Por: Julio
Kling
“Hoje seria possível, com a ajuda dos
meios modernos da matemática, da cibernética, da teoria da informação e dos
métodos do materialismo histórico, analisar a sociedade como sistema,
organizado de certo modo, e que se desenvolve. Seria possível estabelecer
exatamente quais são hoje as necessidades da sociedade e as possibilidades de
satisfazê-las, qual a capacidade e a tendência da evolução da prática social e do
conhecimento social.” ( Zeman)
O que define
nossa humanidade, desde os primórdios dos tempos é nossa capacidade de existir
independente de condicionantes e limites pré-estabelecidos, que não somente
aqueles originados dos princípios naturais atávicos da ordem social dos
primatas, por definição, de nossa herança familiar genética e só dela proveem o
instinto básico decorrente gerador da afinidade biológica do ser em relação a
sua prole no processo de procriação e seleção, condição primordial do excelente
sucesso que garante o crescimento da espécie humana no planeta.
Foi Etienne de La Boétie em seu Discurso da Servidão Voluntária² (ver bibl)., escrito em 1549, que soube expressar a questão de forma mais grave. Por sua natureza, o homem é livre; e o exemplo dos animais que preferem morrer a ser subjugados deveria fortificá-lo nesta disposição; pela linguagem, ele entra em amizade e em sociedade com outros homens; essa sociedade deveria lhe bastar. Mas ele se deixa sempre invadir pela dominação.
Para compreender essa submissão, é preciso evocar a dominação do mais forte? Por que centenas de milhares, de milhões de indivíduos se rebaixam a ponto de receber ordens de uma só pessoa? Será correto evocar o interesse? Que interesse pode haver em se deixar saquear, espoliar e subjugar? Será que se impõe uma razão superior? Mas que razão, quando é evidente que as ordens decorrem do capricho do soberano e, no caso da imensa maioria, são prejudiciais a ela? Por qualquer ângulo que se tome a questão, ela ainda continua sem resposta.
Foi Etienne de La Boétie em seu Discurso da Servidão Voluntária² (ver bibl)., escrito em 1549, que soube expressar a questão de forma mais grave. Por sua natureza, o homem é livre; e o exemplo dos animais que preferem morrer a ser subjugados deveria fortificá-lo nesta disposição; pela linguagem, ele entra em amizade e em sociedade com outros homens; essa sociedade deveria lhe bastar. Mas ele se deixa sempre invadir pela dominação.
Para compreender essa submissão, é preciso evocar a dominação do mais forte? Por que centenas de milhares, de milhões de indivíduos se rebaixam a ponto de receber ordens de uma só pessoa? Será correto evocar o interesse? Que interesse pode haver em se deixar saquear, espoliar e subjugar? Será que se impõe uma razão superior? Mas que razão, quando é evidente que as ordens decorrem do capricho do soberano e, no caso da imensa maioria, são prejudiciais a ela? Por qualquer ângulo que se tome a questão, ela ainda continua sem resposta.
Entretanto foi justamente a
evolução da complexidade interrelacional e seus aspectos constitutivos, para
garantir a sobrevivência do núcleo familiar, primeiro enquanto clã e depois o
desdobramento em tribo, processo de associação que possui centenas de milhares
de anos de maturação, veio a atingir seu ápice, sua culminância social com o
advento da cidade estado com a consequente razoável perda da liberdade do
individuo.
O conceito
de cibernética surgido no período Clássico grego foi forjado como abstração, em
função das novas necessidades de organização humana, com clãs e tribos
amontoados nos arrabaldes e suas elites protegidas atrás dos muros das cidades
estado do mundo Antigo, nem sempre em condições ideais de convivência, como
necessidade conceitual da manutenção da coexistência pacifica de diferentes
grupos sociais e classes de cidadãos, escravos e comerciantes convivendo no
regime de castas e visando a sua organização, segurança e bem comum dentro do
mesmo espaço geográfico.
A origem do
termo remonta a Platão, que emprega cibernética como a arte de pilotar navios
(Górgias 511 e Político 299) e, em seu sentido mais amplo, a arte de governar o
Estado. No entanto, Wiener, que usou o termo dentro do conceito utilizado hoje
na área de computação, possivelmente ignorava tal conotação política quando a utilizou
no pós segunda guerra.¹
Platão
desenvolveu uma crítica bastante viva da democracia do seu tempo. Esta crítica
baseia-se nos seguintes argumentos:
- A massa
popular (oi polloi) é assimilável por
natureza a um animal escravo de suas
paixões e interesses passageiros, sensível à lisonja, inconstante em seus
amores e em seus ódios; confiar-lhe o poder é aceitar a tirania de um ser
incapaz da menor reflexão de do menor rigor.
- Quando a
massa designa seus magistrados, ela o faz em função das competências que acredita
ter constatado – em particular, as qualidades no uso da palavra – e disso
infere irrefletidamente a capacidade política.
- Quanto às
pretensas discussões na Assembléia, são apenas disputas contrapondo opiniões subjetivas, inconsistentes, cujas
contradições e lacunas traduzem bastante bem o seu caráter insuficiente.
Em suma, a
democracia é ingovernável segundo Platão: o exemplo de Atenas o prova, uma
cidade que perdeu a guerra contra Esparta e condenou Sócrates à morte. Sua
desordem leva a tirania e induz todos à imoralidade. A refutação é banal; mas o
argumento que a apóia coloca um problema político capital: o da relação entre
Saber e Poder.²
A visão
aristocrática de Platão em seu Diálogo “A República” imagina dividir a
sociedade em três castas definidas: os guardiões do Estado, os militares e os
trabalhadores que inclui os artesões e comerciantes que detêm o poder
econômico, mas contudo sem alcançar o poder secular. Trata a classe dominante
como uma elite de homens e mulheres perfeitos, dedicados ao serviço da Polis. A
igualdade só existe nas classes superiores. Platão, um aristocrata ateniense
rico e orgulhoso despreza as massas.
Como todos
os sistemas de dominação da Antiguidade, o sistema econômico vigente baseava-se na exploração da
mão de obra escrava, o que era considerado natural pelo filósofo. Sua teoria
política desprezava a retórica e demonstrava um total desinteresse pelas
funções de produção e troca. O regime imaginado por ele não tem outra função a
não ser tornar os homens mais sábios e virtuosos, afastando-os dos bens
materiais. Dizem que Platão tinha um coração espartano. É por isso que ele
reservava o poder aos prudentes e aos eruditos escolhidos na casta mais elevada
dos defensores da cidade. Ele pretendia uma sofocracia, isto é, um governo de
sábios.³
Quando
tratamos do assunto relacionado com a teoria da informação não podemos deixar
de lembrar o desenvolvimento que esta tecnologia obteve desde que os primeiros
cientistas como Wiener tentaram definir a nova ciência nos últimos 60 anos. Hoje a
cibernética é tratada como algo distante, algorítmicos de linguagem de máquina,
muito além do cotidiano do usuário normal de um sistema tipo notebook, celular
ou iphone. Como emissores e receptores
vivos interconectados nestes sistemas de informação somos agentes ativos e
passivos onde a informação não é apenas uma medida de organização do sistema,
mas um fim nela mesmo, o agente é parte da evolução, sendo a informação no
sentido entrópico, juntamente com o espaço, o tempo e o movimento, como outra
forma fundamental da existência da matéria, estreitamente vinculada à evolução e o aumento de sua complexidade no sentido de atingir qualidades
superiores de simbiose homeostática entre homem e máquina com razoável tolerância.
Desde que os
biólogos e tecnólogos começaram a falar no mesmo idioma, ou seja, de coisas
semelhantes em termos de organização de sistemas de informação em seus
respectivos ramos de pesquisa, através principalmente da identificação dos
fenômenos de informação e comunicação em geral e do feed-back no processo de
regulação do sistema estudado houve uma unificação da cultura do conhecimento
sem precedentes.
Quando a
natureza há 3,5 bilhões de anos atrás construiu o primeiro sistema começou a vida, principio básico semelhante adotado para a montagem de
organismos artificiais de maior complexidade e alto desempenho a tal ponto de
ocorrerem intersecções conceituais importantes entre organismos vivos e
máquinas, já que determinadas funções, básicas e importantes são comparáveis
entre ambos.
Esta nova
visão de mercado, com o crescente impacto da rede mundial de computadores na
vida de toda a humanidade, que hoje integra-se na maioria dos hardwares de
comunicação existentes começa a desenvolver uma nova mentalidade em direção ao
controle da cultura de massas numa interação de circuito fechado onde operador
e operação se confunde.
Assim sendo
fica cada vez mais difícil definir o limite da classificação entre o racional e
o irracional, já que tais conceitos, como tantos outros, recentemente sofreram
profunda alteração de qualificação e compreensão. Podemos dizer então que tanto
máquinas e organismos são racionais, quando seus desempenhos traduzem o plano
de suas finalidades, para as quais foram projetados ou organizados pela ordem
natural. Irracional seria o desempenho de uma máquina ou organismo que não
satisfaça a finalidade, o plano para o qual foi concebido ou criado, por razões
incontroláveis ou problemas de ruído de comunicação do sistema.
Racionalidade
ou irracionalidade de desempenho portanto estão profundamente ligados ao
comando e controle, no momento da ação, e em nível anterior, ao planejamento e
adequada estrutura, organização dos elementos do organismo ou da máquina em
relação ao objetivo inicial do processo organizador.
Sabe mais o
operador ou a máquina?
![]() |
Maquina de Hollerith |
Desde que
Hollerith no começo do século XX desenvolveu sua máquina para calcular o censo
eleitoral nos EUA com sucesso e depois a mesma tecnologia serviu de sistema de
controle social para os nazistas na Alemanha de Hitler, com amplo apoio
logístico da empresa que iria tornar-se a gigante IBM, a tecnologia da
informação sofreu um salto vertiginoso, o agente ou operador de máquina passou
a ser denominado usuário no fim do século passado desses dispositivos
eletrônicos de computação, cada vez mais sofisticados, mais ainda restritos ao
uso corporativo, que foram progressivamente
reduzidos em tamanho e consumo de energia, e com o advento da
microeletrônica dos PC’s passou o operador da condição de agente para a
condição de consumidor de informação, como parte integrante do sistema, mais um
periférico, que ao receber impulsos de informação devolve para o sistema um
feedback não mais em linguagem de máquina, ou melhor, uma realimentação que
complementará o resultado final do sinal e agregará valor para a rede com uma
nova informação a ser compartilhada pelos demais periféricos que estão conectados
a outros terminais espalhados pelo planeta. Do controle de mão única das
robustas e lentas máquinas do século passado, para uma via larga de mão dupla
que se auto-regula e auto-realimenta, e que atua de forma subliminar e ao mesmo
tempo coloquial, como condicionante cultural, com bem mais eficiência que as
velhas centrais de processamento de dados no que diz respeito ao controle da
informação pelos grupos econômicos que detém o saber e o poder tecnológico e de
mercado.
Presente
hoje em todas as realidades cotidianas da comunicação humana a concepção
técnica inicial, que era a valorização do Hardware, no seu sentido mais amplo
da concentração de poder entre os Estados e as grandes corporações com seus
centros de inteligência operados por técnicos especialistas volatizou-se e
emigrou para o Software, no sentido da informação em rede abrangendo uma área
de expansão de poder muito maior geograficamente e não localizada do ponto de
vista da comunicação, o aprimoramento de compatibilidade e padronização do
sinal em sua forma virtual, criando uma unidade semiológica dinâmica sem
precedentes que por certo levará a homogeneização da cultura a longo prazo,
fenômeno que já podemos perceber no aspecto comportamental dos indivíduos em
diferentes partes do mundo.
O fenômeno
que era na metade do século passado associado ao poder da televisão como
veículo transmissor de informação de baixa qualidade, como advertiu Macluhan,
mas com alta intensidade de penetração junto ao público, hoje se repete nos
demais dispositivos eletrônicos de comunicação que compõem o universo da vida
do cidadão comum no raiar do século XXI com muito mais interatividade do
operador que deixou de ser um simples espectador.
É evidente
que, surgida de projetos militares das forças armadas dos EUA, e posteriormente
disponibilizada para uso cientifico e hoje privatizada, a rede mundial de
informação, com seus grandes servidores alojados em território norte americano,
sempre irá priorizar a ideologia de poder de quem detém os grandes bancos de dados
e que possuem o interruptor sobre seu estrito controle. Este é o verdadeiro
sentido da cibernética: controlar as máquinas que controlam os homens que
controlam as máquinas exercendo seu poder hegemônico.
A ética
amoral da informação está restrita a sua função ou seu fim. A função da
informação é garantir o poder de quem a controla e, portanto sua ética hoje é
de uso restrito da manutenção do poder sobre homens e máquinas pelas grandes
corporações e órgãos estatais estabelecendo um contexto cultural subliminar
dinâmico de controle absoluto e sem mobilidade social como queria Platão.
Para o
controle ser eficiente é necessário ser sutil, proporcionar uma falsa sensação
de liberdade entre todas as facções e públicos envolvidos visando proporcionar ao operador do
periférico a suficiente liberdade de acesso, para que, sem solução de
continuidade, o fluxo constante do sistema de informação seja mantido e
realimentado.
O público
receptor e transmissor que compreende o universo da rede mundial de informação
e seus vários grupos componentes, independente da ideologia, integram o
combustível desta grande fornalha, pois são os outputs gerados, ou tendências de
informação que definem como serão os inputs que municiam as grandes corporações, os
mercados e os governos, os grupos de poder verdadeiro por trás dos seus títeres que discursam nas câmaras, que na verdade definem as políticas
que promovem o controle social por trás das instituições pseudo democráticas
falidas no mundo todo através deste feed-back regulatório. É o que denominam os especialistas de retroação negativa
ou auto-reguladora.
![]() |
O Ambiente como exemplo de sistema de retroação negativa |
Enquanto os
grandes centros urbanos do planeta aos poucos entram em colapso, a mídia eletrônica avança
como sustentáculo real de poder através da difusão da ideologia capitalista e
do consumo como fator ideológico de dominação. A satisfação desmedida do
prazer, o culto a violência e o incentivo ao ilícito são difundidos de forma
subliminar através da cinematografia documental e de ficção e cumprem sua
função emuladora de um círculo vicioso que nunca finda.
É importante
para os detentores do poder de comunicação difundirem através dos seus
audiovisuais, de forma indireta, o crime como atividade glamorosa e lucrativa
principalmente para as gerações mais jovens desfavorecidas que habitam as
favelas do terceiro mundo e assim controlar mais eficientemente através do
“combate ao crime organizado” a chacina das classes mais pobres através da
repressão paga pelo sistema. Assim é justificada uma política de extermínio
difundida pelos meios como política de manutenção da lei insuflando o terror na opinião pública da classe intermediária
sempre sedenta pela preservação do “status
quo” próprio, e em permanente estado de luta de classes, como ferrenha defensora de seus
pseudo privilégios, enquanto isso a classe dominante dissemina o ódio, a competição e o medo entre classes para manter seu poder
inabalável, no sentido "divide et impera", como ação regulatória do sistema, mantendo mão firme no controle do
timão da história.
Já na
retroação positiva ou amplificadora o retorno da saída (output) à entrada
(input) possui o mesmo sinal, que se intensifica, como fenômeno de amplificação
auto alimentado. Os sistemas que possuem este tipo de retroação são instáveis e
tendem a desorganização terminal, ou em certos casos, de acordo com sua
potencialidade, só encontram a estabilidade em outro patamar ou escala. Neste
caso a instabilidade intensifica-se através de um círculo “vicioso”. Um exemplo
dessa função foi a quebra do Last National Bank em 1932 em função de boatos em
relação a sua liquidez, que eram inverídicos. Os rumores levaram os
depositantes a retirarem suas economias causando a insolvência real do banco.
Neste caso cada retirada aumentava a
probabilidade de ocorrerem outras.¹
![]() |
Poder de Difusão da Opinião em REDE |
Fenômenos
semelhantes ocorrem todos os dias em nossa economia de mercado de forma natural
ou estimulada por grupos econômicos e cartéis através da mídia. A inflação de expectativa e sem causa natural, de efeito “em cascata” junto ao mercado, com certeza outro exemplo originado por este fenômeno.
Nestes acontecimentos conforme Deutsch
(1966, pág. 193), o dado mais importante é a avaliação quantitativa do comportamento do sistema de retroação positiva. Se
a série de impulsos amplificadores for crescente em cada ciclo sucessivo, pode
exceder os limites do sistema, que termina por exaurir-se. Se, ao contrário
ocorrer uma tendência decrescente, a sua somatória pode estar ainda dentro dos
limites do sistema manter o equilíbrio.¹
As organizações
sociais e políticas detestam a desordem, tanto quanto a natureza detesta o
vácuo. Nestas condições, os sistemas sociais, quando eventualmente
desestabilizados, buscam rapidamente novos patamares homeostáticos de equilíbrio.
Os grupos
primários, as instituições, as organizações burocráticas e políticas que na
verdade são controladas pelas grandes corporações no Ocidente, são sistemas de
alta estabilidade, mas que em certas circunstâncias especiais podem ser
abalados, desagregar-se ou transformar-se caso sintam-se ameaçadas pelas
mudanças. Estas organizações podem demonstrar grau elevado de flexibilidade e
adaptabilidade. Possuem dispositivos que absorvem ruídos ou desvios; em certas
situações estes mesmos fatores podem, no entanto, ser responsáveis por mudanças
positivas ou negativas.
Tanto a
manutenção como a mudança dependem de uma série de fatores que interagem em
cada momento histórico. A mudança depende da percepção do individuo que poderá
chancelar o “status quo” ou promover
mudanças a partir da percepção que tem da situação, e junto ao seu grupo de
influência irá interpretar e avaliar o acontecimento para atuar conforme as
condições estabelecidas.
Qual é,
porém, o papel dos desvios e das desordens nas mudanças sociais? Em outras
palavras, em que circunstâncias este fatores as precipitam? Esta questão é
claramente colocada por Edgar Morin:
“O que é, então, a evolução social?
Ela não é mais que a integração de um elemento novo que, por isto mesmo
representa uma desordem porque perturba sua autoperpetuação invariante. Assim,
quanto mais uma sociedade é ‘quente’, mais ela contém tanto desordens quanto
liberdades, mais ela tolera o nascimento de microdesvios. Estes desvios poderão
se transformar em tendências a favor dos antagonismos e dos conflitos sociais
que, desta forma, se tornam vetores e motores efetivos das mudanças.” (E.
Morin, La Nature de la societé. Communications, Paris, Seuil, n° 22, 1974. Pág 14-15)¹
Este ponto
de vista é contrário ao que os estudiosos da comunicação pretendem na atual
conjuntura. Estabelecer comportamentos alienados com a realidade factual tem
sido o principal objetivo dos principais meios de comunicação do planeta, como
muito poucas exceções. Estes grupos formadores de opinião principalmente no
hemisfério norte pretendem enfatizar os mecanismos preservadores do equilíbrio e
por isso adotam o sistema de retroação auto-reguladora e assim preservar a
homeostase.
Na América do Sul, onde governos populares assumiram recentemente em vários países, voltados a políticas
sociais, a mídia conservadora que detém grande poder pretende com seu constante
rufar dos tambores da guerra contra as mudanças sociais solapar qualquer
esforço de revolução social pacifica. Patrocinados pelas mesmas grandes
corporações, que em suas matrizes no exterior apregoam a obediência das
populações, nos continentes sul americano e na África promovem a discórdia entre
classes e tribos para melhor explorar as riquezas que históricamente sempre
saquearam do hemisfério sul para manter os seus hoje decadentes e pouco
democráticos sistemas políticos no Norte, cada vez mais distantes da manutenção do welfare state.
Não é a
ameaça do sistema de medo da distopia de Orwell em seu 1984 que vivemos hoje.
Está mais certo Huxley em sua visão de um mundo futuro controlado por grandes
corporações, onde a informação veiculada em grande quantidade através dos meios
eletrônicos só promove a superficialidade e a ignorância
das gerações mais jovens como se isso fosse algum tipo de virtude. O materialismo e o
consumismo é a verdadeira ideologia que substituiu a antiga fé religiosa, ou a
adaptou para filosofias de prosperidade nos templos onde o individuo vale pelo que possui e
não pelo que integra de conhecimento na sociedade. Num mundo superlotado este
tipo de filosofia pode transformar-se num efeito bumerangue, e um grande empecilho
para os que detêm o capital, a longo prazo, pois com a grande concentração
populacional logo teremos um sistema que mais se assemelhará a barbárie e cada
vez mais estará o sistema perto do caos em escala circular descendente com bolsões de
miséria absoluta sem controle e nichos de alto desenvolvimento tecnológico
cercados de muros convivendo juntos, cercas da exclusão que mais cedo ou mais tarde serão obsoletas, como é hoje a
Muralha da China.
O equivoco
de Edvard Kardelj de que fala o título, um filósofo marxista que foi Vice-
Presidente do Conselho Federal da antiga Yugoslávia foi acreditar que uma
Europa "social-democrata" poderia coexistir com um estado marxista sem querer
intervir ou solapar o sistema federativo daquele país, o único que
conseguiu expulsar os nazistas de seu território sem ajuda de forças externas
na II Guerra Mundial. Ele foi defensor da coexistência pacifica ativa,
sustentada pelos comunistas iugoslavos, contra a tese da inevitabilidade da
guerra defendida pelos comunistas chineses lá pelos idos da década de 60. Não é
necessário comentar como ele equivocou-se na sua interpretação histórica dos
interesses externos ao seu país. Nem sequer existe mais a federação Yugoslava destruída pelos seus “aliados” europeus com apoio irrestrito dos EUA. O resto é história.
Bibliografia:
1 1) Cibernética – Isaac Epstein – Ed.
Ática – 1986
2 2) História das Ideias Políticas –
François Châtelet / Olivier Duhamel / Evelyne Pisie-Kouchner – Jorge Zahar
Editor – 1985
3 3) Os Socialismos Utópicos –
Jean-Christian Petitfils – Zahar Editores – 1977
4 4) Cibernética e Cultura – Marcello
Casado D’Azevedo – Livraria Sulina Edit. – 1978