contratorpedeiro norte-americano Donald Cook desenhou na água durante sua fuga do alcance do Bastião”, contou o comandante da esquadra russa do Mar Negro, o almirante Alexander Vitkó.

O Bastião pode destruir tanto navios individuais quanto comboios navais inteiros. Seus mísseis terra-mar Yájont têm alcance de 300 quilômetros e atingem a velocidade de 751 metros por segundo. O intervalo entre lançamentos é curto: 2,5 segundos. Esse sistema incorpora um programa pelo qual os primeiros alvos a destruir nos comboios inimigos são os navios de escolta, e só depois o navio capitânia. Cada um dos mísseis opera exclusivamente contra o seu objetivo programado. Os especialistas afirmam que nenhum navio do mundo teria tempo para se defender de um ataque desse tipo.

Apenas um mês depois da fuga infame, o mesmo Donald Cook tomou um outro susto, dessa vez protagonizado pelo veterano caça-bombardeiro tático Su-24 [Sukhoi Fencer, recentemente oferecidos pela Rússia à Argentina], que realizou sobre ele 12 passadas a baixa altitude, simulando um ataque ao navio, que havia voltado a navegar pelo Mar Negro.

O consenso entre os especialistas é de que o caça russo fez uso do sistema de guerra eletrônica Khibiny, causando estupor na tripulação do navio. O Khibiny, atual sistema russo de guerra eletrônica, teria ‘apagado’ as telas de radar do contratorpedeiro, deixando-o virtualmente indefeso. Por conta disso, o navio dirigiu-se rapidamente a um porto romeno, onde os americanos puderam restabelecer os nervos. Nem todos conseguiram: o stress parece ter sido suficientemente forte para que 27 marinheiros apresentassem seus pedidos de baixa ali mesmo.

Mais tarde, o porta-voz do Pentágono, Steve Warren, lançou acusações contra a Rússia. “Essa ação de provocação nem um pouco profissional da Rússia é incompatível com seus próprios dispositivos nacionais e com os acordos prévios sobre a interação profissional das nossas forças armadas”, disse Warren, sem explicar por que o Donald Cook havia violado a Convenção de Montreux, que impede que os navios de guerra de países que não têm saída para o Mar Negro permaneçam nele por mais de 21 dias.






segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Noam Chomsky e a Coruja de Minerva - Tempos de Guerra


Chomsky: “Triste espécie. Pobre coruja de Minerva”


“Nossa civilização teve início há 10 mil anos, entre o Tigre e o Eufrates. O que lá ocorre hoje fornece lições dolorosas sobre o abismo a que podemos chegar”

Por Noam Chomsky | Tradução: Tiago Franco

Não é agradável contemplar os pensamentos que devem estar passando pela mente da Coruja de Minerva, que alça voo ao cair do crepúsculo e toma para si a tarefa de interpretar cada era da civilização humana — esta mesma que pode, agora, estar se aproximando de um final inglório.

Nossa era começou há quase 10 mil anos, na região da Crescente Fértil. Estendeu-se, a partir das terras do Tigre e Eufrates, pela Fenícia, na costa oriental do Mediterrâneo, chegando ao vale do Rio Nilo e de lá para além da Grécia. O que está acontecendo nesta região fornece dolorosas lições sobre o abismo ao qual a espécie humana pode chegar.

As terras do rios Tigre e Eufrates têm sido palco de horrores indescritíveis nos últimos anos. A ofensiva de George W. Bush e Tony Blair em 2003, que muitos iraquianos compararam à invasão mongol do século XIII, foi mais um golpe letal. Destruiu grande parte do que havia sobrevivido às sanções da ONU, dirigidas por Bill Clinton contra o Iraque e condenadas como “genocídio” por ilustres diplomatas como Denis Halliday e Hans von Sponeck, que as administravam antes de renunciarem em protesto. Os devastadores relatórios de Halliday e von Sponeck receberam o tratamentos usualmente dispensado a fatos indesejados…

Uma das conseqüências terríveis da invasão estadunidense-britânica é descrita em um “guia visual para a crise no Iraque e na Síria” do New York Times: a radical mudança da Bagdá, que tinha bairros mistos em 2003, para os atuais enclaves sectários — sunitas ou xiitas — aprisionados em ódio amargo. Os conflitos causados pela invasão espalharam-se e estão agora rasgando toda a região em farrapos.




Boa parte da área do Tigre e Eufrates está dominada pelo ISIS e seu auto-proclamado Estado Islâmico. Uma caricatura sombria da forma mais extremista do Islã radical, que tem sua origem na Arábia Saudita.

Patrick Cockburn, um correspondente do The Independent no Oriente Médio e um dos mais bem informados analistas do ISIS, descreve-o como “uma organização horrível, fascista em muitos aspectos, muito sectária, que mata qualquer um que não acredite em sua particular e rigorosa imagem do Islã. ”



Cockburn também aponta a contradição na reação ocidental em relação ao aparecimento do ISIS: os esforços para conter o avanço do grupo no Iraque, contrastam com os outros, para minar o principal adversário do ISIS na Síria, o brutal regime de Bashar Assad. Enquanto isso, uma grande barreira para a expansão do ISIS até o Líbano é o Hezbollah, inimigo odiado pelo Estados Unidos e seu aliado israelense. E, para complicar ainda mais a situação, os EUA e o Irã partilham agora uma preocupação legítima sobre a ascensão do Estado Islâmico, assim como outros nesta região altamente conflituosa.

O Egito tem mergulhado em alguns de seus dias mais sombrios, sob uma ditadura militar que continua a receber o apoio dos EUA. O destino do país não está escrito nas estrelas. Durante séculos, caminhos alternativos têm sido bastante viáveis e , não raro, uma pesada mão imperial os tem barrado. Depois dos renovados horrores das últimas semanas, em Gaza, deve ser desnecessário comentar sobre o que emana de Jerusalém, considerada, em tempos remotos, um centro moral.

Oitenta anos atrás, Martin Heidegger exaltava a Alemanha nazista como sendo provedora da melhor esperança para resgatar a gloriosa civilização grega das mãos dos bárbaros do Leste e do Oeste. Hoje, banqueiros alemães esmagam a Grécia sob um regime econômico projetado para manter sua própria riqueza e poder.

O provável fim da Era da Civilização é prenunciado em um novo relatório esboçado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) , o principal órgão de monitoramento sobre que está acontecendo no mundo físico.

O relatório conclui que o risco de aumentar a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa é “severamente grave e terá impactos irreversíveis para os seres humanos e os ecossistemas” nas próximas décadas. O mundo está se aproximando de uma temperatura na qual já não será possível conter a perda da vasta camada de gelo sobre a Groenlândia. Juntamente com o derretimento do gelo antártico, que pode elevar o mar a níveis capazes de inundar grandes cidades, assim como planícies costeiras.

A Era da Civilização coincide intimamente com a época geológica do Holoceno, principiada há mais de 11 mil anos. A época anterior, Pleistoceno, durou 2,5 milhões de anos. Cientistas hoje sugerem que uma nova época começou há cerca de 250 anos: o Antropoceno, período no qual a atividade humana passou a ter impacto dramático no mundo físico. O ritmo das mudanças de épocas geológicas é difícil de ser ignorado.

Um dos índices do impacto humano, é a extinção das espécies. Estima-se hoje que esteja próxima à taxa de extinção verificada 65 milhões de anos atrás, quando um asteroide atingiu a Terra. Presume-se que tenha sido a causa do fim dos dinossauros, abrindo caminho para a proliferação de pequenos mamíferos e , em última instância, dos seres humanos modernos. Hoje, os humanos cumprem o papel do asteroide , condenando grande parte da vida à extinção.

O relatório do IPCC reitera que “a grande maioria” das reservas de combustíveis hoje conhecidas deve se mantida no solo, para evitar intoleráveis riscos para as gerações futuras. Entretanto, as grandes corporações de energia não se preocupam em esconder seus objetivos de explorar essas reservas e descobrir novas.

Um dia antes de publicar uma síntese das conclusões do IPCC, o New York Timesrelatou que um imenso estoque de grãos do Centro-Oeste dos Estados Unidos está apodrecendo, para que os produtos derivados do boom do petróleo da Dakota do Norte possam ser enviados, via ferroviária, para Ásia e Europa.

Uma das consequências mais temidas do aquecimento global antropocênico é o derretimento das regiões de pergelissolo (tipo de solo encontrado na região do Ártico). Um estudo na revista Science adverte que “mesmo temperaturas ligeiramente mais quentes [menos do que o previsto para os próximos anos] poderia começar o derretimento do pergelissolo, que, por sua vez, ameaça desencadear a liberação de grandes quantidades de gases de efeito estufa contidas no gelo,” com possíveis “consequências fatais” para o clima global.

http://corretorecologico.blogspot.com.br/2014/10/o-futuro-nebuloso-do-oceano-artico-nasa.html

Arundhati Roy sugere que “a mais apropriada metáfora para a insanidade de nossos tempos” é a Geleira de Siachen , onde soldados indianos e paquistaneses mataram uns aos outros no campo de batalha mais alto do mundo. A geleira agora está derretendo e revelando “milhares de granadas vazias, tambores de combustível vazios, machados para quebrar gelo, botas velhas, tendas e toda sorte de resíduos que milhares de seres humanos em guerra geram”, em um conflito sem sentido. E, enquanto as geleiras derretem, a Índia e o Paquistão enfrentam um desastre indescritível.

Triste espécie. Pobre Coruja.




segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Chomsky - Pimenta no dos Outros é Colírio

Chomsky: "Os ataques de Paris demonstram a hipocrisia da indignação Ocidental"

Publicado: 19 ene 2015 19:59 GMT | Última actualización: 19 ene 2015 19:59 GMT

O advogado Floyd Abrams tinha razão quando descreveu o ataque contra a redação de 'Charlie Hebdo' como "o assalto mais ameaçador contra o jornalismo na memória viva". O problema reside em que o Ocidente esquece seus próprios crimes, sublinha o linguista e filósofo norte americano Noam Chomsky

Ataque a RTV em Belgrado

"A razão está relacionada com o conceito de 'memória viva', uma categoria construída cuidadosamente para incluir Seus crimes contra Nós enquanto escrupulosamente excluímos Nossos crimes contra eles. Estes não são crimes, senão nobre defesa de valores mais elevados", explica assim Chomsky a lógica do Ocidente.

Chomsky recorda que em Abril de 1999 as forças da Otan realizaram um ataque aéreo massivo contra a emissora sérvia RTV que resultou na morte de 16 jornalistas em Belgrado. O porta voz do Pentágono, Kenneth Bacon, disse então em uma conferencia em Washington que "a televisão servia é uma parte importante da máquina de morte de Milosevic igual que seu Exército" e, portanto, um objetivo legitimo de ataque. 


"Não ocorreram manifestações ou gritos de indignação, não ocorreram clamores de 'Somos RTV', não ocorreram investigações sobre as raízes do ataque contra a cultura e a história cristã. Ao contrário, o ataque foi abafado pela imprensa. O prestigiado diplomada norte americano Richard Holbrooke, então enviado à Yugoslavia, descreveu o ataque contra RTV 'de enorme importância e progressão positiva'. Esta ideia foi compartida por outros", escreve Chomsky em um artigo citado por CNN. 

"Quanto mais culpamos nossos inimigos de alguns delitos, maior é a indignação; quando maior é nossa responsabilidade em um crime e, portanto, quanto mais podemos fazer para por-lhe fim -, menor é a preocupação, tendendo inclusive a esquece-lo ou nega-lo", resume o filósofo.





Fonte: http://actualidad.rt.com/actualidad/163881-chomsky-otan-yugoslavia-paris-hipocresia-occidente

Tradução: Julio Kling

domingo, 18 de janeiro de 2015

Guerra é Paz, Liberdade é Escravidão, Ignorância é Força

DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015
Paul Craig Roberts: “O futuro dos EUA será a ruína”
16/1/2015. [*] Paul Craig Roberts, Institute for Political Economy
Ruin Is Our Future − Paul Craig Roberts
Traduzido por mberublue


A única coisa excepcional dos Estado Unidos é a ignorância do povo e a estupidez do Governo


Os neoconservadores instalados em seus gabinetes em Washington devem estar em festa com seu sucesso em usar o episódio Charlie Hebdo para reunir a Europa ao redor da política externa dos Estados Unidos. Acabaram os votos dos franceses ao lado dos palestinos contra as posições EUA/Israel. Não mais crescerá a simpatia dos europeus em relação aos palestinos. Findou-se o crescimento da oposição europeia ao lançamento de mais e mais guerras no Oriente Médio. Não mais acontecerão as falas do presidente francês para que sejam suspensas as sanções contra a Rússia.


Mas por acaso os neoconservadores em Washington entenderam, também, que amarraram os europeus aos partidos políticos anti-imigração de extrema direita? A onda de apoio ao Charlie Hebdo é a mesma onda de apoio da Frente Nacional de Marine Le Pen, do Partido Independente do Reino Unido de Nigel Farage e do alemão PEGIDA em que está engolfada a Europa. Foi o fervor anti-imigração pensado e orquestrado para reunir europeus com Washington e Israel que deu a estes partidos a perspectiva de poder que hoje ostentam.


Mais uma vez os insolentes e arrogantes neoconservadores estão errados. O empoderamento dos partidos “Charlie Hebdo” de direita e anti-imigração tem o potencial de revolucionar a política europeia e destruir o império de Washington. Veja minha entrevista ao King World News com análises sobre o potencial que estes acontecimentos têm de mudar o jogo. /


Os relatos oriundos do jornal inglês Daily Mail e do site Zero Hedge de que a Rússia cortara totalmente as entregas de gás para seis países europeus deve ser incorreta. Reconhecendo embora a credibilidade destas fontes bem informadas, não se observa a turbulência política e financeira que aconteceria fatalmente se o relato fosse verdadeiro. Portanto, a menos que em relação a essa notícia esteja acontecendo um total blackout noticiário, as ações da Rússia foram mal interpretadas.


Sabemos que alguma coisa realmente aconteceu. Em caso contrário, não haveria como explicar a consternação expressa pelo assessor para a energia da União Europeia, Maros Sefcovic. Embora eu não tenha ainda uma informação definitiva, creio saber o que realmente ocorreu. A Rússia, cansada dos ladrões ucranianos, que roubam o gás que passa através do país em seu percurso até a Europa, tomou a decisão de dirigir o gás através da Turquia, descartando a Ucrânia.


O Ministro da Rússia para a Energia confirmou esta decisão acrescentando que caso os países europeus quiserem ter acesso a este suprimento de gás, deverão construir suas próprias estruturas ou gasodutos. Em outras palavras, não há corte no presente, mas há potencial para um corte no futuro.


Os dois eventos – Charlie Hebdo e a decisão russa de cessar a entrega de gás para a Europa através da Ucrânia – devem nos lembrar de não descartar eventuais black swans (acontecimentos anormais e que provocam consequências imprevisíveis – NT) e que black swans podem surgir de consequências não intencionais de decisões oficiais. Nem sempre o “superpoder” americano está imune a black swans.


Black Swan
foto: Bert-Kaufmann

Há tanta evidência circunstancial de que a CIA e a Inteligência Francesa são responsáveis pelo tiroteio no Charlie Hebdo como de que os disparos foram perpetrados pelos dois irmãos, cuja carteira de identidade foi convenientemente esquecida no suposto carro de fuga. Como a França agiu de forma a ter certeza de que os irmãos seriam mortos antes de poderem falar, nunca mais saberemos o que eles teriam a dizer a respeito dos acontecimentos.


A única evidência existente de que foram realmente os irmãos os culpados pelo atentado tem origem apenas nas alegações das forças de segurança. Sempre que ouço o governo falar acusatoriamente sobre evidências reais, lembro-me das “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein, de que Assad “fazia uso de armas químicas” e o Irã “teria um programa de fabricação de armas nucleares”. Se um assessor da Segurança Nacional pode vislumbrar no ar rarefeito das alturas “uma nuvem em forma de cogumelo sobre as cidades americanas”, então Cherif e Said Kouachi podem muito bem ser transformados em assassinos. Afinal, eles estão mortos mesmo, não podem reclamar.


Se por acaso (e nunca saberemos) esta foi uma operação de falsa bandeira, então foi alcançado o objetivo de Washington de reunir a Europa com o patrocínio intencional de Washington e Israel. Porém há uma consequência involuntária neste sucesso. A consequência indesejada está em unir realmente a Europa, mas sob a bandeira da política de anti-imigração dos partidos de direita, reforçando as posições adrede adotadas pelos líderes destes partidos.


Caso estas suposições estejam corretas, então Marie Le Pen e Nigel Farage estarão com suas vidas e/ou reputações em perigo, pois Washington resistirá a qualquer ascensão de lideranças que não adotem as linhas impostas por Washington.

Marie Le Pen e Nigel Farage

A grande consternação causada pela decisão russa de redirecionar a entrega de gás para a Europa (através da Turquia, evitando a Ucrânia), é uma prova de que a Rússia tem muitas cartas que pode ainda jogar e que podem desestabilizar as estruturas financeiras do ocidente.


A China possui cartas semelhantes.


Os dois países ainda não estão jogando estas cartas sobre a mesa, pois pensam que ainda não precisam. Em vez disso, as duas potências estão se retirando do sistema financeiro que atende às diretrizes da hegemonia ocidental sobre o mundo. Os dois países estão criando todas as estruturas econômicas necessárias de que necessitam para se tornar completamente independentes do ocidente


Portando, perfeito o raciocínio dos governantes chineses e russos:


Para que aceitar a provocação e trocar bofetadas com os idiotas ocidentais... eles podem usar as armas nucleares que possuem e o mundo inteiro estaria perdido. Vamos aceitar as provocações que nos fazem mas simplesmente nos afastar, já que neste sentido nos encorajam.


Sejamos pois agradecidos ao fato de que Vladimir Putin e os líderes chineses são inteligentes e humanos, ao contrário dos líderes ocidentais


Imaginem as terríveis consequências para o ocidente se Putin vir a se tornar pessoalmente envolvido como resultado das numerosas afrontas que sofrem atualmente tanto a Rússia como ele próprio. Putin pode destruir a OTAN e o sistema financeiro ocidental inteiro no momento que quiser. Tudo o que ele precisa é anunciar que, como a OTAN declarou guerra econômica contra a Rússia, a Rússia não mais venderá energia para os membros da OTAN.


A consequência imediata seria a dissolução da OTAN, pois a Europa não pode sobreviver sem os suprimentos energéticos da Rússia. Seria o fim do império de Washington.


Putin compreende perfeitamente que os neoconservadores não hesitariam em apertar o botão nuclear em defesa da vergonha na cara que não têm. Ao contrário de Putin, seus egos estão na linha de frente. Assim, Putin salva o mundo da destruição simplesmente não aceitando as provocações.


Agora, imagine se o governo chinês finalmente perder a paciência com Washington. Para confrontar o “excepcional, indispensável, único poder” com a sua realidade de impotência, tudo o que a China precisa fazer é colocar no mercado seus ativos financeiros massivos, denominados em dólar, tudo de uma vez só, da mesma forma que os negociadores de metais preciosos do Federal Reserve colocam massivamente no mercado futuro contratos de ouro a descoberto.


Na intenção de evitar um colapso financeiro dos Estados Unidos, o Federal Reserve teria que necessariamente imprimir quantidades massivas de novos dólares com o qual compraria a avalanche de títulos objetos de dumping despejados no mercado pelos chineses. O Federal Reserve naturalmente iria proteger o mercado através da compra das participações chinesas que estariam sendo objeto de dumping. Nesse caso, os chineses nada perderiam com a venda. Mas em seguida, vem a jogada fatal. O governo chinês simplesmente lançaria no mercado a quantidade massiva de dólares que teria recebido pela venda de seus ativos financeiros denominados em dólar.


O que aconteceria em seguida? O Federal Reserve pode imprimir dólares com os quais compraria os ativos financeiros chineses denominados em dólar, mas não pode imprimir moeda estrangeira para comprar os dólares lançados ao mercado.


Não haveria compradores para as quantidades massivas de dólares despejados no mercado pelos chineses. De forma lógica, o dólar rapidamente perderia valor de compra. Washington não mais poderia pagar suas contas com a singela impressão de dinheiro. Os americanos, que vivem em um país dependente de importações, graças aos empregos que foram deslocados para outros países, se veriam em face de altos preços que afetariam de forma severa seu modo de vida, que seria corroído. No final, os Estados Unidos se veriam em situação de instabilidade econômica, social e política.


Deixando de lado suas lavagens cerebrais, seus apoios defensivos e patrióticos ao regime em Washington, os norte americanos precisam perguntar a si mesmos: como pode o governo dos Estados Unidos, autointitulada uma superpotência ser tão inconsciente de suas próprias vulnerabilidades a ponto de ficar cutucando com vara curta dois poderes reais até que percam a paciência e joguem suas cartas?


Os norte americanos precisam entender que a única coisa realmente excepcional sobre os Estado Unidos é a ignorância da população e a estupidez de seus governantes.
Qual outro país no mundo deixa para um bando de vigaristas e crápulas de Wall Street o controle de sua economia e de sua política externa, o domínio total de seu Banco Central e de seu tesouro, subordinando o interesse de seus cidadãos aos interesses gananciosos do bolso de um por cento?


Despreocupadamente, a população está à mercê de Rússia e China. Totalmente.


Ontem houve um novo evento tipo black swan, o qual poderia desencadear outros eventos similares: o Banco Central da Suíça anunciou o fim da indexação do franco suíço ao euro e ao dólar.


Três anos atrás a fuga de dólares e euros para o franco suíço elevou tanto o valor de troca do franco que este passou a ameaçar a própria existência da indústria suíça de exportação. O país então anunciou que qualquer afluxo de moedas estrangeiras para o franco seria possível apenas com a criação de novos francos que pudesse absorver os fluxos de moeda estrangeira de maneira que não elevasse ainda mais a taxa de câmbio futura. Em outras palavras, a Suíça indexou o franco.


Ontem o Banco Central suíço anunciou que a indexação acabou. O franco no mesmo instante teve forte alta. Ações de companhias suíças tiveram queda significativa, e fundos de hedgeerradamente posicionados sofreram grande golpe para sua solvência.


Por que a Suíça desindexou o franco? Não se trata de uma ação sem custos. Para seu Banco Central e sua indústria de exportação, o custo será substancial.


Encontraremos a resposta na União Europeia. O Procurador-Geral da UE julga que é permissível para o Banco Central da União Europeia iniciar uma ação de Quantitative Easing (flexibilização monetária, facilitação monetária, facilitação quantitativa, etc. No fundo, trata-se de imprimir dinheiro sem lastro, do nada. Usa-se quando um país está na iminência de deflação, para estimular alguma inflação. Inunda-se o mercado de dinheiro, através dos bancos, na esperança de que isso estimule a produção, através do aumento do crédito. O que acaba acontecendo é a crescente capitalização dos bancos, sem que o dinheiro chegue ao mercado. Uma quimera. – NT), ou seja, a impressão de novos euros – na intenção de consertar as burradas de banqueiros privados. Isso significa que a comunidade financeira da Suíça ficaria na expectativa de uma fuga maciça do euro e o Banco Central suíço acredita que teria que imprimir francos em quantidades tão grandes que a base de oferta da moeda suíça explodiria, superando em muito o PIB suíço.


Quantitative Easing gera colapso financeiro

A política de imprimir dinheiro sem lastro dos Estados Unidos, Japão e agora presumivelmente da União Europeia tem forçado outros países a inflar suas próprias moedas na intenção de prevenir-se contra o aumento do valor de troca de suas moedas, o que afetaria sua capacidade de exportação para ganhar moedas estrangeiras com as quais pagar suas importações. Assim, Washington está forçando o mundo a imprimir dinheiro.


Pois a Suiça resolveu saltar fora deste sistema. Seguir-se-ão outros? Será que o mundo vai simplesmente seguir os governos de Rússia e China em seus novos arranjos monetários, virando as costas para o ocidente corrupto e incorrigível?


O nível de corrupção e manipulação que caracteriza a economia dos Estados Unidos e sua política externa atualmente era impossível em outros tempos, quando a ambição e Washington era pressionar a União Soviética. A ganância pelo poder hegemônico fez de Washington o governo mais corrupto do planeta.


A consequência da corrupção é a ruína.


“A liderança é a passagem para o império. O império gera a insolência. A insolência traz a ruína.”


O futuro dos EUA é a ruína.


[*] Paul Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.