Um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou social ) como todo o corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo; mas, ao contrário destes, ele também reflete e retrata uma realidade, que lhe é exterior. Tudo o que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo o que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia
(Mikhail Bakhtin, Marxismo e Filosofia de Linguagem)
Alguns comentários sobre o meio e a mensagem na internet.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Chomsky - Pimenta no dos Outros é Colírio

Chomsky: "Os ataques de Paris demonstram a hipocrisia da indignação Ocidental"

Publicado: 19 ene 2015 19:59 GMT | Última actualización: 19 ene 2015 19:59 GMT

O advogado Floyd Abrams tinha razão quando descreveu o ataque contra a redação de 'Charlie Hebdo' como "o assalto mais ameaçador contra o jornalismo na memória viva". O problema reside em que o Ocidente esquece seus próprios crimes, sublinha o linguista e filósofo norte americano Noam Chomsky

Ataque a RTV em Belgrado

"A razão está relacionada com o conceito de 'memória viva', uma categoria construída cuidadosamente para incluir Seus crimes contra Nós enquanto escrupulosamente excluímos Nossos crimes contra eles. Estes não são crimes, senão nobre defesa de valores mais elevados", explica assim Chomsky a lógica do Ocidente.

Chomsky recorda que em Abril de 1999 as forças da Otan realizaram um ataque aéreo massivo contra a emissora sérvia RTV que resultou na morte de 16 jornalistas em Belgrado. O porta voz do Pentágono, Kenneth Bacon, disse então em uma conferencia em Washington que "a televisão servia é uma parte importante da máquina de morte de Milosevic igual que seu Exército" e, portanto, um objetivo legitimo de ataque. 


"Não ocorreram manifestações ou gritos de indignação, não ocorreram clamores de 'Somos RTV', não ocorreram investigações sobre as raízes do ataque contra a cultura e a história cristã. Ao contrário, o ataque foi abafado pela imprensa. O prestigiado diplomada norte americano Richard Holbrooke, então enviado à Yugoslavia, descreveu o ataque contra RTV 'de enorme importância e progressão positiva'. Esta ideia foi compartida por outros", escreve Chomsky em um artigo citado por CNN. 

"Quanto mais culpamos nossos inimigos de alguns delitos, maior é a indignação; quando maior é nossa responsabilidade em um crime e, portanto, quanto mais podemos fazer para por-lhe fim -, menor é a preocupação, tendendo inclusive a esquece-lo ou nega-lo", resume o filósofo.





Fonte: http://actualidad.rt.com/actualidad/163881-chomsky-otan-yugoslavia-paris-hipocresia-occidente

Tradução: Julio Kling

domingo, 18 de janeiro de 2015

Guerra é Paz, Liberdade é Escravidão, Ignorância é Força

DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2015
Paul Craig Roberts: “O futuro dos EUA será a ruína”
16/1/2015. [*] Paul Craig Roberts, Institute for Political Economy
Ruin Is Our Future − Paul Craig Roberts
Traduzido por mberublue


A única coisa excepcional dos Estado Unidos é a ignorância do povo e a estupidez do Governo


Os neoconservadores instalados em seus gabinetes em Washington devem estar em festa com seu sucesso em usar o episódio Charlie Hebdo para reunir a Europa ao redor da política externa dos Estados Unidos. Acabaram os votos dos franceses ao lado dos palestinos contra as posições EUA/Israel. Não mais crescerá a simpatia dos europeus em relação aos palestinos. Findou-se o crescimento da oposição europeia ao lançamento de mais e mais guerras no Oriente Médio. Não mais acontecerão as falas do presidente francês para que sejam suspensas as sanções contra a Rússia.


Mas por acaso os neoconservadores em Washington entenderam, também, que amarraram os europeus aos partidos políticos anti-imigração de extrema direita? A onda de apoio ao Charlie Hebdo é a mesma onda de apoio da Frente Nacional de Marine Le Pen, do Partido Independente do Reino Unido de Nigel Farage e do alemão PEGIDA em que está engolfada a Europa. Foi o fervor anti-imigração pensado e orquestrado para reunir europeus com Washington e Israel que deu a estes partidos a perspectiva de poder que hoje ostentam.


Mais uma vez os insolentes e arrogantes neoconservadores estão errados. O empoderamento dos partidos “Charlie Hebdo” de direita e anti-imigração tem o potencial de revolucionar a política europeia e destruir o império de Washington. Veja minha entrevista ao King World News com análises sobre o potencial que estes acontecimentos têm de mudar o jogo. /


Os relatos oriundos do jornal inglês Daily Mail e do site Zero Hedge de que a Rússia cortara totalmente as entregas de gás para seis países europeus deve ser incorreta. Reconhecendo embora a credibilidade destas fontes bem informadas, não se observa a turbulência política e financeira que aconteceria fatalmente se o relato fosse verdadeiro. Portanto, a menos que em relação a essa notícia esteja acontecendo um total blackout noticiário, as ações da Rússia foram mal interpretadas.


Sabemos que alguma coisa realmente aconteceu. Em caso contrário, não haveria como explicar a consternação expressa pelo assessor para a energia da União Europeia, Maros Sefcovic. Embora eu não tenha ainda uma informação definitiva, creio saber o que realmente ocorreu. A Rússia, cansada dos ladrões ucranianos, que roubam o gás que passa através do país em seu percurso até a Europa, tomou a decisão de dirigir o gás através da Turquia, descartando a Ucrânia.


O Ministro da Rússia para a Energia confirmou esta decisão acrescentando que caso os países europeus quiserem ter acesso a este suprimento de gás, deverão construir suas próprias estruturas ou gasodutos. Em outras palavras, não há corte no presente, mas há potencial para um corte no futuro.


Os dois eventos – Charlie Hebdo e a decisão russa de cessar a entrega de gás para a Europa através da Ucrânia – devem nos lembrar de não descartar eventuais black swans (acontecimentos anormais e que provocam consequências imprevisíveis – NT) e que black swans podem surgir de consequências não intencionais de decisões oficiais. Nem sempre o “superpoder” americano está imune a black swans.


Black Swan
foto: Bert-Kaufmann

Há tanta evidência circunstancial de que a CIA e a Inteligência Francesa são responsáveis pelo tiroteio no Charlie Hebdo como de que os disparos foram perpetrados pelos dois irmãos, cuja carteira de identidade foi convenientemente esquecida no suposto carro de fuga. Como a França agiu de forma a ter certeza de que os irmãos seriam mortos antes de poderem falar, nunca mais saberemos o que eles teriam a dizer a respeito dos acontecimentos.


A única evidência existente de que foram realmente os irmãos os culpados pelo atentado tem origem apenas nas alegações das forças de segurança. Sempre que ouço o governo falar acusatoriamente sobre evidências reais, lembro-me das “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein, de que Assad “fazia uso de armas químicas” e o Irã “teria um programa de fabricação de armas nucleares”. Se um assessor da Segurança Nacional pode vislumbrar no ar rarefeito das alturas “uma nuvem em forma de cogumelo sobre as cidades americanas”, então Cherif e Said Kouachi podem muito bem ser transformados em assassinos. Afinal, eles estão mortos mesmo, não podem reclamar.


Se por acaso (e nunca saberemos) esta foi uma operação de falsa bandeira, então foi alcançado o objetivo de Washington de reunir a Europa com o patrocínio intencional de Washington e Israel. Porém há uma consequência involuntária neste sucesso. A consequência indesejada está em unir realmente a Europa, mas sob a bandeira da política de anti-imigração dos partidos de direita, reforçando as posições adrede adotadas pelos líderes destes partidos.


Caso estas suposições estejam corretas, então Marie Le Pen e Nigel Farage estarão com suas vidas e/ou reputações em perigo, pois Washington resistirá a qualquer ascensão de lideranças que não adotem as linhas impostas por Washington.

Marie Le Pen e Nigel Farage

A grande consternação causada pela decisão russa de redirecionar a entrega de gás para a Europa (através da Turquia, evitando a Ucrânia), é uma prova de que a Rússia tem muitas cartas que pode ainda jogar e que podem desestabilizar as estruturas financeiras do ocidente.


A China possui cartas semelhantes.


Os dois países ainda não estão jogando estas cartas sobre a mesa, pois pensam que ainda não precisam. Em vez disso, as duas potências estão se retirando do sistema financeiro que atende às diretrizes da hegemonia ocidental sobre o mundo. Os dois países estão criando todas as estruturas econômicas necessárias de que necessitam para se tornar completamente independentes do ocidente


Portando, perfeito o raciocínio dos governantes chineses e russos:


Para que aceitar a provocação e trocar bofetadas com os idiotas ocidentais... eles podem usar as armas nucleares que possuem e o mundo inteiro estaria perdido. Vamos aceitar as provocações que nos fazem mas simplesmente nos afastar, já que neste sentido nos encorajam.


Sejamos pois agradecidos ao fato de que Vladimir Putin e os líderes chineses são inteligentes e humanos, ao contrário dos líderes ocidentais


Imaginem as terríveis consequências para o ocidente se Putin vir a se tornar pessoalmente envolvido como resultado das numerosas afrontas que sofrem atualmente tanto a Rússia como ele próprio. Putin pode destruir a OTAN e o sistema financeiro ocidental inteiro no momento que quiser. Tudo o que ele precisa é anunciar que, como a OTAN declarou guerra econômica contra a Rússia, a Rússia não mais venderá energia para os membros da OTAN.


A consequência imediata seria a dissolução da OTAN, pois a Europa não pode sobreviver sem os suprimentos energéticos da Rússia. Seria o fim do império de Washington.


Putin compreende perfeitamente que os neoconservadores não hesitariam em apertar o botão nuclear em defesa da vergonha na cara que não têm. Ao contrário de Putin, seus egos estão na linha de frente. Assim, Putin salva o mundo da destruição simplesmente não aceitando as provocações.


Agora, imagine se o governo chinês finalmente perder a paciência com Washington. Para confrontar o “excepcional, indispensável, único poder” com a sua realidade de impotência, tudo o que a China precisa fazer é colocar no mercado seus ativos financeiros massivos, denominados em dólar, tudo de uma vez só, da mesma forma que os negociadores de metais preciosos do Federal Reserve colocam massivamente no mercado futuro contratos de ouro a descoberto.


Na intenção de evitar um colapso financeiro dos Estados Unidos, o Federal Reserve teria que necessariamente imprimir quantidades massivas de novos dólares com o qual compraria a avalanche de títulos objetos de dumping despejados no mercado pelos chineses. O Federal Reserve naturalmente iria proteger o mercado através da compra das participações chinesas que estariam sendo objeto de dumping. Nesse caso, os chineses nada perderiam com a venda. Mas em seguida, vem a jogada fatal. O governo chinês simplesmente lançaria no mercado a quantidade massiva de dólares que teria recebido pela venda de seus ativos financeiros denominados em dólar.


O que aconteceria em seguida? O Federal Reserve pode imprimir dólares com os quais compraria os ativos financeiros chineses denominados em dólar, mas não pode imprimir moeda estrangeira para comprar os dólares lançados ao mercado.


Não haveria compradores para as quantidades massivas de dólares despejados no mercado pelos chineses. De forma lógica, o dólar rapidamente perderia valor de compra. Washington não mais poderia pagar suas contas com a singela impressão de dinheiro. Os americanos, que vivem em um país dependente de importações, graças aos empregos que foram deslocados para outros países, se veriam em face de altos preços que afetariam de forma severa seu modo de vida, que seria corroído. No final, os Estados Unidos se veriam em situação de instabilidade econômica, social e política.


Deixando de lado suas lavagens cerebrais, seus apoios defensivos e patrióticos ao regime em Washington, os norte americanos precisam perguntar a si mesmos: como pode o governo dos Estados Unidos, autointitulada uma superpotência ser tão inconsciente de suas próprias vulnerabilidades a ponto de ficar cutucando com vara curta dois poderes reais até que percam a paciência e joguem suas cartas?


Os norte americanos precisam entender que a única coisa realmente excepcional sobre os Estado Unidos é a ignorância da população e a estupidez de seus governantes.
Qual outro país no mundo deixa para um bando de vigaristas e crápulas de Wall Street o controle de sua economia e de sua política externa, o domínio total de seu Banco Central e de seu tesouro, subordinando o interesse de seus cidadãos aos interesses gananciosos do bolso de um por cento?


Despreocupadamente, a população está à mercê de Rússia e China. Totalmente.


Ontem houve um novo evento tipo black swan, o qual poderia desencadear outros eventos similares: o Banco Central da Suíça anunciou o fim da indexação do franco suíço ao euro e ao dólar.


Três anos atrás a fuga de dólares e euros para o franco suíço elevou tanto o valor de troca do franco que este passou a ameaçar a própria existência da indústria suíça de exportação. O país então anunciou que qualquer afluxo de moedas estrangeiras para o franco seria possível apenas com a criação de novos francos que pudesse absorver os fluxos de moeda estrangeira de maneira que não elevasse ainda mais a taxa de câmbio futura. Em outras palavras, a Suíça indexou o franco.


Ontem o Banco Central suíço anunciou que a indexação acabou. O franco no mesmo instante teve forte alta. Ações de companhias suíças tiveram queda significativa, e fundos de hedgeerradamente posicionados sofreram grande golpe para sua solvência.


Por que a Suíça desindexou o franco? Não se trata de uma ação sem custos. Para seu Banco Central e sua indústria de exportação, o custo será substancial.


Encontraremos a resposta na União Europeia. O Procurador-Geral da UE julga que é permissível para o Banco Central da União Europeia iniciar uma ação de Quantitative Easing (flexibilização monetária, facilitação monetária, facilitação quantitativa, etc. No fundo, trata-se de imprimir dinheiro sem lastro, do nada. Usa-se quando um país está na iminência de deflação, para estimular alguma inflação. Inunda-se o mercado de dinheiro, através dos bancos, na esperança de que isso estimule a produção, através do aumento do crédito. O que acaba acontecendo é a crescente capitalização dos bancos, sem que o dinheiro chegue ao mercado. Uma quimera. – NT), ou seja, a impressão de novos euros – na intenção de consertar as burradas de banqueiros privados. Isso significa que a comunidade financeira da Suíça ficaria na expectativa de uma fuga maciça do euro e o Banco Central suíço acredita que teria que imprimir francos em quantidades tão grandes que a base de oferta da moeda suíça explodiria, superando em muito o PIB suíço.


Quantitative Easing gera colapso financeiro

A política de imprimir dinheiro sem lastro dos Estados Unidos, Japão e agora presumivelmente da União Europeia tem forçado outros países a inflar suas próprias moedas na intenção de prevenir-se contra o aumento do valor de troca de suas moedas, o que afetaria sua capacidade de exportação para ganhar moedas estrangeiras com as quais pagar suas importações. Assim, Washington está forçando o mundo a imprimir dinheiro.


Pois a Suiça resolveu saltar fora deste sistema. Seguir-se-ão outros? Será que o mundo vai simplesmente seguir os governos de Rússia e China em seus novos arranjos monetários, virando as costas para o ocidente corrupto e incorrigível?


O nível de corrupção e manipulação que caracteriza a economia dos Estados Unidos e sua política externa atualmente era impossível em outros tempos, quando a ambição e Washington era pressionar a União Soviética. A ganância pelo poder hegemônico fez de Washington o governo mais corrupto do planeta.


A consequência da corrupção é a ruína.


“A liderança é a passagem para o império. O império gera a insolência. A insolência traz a ruína.”


O futuro dos EUA é a ruína.


[*] Paul Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.


segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Fidel - Para Nunca Esquecer

14 de outubro de 2014 - 11h00 

Fidel Castro: O que não poderá ser esquecido nunca

Domingo, dia 12 de outubro, pela manhã, a edição dominical na internet do New York Times – órgão de imprensa que em determinadas circunstâncias traça pautas sobre a linha política mais conveniente aos interesses de seu país, publicou um artigo que intitulou "Tempo de acabar o embargo a Cuba"; com opiniões do que a seu julgamento, deve seguir o país.


Por Fidel Castro, no Granma*


Reprodução
O líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro, torna público um artigo intitulado "O que não poderá ser esquecido nunca", se referindo ao artigo "Tempo de acabar o embargo a Cuba" publicado no <i>New York Times</i>.O líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro, torna público um artigo intitulado "O que não poderá ser esquecido nunca", se referindo ao artigo "Tempo de acabar o embargo a Cuba" publicado no New York Times.


Há momentos em que tais artigos são assinados por algum prestigiado jornalista, como alguém a quem tive o privilégio de conhecer pessoalmente nos primeiros dias de nossa luta em Sierra Maestra com os restos de uma força que tinha sido quase totalmente eliminada pela aviação e pelo exército de Batista. Éramos então bastante inexperientes; nem sequer concebíamos que dar essa impressão de fortaleza à imprensa constituía algo que pudesse merecer uma crítica.

Não era bem como pensava aquele valente correspondente de guerra com uma história que lhe deu nome nos tempos difíceis da luta contra o fascismo: Herbert Matthews.

Nossa suposta capacidade de luta em fevereiro de 1957 era um pouco menor, porém mais que suficiente para desgastar e derrotar o regime.

Carlos Rafael Rodríguez, dirigente do Partido Socialista Popular, foi testemunha do que, após a Batalha de Jigüe, em que uma unidade completa de tropas seletas foi obrigada a capitular depois de 10 dias de combate, expressei sobre meu temor de que as forças do regime fossem se render em julho de 1958, quando suas tropas de elite se retiravam precipitadamente de Sierra Maestra, apesar de treinadas e assessoradas pelos vizinhos do norte. Tínhamos encontrado a forma adequada para derrotá-las.

Era inevitável estender-me um pouco neste ponto se desejasse explicar o ânimo com que li o mencionado artigo do jornal norte-americano no domingo passado. Citarei suas partes essenciais que irão entre aspas: 

"... o Presidente Obama deve sentir angústia ao contemplar o lamentável estado das relações bilaterais que sua administração tem tentado consertar. Seria sensato que o líder estadunidense reflita seriamente sobre Cuba, onde uma virada política poderia representar uma grande vitória para seu governo." 

"Pela primeira vez, em mais de meio século, mudanças na opinião pública estadunidense e uma série de reformas em Cuba, têm feito que seja politicamente viável retomar relações diplomáticas e acabar com um embargo insensato. O regime dos Castro tem utilizado o referido embargo para justificar suas falhas e tem mantido o seu povo bastante isolado do resto do mundo. Obama deve aproveitar a oportunidade para dar fim a uma longa era de inimizade, e ajudar um povo que tem sofrido enormemente desde que Washington cortou relações diplomáticas em 1961, dois anos após Fidel Castro chegar ao poder." 

"...o deplorável estado de sua economia tem obrigado Cuba a implementar reformas. O processo tornou-se mais urgente a raiz da crise financeira na Venezuela, dado que Caracas proporciona-lhe petróleo subsidiado. Com o temor de que a Venezuela tenha que cortar sua ajuda, líderes na ilha dão passos importantes para liberar e diversificar uma economia que historicamente tem controles rígidos." 

"...o governo cubano começou a permitir que seus cidadãos se empreguem no setor privado e que vendam propriedades como automóveis e casas. Em março, a Assembleia Nacional de Cuba aprovou uma lei com o fim de atrair investimento estrangeiro. (...) Em abril, diplomatas cubanos começaram a negociar os termos de um tratado de cooperação que esperam assinar com a União Europeia. Participam das primeiras reuniões preparados, ansiosos e conscientes de que os europeus vão pedir maiores reformas e liberdades civis.

"O governo autoritário segue perseguindo dissidentes, que frequentemente são detidos por períodos curtos. Havana não explicou a suspeita morte do ativista político Oswaldo Payá”. 

Como pode ser apreciada uma acusação caluniosa e gratuita.

"No ano passado flexibilizaram as restrições de viagem para os cubanos, o que permitiu que dissidentes proeminentes viajassem ao exterior. Na atualidade, existe um ambiente de maior tolerância para aqueles que criticam seus líderes na ilha, mas muitos ainda temem as repercussões de falar abertamente e exigir maiores direitos". 

"O processo das reformas tem sido lento e tido reveses. Mas em conjunto, estas mudanças demonstram que Cuba está se preparando para uma era pós-embargo. O governo afirma que retomaria com gosto as relações diplomáticas com os Estados Unidos sem condições prévias". 

"Como primeiro passo, a Casa Branca deve retirar Cuba da lista que mantém o Departamento de Estado para penalizar países que respaldam grupos terroristas. Atualmente, as únicas outras nações na lista são Sudão, Irã e Síria. Cuba foi incluída em 1982 por seu apoio a movimentos rebeldes na América Latina, ainda que esse tipo de vínculo já não exista. Atualmente, o governo estadunidense reconhece que Havana está jogando um papel construtivo no processo de paz na Colômbia, servindo de anfitrião para os diálogos entre o governo colombiano e líderes da guerrilha”.

"As sanções por parte dos Estados Unidos à ilha começaram em 1961 com o objetivo de expulsar Fidel Castro do poder. Através dos anos, vários líderes estadunidenses têm concluído que o embargo tem sido um erro. Apesar disso, qualquer iniciativa para eliminá-lo traz consigo o risco de enfurecer membros do exílio cubano, um grupo eleitoral que tem sido decisivo nas eleições nacionais. (...) a geração de cubanos que defendem o bloqueio está desaparecendo. Membros das novas gerações têm diferentes pontos de vista, e muitos sentem que o embargo tem sido contraproducente para fomentar uma mudança política. Segundo uma recente pesquisa, 52% de norte-americanos de origem cubana em Miami pensam que deve terminar o bloqueio. Uma ampla maioria quer que os países voltem a ter relações diplomáticas, uma posição que compartilha o eleitorado norte-americano em geral". 

"Cuba e Estados Unidos têm sedes diplomáticas em suas capitais, conhecidas como seções de interesse, que desempenham as funções de uma embaixada. No entanto, os diplomatas estadunidenses têm poucas oportunidades de sair da capital para interagir com o povo cubano e seu acesso aos dirigentes da ilha é muito limitado". 

"Em 2009, a administração Obama tomou uma série de passos importantes para flexibilizar o embargo, facilitando o envio de remessas à ilha e autorizando um maior número de cubanos radicados nos Estados Unidos a viajar à ilha. Também criou planos que permitiriam ampliar o acesso à telefonia celular e internet na ilha. Mesmo assim, seria possível fazer mais. Por exemplo, se poderia eliminar as restrições às remessas, autorizar mecanismos de investimento nas novas microempresas cubanas e expandir as oportunidades para norte-americanos que desejem viajar à ilha." 

"Washington poderia fazer mais para respaldar as empresas norte-americanas que têm interesse em desenvolver o setor de telecomunicações em Cuba. Poucas se atreveram por temor às possíveis repercussões legais e políticas." 

"Por não fazer, os Estados Unidos estaria cedendo o mercado cubano a seus rivais. Os presidentes da China e da Rússia viajaram a Cuba em julho tendo em vista ampliar os vínculos". 

"O nível e envergadura da relação poderia crescer significativamente, dando a Washington mais ferramentas para respaldar reformas democráticas. É factível que ajude a frear uma nova onda migratória de cubanos sem esperança que estão viajando para os Estados Unidos em balsas". 

"Uma relação mais saudável poderia ajudar a resolver o caso de Alan Gross, um especialista em desenvolvimento que está há quase cinco anos detido na ilha. E mais ainda, criaria novas oportunidades para fortalecer a sociedade civil, com as quais gradualmente se diminuiria o controle que exerce o Estado sobre a vida dos cubanos. Se bem que a Casa Branca pode tomar certos passos unilateralmente, desmantelar o embargo requereria uma ação legislativa em Washington".

"... vários líderes do hemisfério se reunirão na Cidade do Panamá por ocasião da sétima Cimeira das Américas. Vários governos da América Latina fizeram questão de convidar Cuba, rompendo assim com a tradição de excluir a ilha por exigência de Washington." 

"Dada a quantidade de crises a nível mundial, é possível que a Casa Branca considere que dar uma virada substancial em sua política em relação a Cuba não é uma prioridade. Todavia, uma aproximação com a ilha mais povoada do Caribe que incentive o desbloqueio do potencial dos cidadãos de uma das sociedades mais educadas do hemisfério, poderia representar um importante legado para a administração. Também ajudaria a melhorar as relações dos Estados Unidos com vários países da América Latina e a impulsionar iniciativas regionais que sofrem como consequência do antagonismo entre Washington e Havana." 

"... Após o convite a Cuba para a cúpula, a Casa Branca não confirmou se Obama participará." 

"Tem que fazê-lo. Seria importante que se fizesse presente e considerasse como uma oportunidade para desencadear uma conquista histórica". 

Uma das sociedades mais educadas do hemisfério!!!! Isso sim que é um reconhecimento. Mas, por que não diz de uma vez, que em nada se parece ao que nos legou Harry S. Truman quando seu aliado e grande saqueador do tesouro público Fulgêncio Batista assaltou o poder em 10 de março de 1952, a somente 50 dias das eleições gerais. Aquilo não poderá ser esquecido nunca.

O artigo está escrito, como pode ser apreciado, com grande habilidade, buscando o maior benefício para a política norte-americana na complexa situação, quando se acrescentam os problemas políticos, econômicos, financeiros e comerciais. A isso se somam os derivados da mudança climática acelerada; a concorrência comercial; a velocidade, precisão e poder destrutivo de armas que ameaçam a sobrevivência da humanidade. O que hoje se escreve tem uma conotação muito diferente do que divulgavam há apenas 40 anos, quando nosso planeta se via já obrigado a albergar e abastecer de água e alimentos ao equivalente da metade da população mundial atual. Isto sem mencionar a luta contra o Ebola que ameaça a saúde de milhões de pessoas.

Acrescente-se que dentro de alguns dias a comunidade mundial irá expor ante as Nações Unidas se está de acordo ou não com o bloqueio a Cuba.

*Publicado no jornal Granma e traduzido pela Prensa Latina, o artigo intitulado de Fidel Castro se referindo ao artigo "Tempo de acabar o embargo a Cuba" publicado no diário The New York Times.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia/251328-7