Um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou social ) como todo o corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo; mas, ao contrário destes, ele também reflete e retrata uma realidade, que lhe é exterior. Tudo o que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo o que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia
(Mikhail Bakhtin, Marxismo e Filosofia de Linguagem)
Alguns comentários sobre o meio e a mensagem na internet.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Cibernética – A Desconstrução do Homem no Século XXI ou O Equívoco de Edvard Kardelj


Por: Julio Kling

“Hoje seria possível, com a ajuda dos meios modernos da matemática, da cibernética, da teoria da informação e dos métodos do materialismo histórico, analisar a sociedade como sistema, organizado de certo modo, e que se desenvolve. Seria possível estabelecer exatamente quais são hoje as necessidades da sociedade e as possibilidades de satisfazê-las, qual a capacidade e a tendência da evolução da prática social e do conhecimento social.” ( Zeman)



O que define nossa humanidade, desde os primórdios dos tempos é nossa capacidade de existir independente de condicionantes e limites pré-estabelecidos, que não somente aqueles originados dos princípios naturais atávicos da ordem social dos primatas, por definição, de nossa herança familiar genética e só dela proveem o instinto básico decorrente gerador da afinidade biológica do ser em relação a sua prole no processo de procriação e seleção, condição primordial do excelente sucesso que garante o crescimento da espécie humana no planeta.

Foi Etienne de La Boétie em seu Discurso da Servidão Voluntária² (ver bibl)., escrito em 1549, que soube expressar a questão de forma mais grave. Por sua natureza, o homem é livre; e o exemplo dos animais que preferem morrer a ser subjugados deveria fortificá-lo nesta disposição; pela linguagem, ele entra em amizade e em sociedade com outros homens; essa sociedade deveria lhe bastar. Mas ele se deixa sempre invadir pela dominação.

Para compreender essa submissão, é preciso evocar a dominação do mais forte? Por que centenas de milhares, de milhões de indivíduos se rebaixam a ponto de receber ordens de uma só pessoa? Será correto evocar o interesse? Que interesse pode haver em se deixar saquear, espoliar e subjugar? Será que se impõe uma razão superior? Mas que razão, quando é evidente que as ordens decorrem do capricho do soberano e, no caso da imensa maioria, são prejudiciais a ela? Por qualquer ângulo que se tome a questão, ela ainda continua sem resposta.   

Entretanto foi justamente a evolução da complexidade interrelacional e seus aspectos constitutivos, para garantir a sobrevivência do núcleo familiar, primeiro enquanto clã e depois o desdobramento em tribo, processo de associação que possui centenas de milhares de anos de maturação, veio a atingir seu ápice, sua culminância social com o advento da cidade estado com a consequente razoável perda da liberdade do individuo.

O conceito de cibernética surgido no período Clássico grego foi forjado como abstração, em função das novas necessidades de organização humana, com clãs e tribos amontoados nos arrabaldes e suas elites protegidas atrás dos muros das cidades estado do mundo Antigo, nem sempre em condições ideais de convivência, como necessidade conceitual da manutenção da coexistência pacifica de diferentes grupos sociais e classes de cidadãos, escravos e comerciantes convivendo no regime de castas e visando a sua organização, segurança e bem comum dentro do mesmo espaço geográfico.

A origem do termo remonta a Platão, que emprega cibernética como a arte de pilotar navios (Górgias 511 e Político 299) e, em seu sentido mais amplo, a arte de governar o Estado. No entanto, Wiener, que usou o termo dentro do conceito utilizado hoje na área de computação, possivelmente ignorava tal conotação política quando a utilizou no pós segunda guerra.¹

Platão desenvolveu uma crítica bastante viva da democracia do seu tempo. Esta crítica baseia-se nos seguintes argumentos:

- A massa popular (oi polloi) é assimilável por natureza a um animal escravo de suas paixões e interesses passageiros, sensível à lisonja, inconstante em seus amores e em seus ódios; confiar-lhe o poder é aceitar a tirania de um ser incapaz da menor reflexão de do menor rigor.

- Quando a massa designa seus magistrados, ela o faz em função das competências  que acredita ter constatado – em particular, as qualidades no uso da palavra – e disso infere irrefletidamente a capacidade política.

- Quanto às pretensas discussões na Assembléia, são apenas disputas contrapondo opiniões subjetivas, inconsistentes, cujas contradições e lacunas traduzem bastante bem o seu caráter insuficiente.

Em suma, a democracia é ingovernável segundo Platão: o exemplo de Atenas o prova, uma cidade que perdeu a guerra contra Esparta e condenou Sócrates à morte. Sua desordem leva a tirania e induz todos à imoralidade. A refutação é banal; mas o argumento que a apóia coloca um problema político capital: o da relação entre Saber e Poder.²

A visão aristocrática de Platão em seu Diálogo “A República” imagina dividir a sociedade em três castas definidas: os guardiões do Estado, os militares e os trabalhadores que inclui os artesões e comerciantes que detêm o poder econômico, mas contudo sem alcançar o poder secular. Trata a classe dominante como uma elite de homens e mulheres perfeitos, dedicados ao serviço da Polis. A igualdade só existe nas classes superiores. Platão, um aristocrata ateniense rico e orgulhoso despreza as massas.

Como todos os sistemas de dominação da Antiguidade, o sistema econômico vigente baseava-se na exploração da mão de obra escrava, o que era considerado natural pelo filósofo. Sua teoria política desprezava a retórica e demonstrava um total desinteresse pelas funções de produção e troca. O regime imaginado por ele não tem outra função a não ser tornar os homens mais sábios e virtuosos, afastando-os dos bens materiais. Dizem que Platão tinha um coração espartano. É por isso que ele reservava o poder aos prudentes e aos eruditos escolhidos na casta mais elevada dos defensores da cidade. Ele pretendia uma sofocracia, isto é, um governo de sábios.³

Quando tratamos do assunto relacionado com a teoria da informação não podemos deixar de lembrar o desenvolvimento que esta tecnologia obteve desde que os primeiros cientistas como Wiener tentaram definir a nova ciência nos últimos 60 anos. Hoje a cibernética é tratada como algo distante, algorítmicos de linguagem de máquina, muito além do cotidiano do usuário normal de um sistema tipo notebook, celular ou iphone.  Como emissores e receptores vivos interconectados nestes sistemas de informação somos agentes ativos e passivos onde a informação não é apenas uma medida de organização do sistema, mas um fim nela mesmo, o agente é parte da evolução, sendo a informação no sentido entrópico, juntamente com o espaço, o tempo e o movimento, como outra forma fundamental da existência da matéria, estreitamente vinculada à evolução e o aumento de sua complexidade no sentido de atingir qualidades superiores de simbiose homeostática entre homem e máquina com razoável tolerância.

Desde que os biólogos e tecnólogos começaram a falar no mesmo idioma, ou seja, de coisas semelhantes em termos de organização de sistemas de informação em seus respectivos ramos de pesquisa, através principalmente da identificação dos fenômenos de informação e comunicação em geral e do feed-back no processo de regulação do sistema estudado houve uma unificação da cultura do conhecimento sem precedentes.

Quando a natureza há 3,5 bilhões de anos atrás construiu o primeiro sistema começou a vida, principio básico semelhante adotado para a montagem de organismos artificiais de maior complexidade e alto desempenho a tal ponto de ocorrerem intersecções conceituais importantes entre organismos vivos e máquinas, já que determinadas funções, básicas e importantes são comparáveis entre ambos.
Esta nova visão de mercado, com o crescente impacto da rede mundial de computadores na vida de toda a humanidade, que hoje integra-se na maioria dos hardwares de comunicação existentes começa a desenvolver uma nova mentalidade em direção ao controle da cultura de massas numa interação de circuito fechado onde operador e operação se confunde.

Assim sendo fica cada vez mais difícil definir o limite da classificação entre o racional e o irracional, já que tais conceitos, como tantos outros, recentemente sofreram profunda alteração de qualificação e compreensão. Podemos dizer então que tanto máquinas e organismos são racionais, quando seus desempenhos traduzem o plano de suas finalidades, para as quais foram projetados ou organizados pela ordem natural. Irracional seria o desempenho de uma máquina ou organismo que não satisfaça a finalidade, o plano para o qual foi concebido ou criado, por razões incontroláveis ou problemas de ruído de comunicação do sistema.

Racionalidade ou irracionalidade de desempenho portanto estão profundamente ligados ao comando e controle, no momento da ação, e em nível anterior, ao planejamento e adequada estrutura, organização dos elementos do organismo ou da máquina em relação ao objetivo inicial do processo organizador.

Sabe mais o operador ou a máquina?

Maquina de Hollerith



Desde que Hollerith no começo do século XX desenvolveu sua máquina para calcular o censo eleitoral nos EUA com sucesso e depois a mesma tecnologia serviu de sistema de controle social para os nazistas na Alemanha de Hitler, com amplo apoio logístico da empresa que iria tornar-se a gigante IBM, a tecnologia da informação sofreu um salto vertiginoso, o agente ou operador de máquina passou a ser denominado usuário no fim do século passado desses dispositivos eletrônicos de computação, cada vez mais sofisticados, mais ainda restritos ao uso corporativo, que foram progressivamente  reduzidos em tamanho e consumo de energia, e com o advento da microeletrônica dos PC’s passou o operador da condição de agente para a condição de consumidor de informação, como parte integrante do sistema, mais um periférico, que ao receber impulsos de informação devolve para o sistema um feedback não mais em linguagem de máquina, ou melhor, uma realimentação que complementará o resultado final do sinal e agregará valor para a rede com uma nova informação a ser compartilhada pelos demais periféricos que estão conectados a outros terminais espalhados pelo planeta. Do controle de mão única das robustas e lentas máquinas do século passado, para uma via larga de mão dupla que se auto-regula e auto-realimenta, e que atua de forma subliminar e ao mesmo tempo coloquial, como condicionante cultural, com bem mais eficiência que as velhas centrais de processamento de dados no que diz respeito ao controle da informação pelos grupos econômicos que detém o saber e o poder tecnológico e de mercado.

Presente hoje em todas as realidades cotidianas da comunicação humana a concepção técnica inicial, que era a valorização do Hardware, no seu sentido mais amplo da concentração de poder entre os Estados e as grandes corporações com seus centros de inteligência operados por técnicos especialistas volatizou-se e emigrou para o Software, no sentido da informação em rede abrangendo uma área de expansão de poder muito maior geograficamente e não localizada do ponto de vista da comunicação, o aprimoramento de compatibilidade e padronização do sinal em sua forma virtual, criando uma unidade semiológica dinâmica sem precedentes que por certo levará a homogeneização da cultura a longo prazo, fenômeno que já podemos perceber no aspecto comportamental dos indivíduos em diferentes partes do mundo.
O fenômeno que era na metade do século passado associado ao poder da televisão como veículo transmissor de informação de baixa qualidade, como advertiu Macluhan, mas com alta intensidade de penetração junto ao público, hoje se repete nos demais dispositivos eletrônicos de comunicação que compõem o universo da vida do cidadão comum no raiar do século XXI com muito mais interatividade do operador que deixou de ser um simples espectador.

É evidente que, surgida de projetos militares das forças armadas dos EUA, e posteriormente disponibilizada para uso cientifico e hoje privatizada, a rede mundial de informação, com seus grandes servidores alojados em território norte americano, sempre irá priorizar a ideologia de poder de quem detém os grandes bancos de dados e que possuem o interruptor sobre seu estrito controle. Este é o verdadeiro sentido da cibernética: controlar as máquinas que controlam os homens que controlam as máquinas exercendo seu poder hegemônico.



A ética amoral da informação está restrita a sua função ou seu fim. A função da informação é garantir o poder de quem a controla e, portanto sua ética hoje é de uso restrito da manutenção do poder sobre homens e máquinas pelas grandes corporações e órgãos estatais estabelecendo um contexto cultural subliminar dinâmico de controle absoluto e sem mobilidade social como queria Platão.

Para o controle ser eficiente é necessário ser sutil, proporcionar uma falsa sensação de liberdade entre todas as facções e públicos envolvidos visando proporcionar ao operador do periférico a suficiente liberdade de acesso, para que, sem solução de continuidade, o fluxo constante do sistema de informação seja mantido e realimentado.

O público receptor e transmissor que compreende o universo da rede mundial de informação e seus vários grupos componentes, independente da ideologia, integram o combustível desta grande fornalha, pois são os outputs gerados, ou tendências de informação que definem como serão os inputs  que municiam as grandes corporações, os mercados e os governos, os grupos de poder verdadeiro por trás dos seus títeres que discursam nas câmaras, que na verdade definem as políticas que promovem o controle social por trás das instituições pseudo democráticas falidas no mundo todo através deste feed-back regulatório. É o que denominam os especialistas de retroação negativa ou auto-reguladora.

O Ambiente como exemplo de sistema de retroação negativa
Enquanto os grandes centros urbanos do planeta aos poucos entram em colapso, a mídia eletrônica avança como sustentáculo real de poder através da difusão da ideologia capitalista e do consumo como fator ideológico de dominação. A satisfação desmedida do prazer, o culto a violência e o incentivo ao ilícito são difundidos de forma subliminar através da cinematografia documental e de ficção e cumprem sua função emuladora de um círculo vicioso que nunca finda.

É importante para os detentores do poder de comunicação difundirem através dos seus audiovisuais, de forma indireta, o crime como atividade glamorosa e lucrativa principalmente para as gerações mais jovens desfavorecidas que habitam as favelas do terceiro mundo e assim controlar mais eficientemente através do “combate ao crime organizado” a chacina das classes mais pobres através da repressão paga pelo sistema. Assim é justificada uma política de extermínio difundida pelos meios como política de manutenção da lei insuflando o terror  na opinião pública da classe intermediária sempre sedenta pela preservação do “status quo” próprio, e em permanente estado de luta de classes, como ferrenha defensora de seus pseudo privilégios, enquanto isso a classe dominante dissemina o ódio, a competição  e o medo entre classes para manter seu poder inabalável, no sentido "divide et impera", como ação regulatória do sistema, mantendo mão firme no controle do timão da história.

Já na retroação positiva ou amplificadora o retorno da saída (output) à entrada (input) possui o mesmo sinal, que se intensifica, como fenômeno de amplificação auto alimentado. Os sistemas que possuem este tipo de retroação são instáveis e tendem a desorganização terminal, ou em certos casos, de acordo com sua potencialidade, só encontram a estabilidade em outro patamar ou escala. Neste caso a instabilidade intensifica-se através de um círculo “vicioso”. Um exemplo dessa função foi a quebra do Last National Bank em 1932 em função de boatos em relação a sua liquidez, que eram inverídicos. Os rumores levaram os depositantes a retirarem suas economias causando a insolvência real do banco. Neste caso cada retirada  aumentava a probabilidade de ocorrerem outras.¹

Poder de Difusão da Opinião em REDE
Fenômenos semelhantes ocorrem todos os dias em nossa economia de mercado de forma natural ou estimulada por grupos econômicos e cartéis através da mídia. A inflação de expectativa e sem causa natural, de efeito “em cascata” junto ao mercado, com certeza outro  exemplo originado por este fenômeno.

Nestes acontecimentos conforme Deutsch (1966, pág. 193), o dado mais importante é a avaliação quantitativa do comportamento do sistema de retroação positiva. Se a série de impulsos amplificadores for crescente em cada ciclo sucessivo, pode exceder os limites do sistema, que termina por exaurir-se. Se, ao contrário ocorrer uma tendência decrescente, a sua somatória pode estar ainda dentro dos limites do sistema manter o equilíbrio.¹

As organizações sociais e políticas detestam a desordem, tanto quanto a natureza detesta o vácuo. Nestas condições, os sistemas sociais, quando eventualmente desestabilizados, buscam rapidamente novos patamares homeostáticos de equilíbrio.

Os grupos primários, as instituições, as organizações burocráticas e políticas que na verdade são controladas pelas grandes corporações no Ocidente, são sistemas de alta estabilidade, mas que em certas circunstâncias especiais podem ser abalados, desagregar-se ou transformar-se caso sintam-se ameaçadas pelas mudanças. Estas organizações podem demonstrar grau elevado de flexibilidade e adaptabilidade. Possuem dispositivos que absorvem ruídos ou desvios; em certas situações estes mesmos fatores podem, no entanto, ser responsáveis por mudanças positivas ou negativas.

Tanto a manutenção como a mudança dependem de uma série de fatores que interagem em cada momento histórico. A mudança depende da percepção do individuo que poderá chancelar o “status quo” ou promover mudanças a partir da percepção que tem da situação, e junto ao seu grupo de influência irá interpretar e avaliar o acontecimento para atuar conforme as condições estabelecidas.

Qual é, porém, o papel dos desvios e das desordens nas mudanças sociais? Em outras palavras, em que circunstâncias este fatores as precipitam? Esta questão é claramente colocada por Edgar Morin:

“O que é, então, a evolução social? Ela não é mais que a integração de um elemento novo que, por isto mesmo representa uma desordem porque perturba sua autoperpetuação invariante. Assim, quanto mais uma sociedade é ‘quente’, mais ela contém tanto desordens quanto liberdades, mais ela tolera o nascimento de microdesvios. Estes desvios poderão se transformar em tendências a favor dos antagonismos e dos conflitos sociais que, desta forma, se tornam vetores e motores efetivos das mudanças.” (E. Morin, La Nature de la societé. Communications, Paris, Seuil, n° 22, 1974. Pág 14-15)¹

Este ponto de vista é contrário ao que os estudiosos da comunicação pretendem na atual conjuntura. Estabelecer comportamentos alienados com a realidade factual tem sido o principal objetivo dos principais meios de comunicação do planeta, como muito poucas exceções. Estes grupos formadores de opinião principalmente no hemisfério norte pretendem enfatizar os mecanismos preservadores do equilíbrio e por isso adotam o sistema de retroação auto-reguladora e assim preservar a homeostase.

Na América do Sul, onde governos populares assumiram recentemente em vários países, voltados a políticas sociais, a mídia conservadora que detém grande poder pretende com seu constante rufar dos tambores da guerra contra as mudanças sociais solapar qualquer esforço de revolução social pacifica. Patrocinados pelas mesmas grandes corporações, que em suas matrizes no exterior apregoam a obediência das populações, nos continentes sul americano e na África promovem a discórdia entre classes e tribos para melhor explorar as riquezas que históricamente sempre saquearam do hemisfério sul para manter os seus hoje decadentes e pouco democráticos sistemas políticos no Norte, cada vez mais distantes da manutenção do welfare state.

Não é a ameaça do sistema de medo da distopia de Orwell em seu 1984 que vivemos hoje. Está mais certo Huxley em sua visão de um mundo futuro controlado por grandes corporações, onde a informação veiculada em grande quantidade através dos meios eletrônicos só promove a superficialidade e a ignorância das gerações mais jovens como se isso fosse algum tipo de virtude. O materialismo e o consumismo é a verdadeira ideologia que substituiu a antiga fé religiosa, ou a adaptou para filosofias de prosperidade nos templos onde o individuo vale pelo que possui e não pelo que integra de conhecimento na sociedade. Num mundo superlotado este tipo de filosofia pode transformar-se num efeito bumerangue, e um grande empecilho para os que detêm o capital, a longo prazo, pois com a grande concentração populacional logo teremos um sistema que mais se assemelhará a barbárie e cada vez mais estará o sistema perto do caos em escala circular descendente com bolsões de miséria absoluta sem controle e nichos de alto desenvolvimento tecnológico cercados de muros convivendo juntos, cercas da exclusão que mais cedo ou mais tarde serão obsoletas, como é hoje a Muralha da China.

O equivoco de Edvard Kardelj de que fala o título, um filósofo marxista que foi Vice- Presidente do Conselho Federal da antiga Yugoslávia foi acreditar que uma Europa "social-democrata" poderia coexistir com um estado marxista sem querer intervir ou solapar o sistema federativo daquele país, o único que conseguiu expulsar os nazistas de seu território sem ajuda de forças externas na II Guerra Mundial. Ele foi defensor da coexistência pacifica ativa, sustentada pelos comunistas iugoslavos, contra a tese da inevitabilidade da guerra defendida pelos comunistas chineses lá pelos idos da década de 60. Não é necessário comentar como ele equivocou-se na sua interpretação histórica dos interesses externos ao seu país. Nem sequer existe mais a federação Yugoslava destruída pelos seus “aliados” europeus com apoio irrestrito dos EUA.  O resto é história.



                         
Bibliografia:
1    1)    Cibernética – Isaac Epstein – Ed. Ática – 1986
2    2)    História das Ideias Políticas – François Châtelet / Olivier Duhamel / Evelyne Pisie-Kouchner – Jorge Zahar Editor – 1985
3   3)    Os Socialismos Utópicos – Jean-Christian Petitfils – Zahar Editores – 1977

4   4)    Cibernética e Cultura – Marcello Casado D’Azevedo – Livraria Sulina Edit. – 1978

2 comentários:

  1. A informação é a moeda de troca do futuro da humanidade.

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    1. Com certeza. Só espero que a humanidade não tenha virado uma grande manada ruminante na fila do matadouro condicionada pelo meio eletrônico no futuro próximo.

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