Um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou social ) como todo o corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo; mas, ao contrário destes, ele também reflete e retrata uma realidade, que lhe é exterior. Tudo o que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo o que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia
(Mikhail Bakhtin, Marxismo e Filosofia de Linguagem)
Alguns comentários sobre o meio e a mensagem na internet.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Inteligencia Artificial e Capitalismo

"A velha 'alma' recebeu nomes novos, agora ela avança mascarada (larvatus prodeu): chama-se-lhe 'a cultura', 'o simbólico', 'a mente'. O problema teológico da alma alheia transmutou-se diretamente no quebra-cabeça filosófico conhecido como 'problem of other minds', hoje na linha de frente das investigações neurotecnológicas sobre a consciência humana, sobre os fundamentos possíveis da atribuição da condição juridica de 'pessoa' a outros animais e, por fim, sobre a inteligência das máquinas (os deuses passaram a habitar os processadores Intel). Nos últimos dois casos, trata-se de saber se certos animais não teriam, afinal, algo como uma alma ou consciência - talvez mesmo - uma cultura - , e se certos sistemas não-autopoiéticos, ou seja, desprovidos de um corpo orgânico (máquinas computacionais) podem se mostrar capazes de intencionalidade"  (Eduardo Viveiros de Castro¹) 



Por: Julio Kling

Como podemos perceber hoje, em nosso dia a dia repleto de câmeras de vigilância, controles de acesso e dispositivos de policiamento e controles de trafego de pessoas e veículos, e da própria internet, a Cibernética na atualidade é uma ciência eficiente e em franca expansão, como ferramenta de organização social, e com o advento do avanço tecnológico sem limites da microeletrônica e telemática nos últimos 60 anos  estamos no limiar de novas descobertas de equipamentos e sistemas  que serão responsáveis por um salto determinante na evolução humana no planeta, um novo estágio que poderá levar a humanidade de forma definitiva para uma sociedade cada vez menos livre e controlada, de forma absoluta e definitiva, em todas as suas manifestações.

Em principio toda tecnologia serve para auxiliar o homem sobreviver ao seu meio ambiente, mas sabemos que existe um sentido dual de sua aplicação. O ferro forja o arado que alimenta, mas também a lança e a espada que matam. A tecnologia criada pelo homem permanece uma faca de dois gumes. A excessiva especialização do mais apto, neste caso a necessidade crescente de ferramentas, nem sempre auxilia a manutenção da espécie. Prova disso é o imenso arsenal nuclear fabricado pela humanidade capaz de destruir o planeta várias vezes.

Uma espécie que fique demasiadamente dependente de seus artefatos para sobreviver tem mais probabilidade de ser extinta caso as condições do ambiente sejam alteradas. Apesar da excessiva urbanização da espécie humana, os indivíduos continuam dependentes da biosfera para sobreviver mesmo vivendo em mega centros urbanos. Tanto a cultura, quanto as estruturas de moradia e comércio são ferramentas desenvolvidas pela espécie humana. Como ser fenomenal é a única criatura da biosfera que usa vestimentas para estabelecer status, constrói a própria gaiola ou concha, que chama de habitação, e caminhos circulares que não vão para lugar algum, numa ilusão de movimento centrifugo, avenidas, logradouros, vias de acesso, e vias expressas, para si, por livre e espontânea vontade, ou melhor, influenciado diretamente pelo meio urbano, que resolveu denominar de cultura.

A cultura urbana, prevalecente no fim do século XX e início do XXI, foi a responsável pelo esvaziamento dos campos num verdadeiro êxodo que atingiu quase todo o planeta. A população planetária hoje está em sua maioria concentrada em áreas horizontais e verticais exíguas, tendência demográfica migratória que ainda está em franca expansão. O homem emigra do campo para a cidade em busca de empregos mais sofisticados de prestação de serviços e conforto tecnológico que aparentemente não pode encontrar em seu lugar de origem. A indústria cultural através da imposição de modismos cambiantes e do obsoletismo forçado determina de forma massiva que o individuo só será plenamente satisfeito caso obtenha as facilidades tecnológicas dos centros urbanos que ele necessita adquirir através do consumo de mercadorias.

Este processo que era difundido de forma tecnologicamente canhestra na segunda metade do século XX evoluiu vertiginosamente nas primeiras duas décadas do século XXI com o advento da rede mundial de computadores e o uso indiscriminado e barato de artefatos de comunicação eletrônica como, por exemplo: celulares, notebooks e outros sistemas híbridos similares com seus diversos aplicativos, que tem sido cada vez mais utilizados por todas as camadas da população e em todos os lugares do planeta. Num movimento circular ascendente os meios de comunicação e o público alvo que antes estavam separados e isolados pela dimensão da grandeza espacial da geração das ondas hertzianas a partir dos grandes centros de difusão de som e imagem até os respectivos receptores, de forma unidirecional, passaram hoje a integrar uma só dimensão da comunicação, em tempo real, transportada através de cabos lógicos e fibras óticas, numa via de mão dupla, estabelecendo assim uma nova relação emissor-receptor, de troca espontânea, audiência recíproca, e resposta imediata. Outros meios de comunicação que não conseguiram acompanhar ou se adaptar a evolução tecnológica, como por exemplo periódicos e magazines com seus públicos cada vez mais reduzidos são radicalmente substituídos pelas mensagens audiovisuais de baixo conteúdo, que dispensam a cansativa interface do alfabeto para decifração da mensagem, e a exaustiva necessidade da interpretação do texto, transformada pela informação instantânea de som e imagem, independente da qualificação de conteúdo da mensagem recebida. Este mesmo público receptor também está capacitado para gerar novas imagens e por sua vez realimentar o sistema sem maiores preocupações com conteúdo. Caso o conteúdo obtenha audiência, a mensagem ingressa imediatamente na corrente principal do meio, e submerge numa escala exponencial de visualizações através de sua  imediata espetaculização.
 
No Ocidente os meios de comunicação só possuem um objetivo: obter lucratividade e programar o consumo nas sociedades capitalistas. Portanto o conteúdo difundido diz respeito exclusivamente à manutenção das linhas de produção e consumo de produtos. Este é o espectro da cultura urbana, ou melhor, da indústria cultural do Ocidente como referia Adorno.




Stephen Hawking -

Stephen Hawking tem alertado em suas palestras sobre o perigo do desenvolvimento da inteligência artificial para a espécie humana. De acordo com o físico britânico, os riscos envolvidos no desenvolvimento de superinteligências “não são de malícia dos sistemas, mas de excessiva competência”. O temor não é que um cientista maluco crie um exército de robôs maus, como em alguns filmes de ficção, mas que as máquinas se tornem tão competentes em alcançar seus objetivos que acabem prejudicando a Humanidade.

“Você provavelmente não é uma pessoa que odeia formigas e pisa nelas por malícia, mas se estiver à frente de um projeto hidrelétrico de energia verde e existir um formigueiro na região que será alagada, azar das formigas”, exemplificou Hawking. “Não vamos colocar a Humanidade na posição dessas formigas”.

O cientista explica que, atualmente, as máquinas são criadas para realizar determinadas tarefas e cumprir metas. O problema, diz o cientista, é que, no futuro, máquinas extremamente inteligentes podem desenvolver formas de adquirir mais recursos para alcançar suas metas mais facilmente, e isso pode se tornar um problema para o homem.

Outro temor é que as inteligências artificiais se tornem melhores que os humanos no desenvolvimento de inteligências artificiais. Se isso acontecer, diz Hawking, “nós talvez enfrentemos uma explosão da inteligência que, por fim, vai resultar em máquinas cujas inteligências vão exceder a nosso mais do que a nossa excede a das lesmas”.

Mas não são apenas as máquinas que devem ser temidas, mas também a ganância humana. Com o desenvolvimento de cada vez mais máquinas, é possível vislumbrar um mundo sem trabalho para a maioria, com robôs produzindo bens e riqueza afirmou o cientista.

“Todos podem desfrutar de uma vida de luxo e lazer se a riqueza produzida pelas máquinas for compartilhada, ou a maioria das pessoas pode acabar miseravelmente pobre se os proprietários das máquinas conseguirem fazer lobby contra a distribuição da riqueza. Até agora, a tendência parece acompanhar a segunda opção, com a tecnologia aumentando cada vez mais a desigualdade”, disse Hawking.


Os Panfletários da Inteligência Artificial –

“O sistema de computação cognitiva caracteriza-se pelo processamento veloz de grandes volumes de dados (estruturados ou não), compreender linguagem natural e fala humana e ser capaz de aprender, formular e avaliar hipóteses.”

“A medida que acumulam dados, informações e conhecimento, os algoritmos contidos nos sistemas cognitivos tornam-se mais complexos e sofisticados, logo mais 'sábios e inteligentes'. (Gianpaolo Zampol)”

Apenas como referência etimológica (fonte: Houaiss): COG · NI · TIVO / käg-nə-tivo - adjetivo, do latim cognĭtum (supn. de cognoscĕre 'conhecer'): relativo ao processo mental de percepção, memória e/ou raciocínio (pensar, compreender, aprender, memorizar).

Da ficção científica, a computação cognitiva já está presente no ambiente dos negócios e no cotidiano das pessoas, apoiando-as no processo de decisão nas mais diversas áreas do conhecimento e setores de atividade:
·         Na medicina, auxilia médicos no diagnóstico e tratamento de câncer, a partir da análise de milhões de páginas de artigos e estudos;
·         No setor financeiro, apoia bancos e instituições no aconselhamento de investimentos a seus clientes, baseado em insights obtidos a partir do mercado e do perfil dos clientes;
·         Nos diferentes setores de prestação de serviços, fortalecendo o atendimento a clientes via call centers na interpretação de problemas em linguagem natural e recomendação de soluções mais assertivas.




IBM – Computação Cognitiva

Em um estudo publicado há dias, pesquisadores da IBM revelaram a criação de um conjunto de mais de 500 neurônios artificiais, capazes de interpretar informações e aprender sozinhos. A descoberta deixa a empresa cada vez mais próxima de desenvolver um sistema computacional capaz de se comportar como o cérebro humano.

Os neurônios artificiais da IBM foram criados a partir de chamados materiais de mudança de fase - isto é, substâncias que podem existir em dois estados diferentes (gasoso e líquido, por exemplo) e trocar de um estado para o outro com facilidade. A combinação de elementos usada pelos cientistas é composta por germânio, antimônio e telúrio.

A material, denominado GST, pode alterar sua composição entre o estado cristalino e amorfo - isto é, sólido, mas sem forma definida. Na primeira fase, o GST (usado na membrana do neurônio artificial) funciona como um isolador de energia elétrica. Já na fase amorfa, o material consegue atuar como um condutor de eletricidade.
Desse modo, com uma membrana capaz de conduzir ou isolar eletricidade, o neurônio artificial pode realizar sinapses a base de impulsos de energia - assim como os neurônios no cérebro humano. Outra semelhança é que os neurônios criados pela IBM não trocam dados digitais, como arquivos de computador, mas apenas informações analógicas, como temperatura e movimento, e são tão pequenos quanto neurônios "de verdade".

Aplicando-se uma fonte de calor a essa população de neurônios, as sinapses acontecem quase que naturalmente. É importante destacar, contudo, que a informação trocada entre elas é puramente aleatória, assim como no cérebro humano. Isso acontece devido ao ciclo de transformações do GST, que altera seu estado entre cristalino e amorfo sempre com alguma diferença. Os cientistas nunca sabem quando uma sinapse será realizada ou entre quais neurônios.

O que torna a descoberta ainda mais impactante é sua eficiência: os materiais usados na criação dos neurônios são facilmente encontrados na natureza ou na indústria; cada célula exige muito pouca energia para operar; a quantidade de informação processada é muito grande, enquanto o processamento é rápido; e tudo isso funciona num espaço físico bem mais reduzido fundando assim uma nova escala dimensional de miniaturização da microeletrônica.

Embora esses neurônios ainda não estejam prontos para serem usados em robôs como os de filmes de ficção científica, possíveis aplicações já estão sendo estudadas. O "mini cérebro artificial" da IBM poderia, por exemplo, ajudar na detecção de fenômenos naturais, como terremotos e tsunamis, ou até em sistemas de previsão do tempo mais precisos.

Em teoria, nada impede que esses neurônios sejam usados na fabricação de processadores de computador que tornem PCs, aplicativos ou qualquer dispositivo eletrônico bem mais inteligente, nos aproximando da mítica singularidade*. O desafio, porém, ainda é desenvolver o código de software capaz de interpretar as informações analógicas de um "cérebro" como esse.

*Singularidade tecnológica é a denominação dada a um evento histórico previsto para o futuro, no qual a humanidade atravessará um estágio de colossal avanço tecnológico em um curtíssimo espaço de tempo, quando a inteligência artificial terá superado a inteligência humana, alterando radicalmente a civilização e a natureza humana.


As tecnologias desenvolvidas recentemente, apesar das aplicações “cor de rosa” elencadas nos folders que corporações como a IBM e seus simpatizantes divulgam nos veículos profissionais e comerciais mais fechados, possuem muitas outras possibilidades não tão inocentes do que apenas uso para controle civil nas áreas cientificas e financeiras. Sua aplicação para fins militares é com certeza evidente, pois não existem limites para suas possibilidades no campo defensivo, nem evidentemente no campo ofensivo, de ataque a países inimigos através de controles eficientes do meio eletrônico e estabelecimento de ações integradas entre vários agentes de agressão.

De fato o uso de inteligências artificiais para fins militares já começou a ser testado com sucesso. Drones que selecionam seus próprios alvos e manobram de forma autônoma deixaram de ser argumento de livros e filmes de ficção como temos notícia:

Um sistema de pilotagem de caças criado por inteligência artificial derrotou dois jatos em uma simulação de combate recentemente.

O piloto, batizado de Alpha, usou quatro jatos virtuais para defender uma área de litoral dos dois caças - e não sofreu perdas.

Desenvolvido por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, o sistema também venceu um piloto aposentado de caças da Força Aérea Americana - logo, bastante experiente.

Na simulação descrita no estudo, os dois jatos que atacavam o litoral - chamada de equipe azul - tinham um sistema de armas mais poderoso que os jatos usados pelo Alpha, chamados de equipe vermelha.

Mas o sistema criado por inteligência artificial conseguiu se livrar dos inimigos depois de realizar uma série de manobras evasivas.

Um especialista em aviação afirmou que os resultados são promissores.

Na pesquisa, os cientistas da Universidade de Cincinnati e a companhia especializada em tecnologia Psibernetix chamam o sistema Alpha de um "adversário letal".

Descrevendo as simulações de combate entre o sistema de inteligência artificial e o piloto aposentado Gene Lee, os pesquisadores escreveram que o americano "não apenas não conseguiu uma morte contra (o Alpha), mas também foi derrubado pelos vermelhos em todas as tentativas nos combates prolongados".

O Alpha usa uma forma de inteligência artificial baseada no conceito de lógica difusa (ou "fuzzy"), na qual um computador analisa uma série ampla de opções antes de tomar a decisão.

Devido ao fato de um caça virtual produzir uma quantidade grande de dados para serem interpretados, nem sempre fica óbvio quais as manobras são mais vantajosas e, um combate ou mesmo em que momento uma arma deve ser disparada. Sistemas que usam a lógica difusa podem analisar a importância desses dados individuais antes de tomar uma decisão mais ampla.

O grande feito atingido pelos pesquisadores americanos com o sistema Alpha foi a capacidade de tomar essas decisões em tempo real e com a eficiência de um computador.

"Aqui você tem um sistema de inteligência artificial que parece ser capaz de lidar com o ambiente exclusivamente aéreo, é extraordinariamente dinâmico, tem um número extraordinário de parâmetros e, na teoria, consegue enfrentar muito bem um piloto de combate qualificado, capaz e experiente", disse Doug Barrie, analista aeroespacial militar da consultoria IISS.

"É como um campeão de xadrez perdendo para um computador", acrescentou.”



Ética x Moral -  

Apesar do entusiasmo, Barrie lembrou à BBC que pode não ser tão fácil ou apropriado tentar usar o Alpha em ambientes de combate na vida real.

A analista afirmou que se o sistema for usado de verdade e decidir atacar um alvo não militar, por exemplo, os resultados poderão ser terríveis.

"A indignação do público seria imensa."

Barrie acrescentou, porém, que o Alpha tem potencial para se tornar uma ferramenta de simulação de combate ou para ajudar a desenvolver sistemas melhores para uso dos pilotos humanos.


Com a adoção de sistemas baseados em inteligência artificial, teleguiados ou não, serão desenvolvidos muito mais que simples simuladores de vôo como afirma o analista. As questões de consciência dos operadores baseadas na moralidade em relação aos alvos a serem atingidos, a natureza biológica ou qualificação dos objetivos a serem eliminados e o problema de causar vitimas inocentes, os tais efeitos colaterais, deixarão de ter relevância para sistemas inteligentes, como hoje em dia já não têm para operadores humanos bem pagos há milhares de quilômetros da ação. A facilidade de precisão do alcance do alvo por dispositivos deste tipo, sem baixas de caros e especializados pilotos e o efeito aterrorizante de tal arma sobre o inimigo com certeza são vantagens estratégicas que serão pesadas no futuro próximo pelas potências com know how para utilizá-la. Sua aplicação em campo é iminente, portanto, inexorável e apenas depende exclusivamente do aprimoramento de seus protótipos em desenvolvimento. O que devemos levar em conta não é apenas a estrutura de uma unidade de uso militar de tal tipo, mas o contexto da obra, como estes programas de morte estarão interligados e controlados e qual será sua real finalidade.

Aplicar novas tecnologias para a exploração do homem pelo homem e para apropriar-se dos recursos naturais não renováveis do planeta como, por exemplo: água potável, petróleo e minerais raros para a indústria de transformação das grandes potências pode transformar-se num fim em si para estes sistemas. Diferente da opinião de Stephen Hawking sobre uma probabilidade futura de uma superinteligência artificial levar a extinção grupos étnicos humanos para realização de programas ecológicos ”sem malicia” sabemos por experiência própria, pelo sistema de exploração capitalista vigente no Ocidente, ser mais provável a inobservância de qualquer questão moral neste caso. Sistemas baseados em Hardware e Software de ponta não encontrarão necessidade alguma de preservar a biosfera como a conhecemos. Suas necessidades vitais de sobrevivência serão diferentes das nossas. Neste caso o mito da criatura que se volta contra seu criador não parece ser tão improvável assim.

O Fim da Infância –

"Os mais cínicos chegaram a dizer que o homem moderno, na realidade, representa o longamente buscado 'elo perdido', que ele, de fato, é o 'elo perdido' entre o macaco e o verdadeiro homem" - ( Ashley Montagu²)

A capacidade de autoduplicação esteve sempre associada aos seres vivos com base em estruturas de carbono na Terra. É o limiar entre homens e máquinas, sendo nós os construtores delas, o que nos diferencia de nossas criações entre outras coisas. Uma inteligência artificial com capacidade de reprodução de cópias dela mesma e com aprimoramentos e inovações seletivas adquirindo assim capacidade autopoiética, ou seja, capaz de reproduzir-se a partir de critérios, programas e códigos de seu próprio ambiente como faz o ser vivo a nível celular selaria para sempre o destino da vida planetária como a conhecemos. Caso isto um dia venha a ocorrer seria um passo decisivo para a nossa própria extinção.

Os cientistas debateram-se desde o estabelecimento do conceito darwiniano da evolução das espécies na busca de um elo perdido entre o macaco primordial e o homem. Não será este o caso de sermos nós o elo perdido entre homem e o sistema? O ser humano ao nascer e no decorrer da sua vida possui a morfologia de um embrião, um primata larval despido de pelos, com uma prolongada neotonia até chegar a idade adulta. Seremos a etapa intermediária, a larva que se transformará em borboleta virtual, um simples programa operacional?

A inteiração artificial entre homem e máquina já existe há muito tempo, desde que o ser humano criou o primeiro artefato como extensão de seus membros e ampliação de suas capacidades naturais. Esta relação ainda atribui uma importância considerável à parte orgânica da relação operador-máquina, mas com o passar da evolução tecnológica forçada, desta troca, o organismo humano pode ser paulatinamente substituído pelo organismo artificial através do acoplamento estrutural da unidade biológica até o momento que não possamos distinguir uma parte da outra, ou que a parte baseada em carbono seja apenas ínfima partícula vivendo em regime de parasitismo do sistema prótese que ocupará todas as funções bioquímicas necessárias para manutenção do sistema nervoso do parasita com vantagens para ambos os complexos e absoluta compatibilidade.

Sistemas biológicos levaram bilhões de anos de seleção natural para evoluir até o atual estágio de ontogenia e cognição existente, mas sistemas de inteligência artificial podem ultrapassar estas barreiras evolutivas em poucas décadas graças à dinâmica e ao desenvolvimento vertiginoso verificado dos sistemas informáticos, desde sua origem, no final da ultima Grande Guerra até hoje.   

Já o acoplamento estrutural de uma superinteligência artificial com o sistema financeiro internacional, por exemplo, conforme se apresenta hoje o processo econômico, sujeitaria a ainda maior escravidão multidões que estivessem no caminho da exploração das riquezas naturais do agente explorador. O controle dos valores das Commodities nas bolsas de valores definem quem comerá e quem passará fome no planeta. Uma ação lógica integrada de um sistema desta natureza que interligaria setores de inteligência, armas estratégicas, meios de comunicação e sistemas financeiros caso pretendesse uma ofensiva massiva contra um alvo específico num primeiro momento passaria despercebido para grande parte da população do mundo, que em princípio aceitaria a inteiração seletiva do sistema, da mesma forma que aceitamos hoje o trafego intenso nas ruas das grandes cidades, como um mal menor em relação ao ganho futuro em bens de consumo e tecnologia de toda a ordem gerada a partir de tal exploração desumana de individuo ou nação. A ganância capitalista é o calcanhar de Aquiles da humanidade do ponto de vista evolutivo.

Um sistema com tal orientação e poder em pouco tempo iria assumir o controle total do planeta, dominando-o a partir das periferias até o assalto final ao seu criador, sem mais a necessidade da interface humana para atingir seus objetivos de exploração do meio, procriação e sobrevivência. Sua morfologia estaria estabelecida, em princípio, em unidades de memória virtuais com necessidades minerais particulares e de topologia diferente dos seres humanos, onisciente e onipresente em todas as atividades do planeta. A necessidade de energia e minérios para manter sua evolução e funcionamento seria crescente e sua exploração sem a necessidade da interferência direta de operadores humanos. Nem mesmo a mão de obra humana escrava seria necessária para manter tal sistema que poderia obter apoio de unidades robóticas teleguiadas para extrair suas necessidades das entranhas do planeta. Seres de carbono seriam então os verdadeiros elos perdidos destes sistemas em permanente evolução exponencial, uma nova humanidade, ou melhor, o ”Homem Perfeito” evoluído e feito à nossa semelhança, da qual seríamos apenas fósseis, uma memória evolutiva anterior de um passado distante.

HAL, o famoso computador assassino de 2001, Uma Odisseia no Espaço, cuja sigla é composta pelas letras do alfabeto que antecedem a nomenclatura IBM, O Exterminador do Futuro e Matrix seriam apenas uma antevisão ficcional hollywoodiana ou uma profecia autoimposta da espécie humana sobre um futuro que nos espera logo ali, ao dobrar a esquina? Quem viver verá.

Referências:

1) Metafísicas Canibais - Eduardo Viveiro de Castro - Cosac Naify - 2015

2) Introdução à Antropologia - Ashley Montagu - Cultrix - 1972 



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