Por: Julio Kling
O Homo sapiens
adquiriu sua supremacia em relação às outras espécies de homens que coexistiram
em seu ambiente até o início do Neolítico, entre outras coisas, a partir de
vantagens genéticas evolutivas adquiridas que o dotaram de uma sofisticada e
altamente especializada capacidade de comunicação, complexo linguístico e
gestual que desenvolveu e aprimorou sua organização social, e em função disso,
seus bandos adquiriram uma melhor capacidade organizacional em relação às
outras espécies de homens então existentes levando-os a atuar de forma mais
eficiente e em maior número no meio ambiente como caçadores coletores afirmam
os estudiosos.
A dificuldade das demais espécies humanas em acompanhar este desenvolvimento,
entre outros fatores climáticos e de meio ambiente, acabou levando-os à
extinção deixando apenas uma indelével herança genética no DNA da humanidade.
Não só foram extintas as outras espécies humanas existentes, mas várias outras
espécies de animais da chamada megafauna também deixaram de existir no mesmo
período, a partir expansão da introdução e do contato dos Homo sapiens, nas
várias regiões do planeta onde seus grupos de caçadores coletores foram se
introduzindo, conforme os vestígios arqueológicos de ossadas encontradas nos
últimos tempos pelos pesquisadores do passado.
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Comparação entre cranio de Homo Sapiens e Neanderthal |
Entre 70 a 30 mil anos atrás o Homo sapiens adotou um novo aliado interespecífico
com quem desenvolveu uma alta capacidade de comunicação e sinergia na sua busca
constante de proteína animal estabelecendo uma inusitada simbiose de sucesso
entre duas espécies diferentes de mamíferos sociais e que igualmente vivem em
bandos ou matilhas, que funciona até hoje. Com sons guturais, assobios e gestos
produzidos pelos humanos estabeleceu-se um relacionamento, um processo de
comunicação, entre os dois tipos de animais, para atingir seus objetivos comuns
de caça, num tipo de relação, com certeza, em seus primórdios, igualitária, de
respeito mútuo, e até mesmo temor místico, por parte dos Homo sapiens, relação
que posteriormente evoluiu no sentido de impor a vassalagem aos canídeos em
relação aos seus aliados primatas, de quem passaram a depender para alimentação
e reprodução até a época contemporânea. Desta simbiose podemos suspeitar
originou-se a domesticação dos demais animais de carga, corte e tração que
sofreram o contato direto com confinamento forçado em vales e cânions a partir
do pastoreio com a ajuda de cães, utilidade que permanece em muitas culturas.
Podemos estabelecer a hipótese de que as demais espécies humanas existentes que foram extintas não conseguiram desenvolver a mesma ligação interespecífica com estes animais e
passaram a ser ou menos eficientes na caça de grandes animais ou presas dos
cães, que se tornaram armas táticas extraordinárias para a captura e
apresamento dos inimigos do Homo sapiens em sua conquista definitiva do meio, isto é, das
linhas de caça de seus vizinhos, competidores de outras espécies humanas de caçadores coletores. Caçar
e devorar os vizinhos, primatas também sagazes e que conheciam bem o terreno,
exigia o auxílio e a perícia de um aliado que pudesse seguir pistas com
precisão a custa de sangrentos prêmios inimagináveis de carne. Até hoje cães têm sido
condicionados e utilizados com sucesso nestas atividades humanas de tiro, caça, guerra e apresamento de semelhantes, de forma fiel e eficaz, conforme nos conta
a história da expansão humana no planeta. Daí talvez o tabu ou interdito
estabelecido pelo costume no Ocidente em relação ao não consumo da carne canina como alimento no
cotidiano e a ideia cultural difundida de que eles são nossos melhores amigos.
O conceito de cultura, enquanto processo dinâmico foi forjado pelo
Homo sapiens em seus primórdios, dentro das suas comunidades, como fator
subjetivo fundamental, de fundo subliminar, que estabelece padrões de
comportamento através da linguagem, em sua totalidade, de compreensão de
significados, como abstração, e envolve também seu relacionamento
interespecífico com outros animais e vegetais do seu meio como ferramenta na
luta pela sobrevivência e estabelecimento da predominância do DNA humano desta
espécie particular na biosfera.
Esta supremacia foi estabelecida a partir de populações crescentes de Homo sapiens que colonizaram o planeta com sucesso, apesar da baixa expectativa de vida dos seus indivíduos e criaram meios para perpetuar seus conhecimentos através da tradição oral passada de geração para geração e posteriormente através da escrita. Manter bancos de dados e registros de acontecimentos importantes e descobertas provocou um salto exponencial na capacidade do Homo sapiens de aprimoramento tecnológico e proporcionou a invenção de cada vez mais ferramentas para domínio do seu meio dando origem às civilizações.
Esta supremacia foi estabelecida a partir de populações crescentes de Homo sapiens que colonizaram o planeta com sucesso, apesar da baixa expectativa de vida dos seus indivíduos e criaram meios para perpetuar seus conhecimentos através da tradição oral passada de geração para geração e posteriormente através da escrita. Manter bancos de dados e registros de acontecimentos importantes e descobertas provocou um salto exponencial na capacidade do Homo sapiens de aprimoramento tecnológico e proporcionou a invenção de cada vez mais ferramentas para domínio do seu meio dando origem às civilizações.
Cultura, Poder
e Comunicação -
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John Kenneth Galbraith - Economista e filósofo do séc. XX de pensamento liberal |
Sobre a Corrida Armamentista no séc. XX:
Mesmo nos altos círculos militares, há concordância de
que esta competição de armas não pode continuar. Alguns farão a pergunta
inevitável e difícil: O que tomará seu lugar? O que será dos muitos empregos
que ela cria? O que substituirá o poder aquisitivo que ela gera? John Maynards
Keynes propôs que o governo britânico pusesse pacotes de notas de libras em
minas de carvão fora de uso até enchê-las. Isso criaria empregos. E muitos
outros empregos seriam criados para aqueles que se encarregassem de cavar as
minas para tirar o dinheiro de lá, sendo que muita demanda de mercado também
seria gerada pelo gasto de todo este dinheiro. A sugestão jamais foi acatada;
em vez disso no mundo pós-keynesiano, as despesas com armas - o ciclo de
projeto e criação, produção, obsolescência, substituição - é que servem para
este fim. Certa feita, eu chamei isso de keynesianismo militar.
Todo o economista franco e sincero reconhece que as
despesas militares são para manter a atual economia em pé. Alguns afirmam que
as despesas para fins civis - saúde pública, habitação, transporte de massa,
impostos menores que levem a um maior consumo privado - também fariam a mesma
coisa. A transição seria até bem fácil e simples.
Mas isso desconsidera a armadilha, a arapuca. E
menospreza o poder econômico que sustenta o alçapão e o mantém fechado. Por
trás de um novo bombardeiro tripulado, está o complexo militar industrial que
estivemos examinando. Ele é forte e poderoso na defesa de seus interesses, e
podemos supor que seja forte e poderoso também na União Soviètica. Por trás de
melhores projetos habitacionais e cidades, não existe um poder semelhante, como
também não existe uma competição do mesmo jaez. Só existe, em comparação, um
vácuo.
Também se deve observar que existe um problema de
grandezas ou proporções. Pelo preço de uma pequena frota de bombardeiros
supersônicos tripulados, poder-se-ia construir um moderno sistema de transporte
de massa praticamente em toda cidade suficientemente grande para ter
importantes linhas de ônibus.
(...) Mas seria estultícia dos homens de
responsabilidade e sensatez, tanto nos Estados Unidos como na União Soviética -
de ficar de braços cruzados e aquiescer à atual situação de armadilha. É bom
que esta situação de armadilha seja enfrentada diretamente (...)
(John Keneth Galbraith - A Era da Incerteza -
1980)
A maioria das
questões levantadas por John Keneth Galbraith, apesar do fim da União Soviética, continuam atuais neste período que inicia o séc. XXI. Vivemos hoje ainda
mergulhados, independente de crenças pessoais, em um imenso oceano de informação, como peixes que não percebem a
água que nos cerca ao redor, nem a imensa corrente que nos arrasta, ou até mesmo para onde leva a direção de
seu fluxo. Nosso comportamento hoje profundamente influenciado pela cultura de
massa na verdade é condicionado pela
indústria cultural em todas as camadas da população onde atinge, quase sem
exceção, cada qual com seu nicho próprio de consumo de informação conforme sua
complexidade ou sofisticação e seu estrato social como público alvo. A mensagem continua ser a do
conflito permanente, agora como novos e antigos interlocutores, e da crise
constante que subjuga o homem comum urbano como mão de obra excedente.
Dentro de
qualquer processo de comunicação humana não existe mensagem sem conteúdo
ideológico, viço moral ou religioso que deixe de atender aos anseios culturais
do meio onde é veiculada e do seu público alvo. No sistema capitalista isso não
poderia ser diferente.
Não só os
conteúdos e as escalas de valores estão sendo impostos pelo novo sistema
capitalista, mas também influenciam de maneira direta nosso comportamento cotidiano. Nossa proxêmica, isto
é, o conjunto ou estruturação do homem em seu micro-espaço, seu comportamento
comunicativo baseado em dimensões inter-relacionais de posturas, gestos,
olfatos, sensações térmicas, auditivas, de orientação e de tato têm sofrido
modificações evolutivas constantes em função da tecnologia de informação que se
transforma em velocidade alucinante.
A informação
envolve um todo dentro do espectro cultural. Através das mensagens
estabelecemos elos com grupos afins e tentamos imitar falas, roupas e
comportamentos sociais, como estratégia de camuflagem social, visando sermos
aceitos pelo grupo que acreditamos fazer parte, às vezes de forma consciente,
outras subliminarmente conforme o tipo de comportamento e da sociedade onde
estamos integrados. Mesmo os comportamentos que consideramos singulares ou
àqueles que prenunciam uma resistência ao status quo vigente fazem parte do
espectro cultural de forma dinâmica. São indissociáveis do grupo social.
Conforme
lembrou Malinoswky em relação às suas observações em campo junto aos povos
naturais no início do séc. XX, o ser humano em sua condição natural utiliza
como ferramenta o processo cultural para desenvolver e manter as práticas
inerentes à sua sobrevivência no meio. Isto significa que o aprendizado de
técnicas como fazer o fogo, por exemplo, são executadas por estes naturais
dentro de um princípio científico pragmático enquanto processo cultural de
conhecimento e que detêm todo o aprendizado do processo de sua fabricação
visando atender suas condições vitais de sobrevivência e transmitem estas
informações para as gerações vindouras para dar continuidade ao processo
cultural em questão. Nestes termos o antropólogo é taxativo:
“Se se extinguissem a atitude científica e a
estimativa dela mesmo por uma geração, numa comunidade primitiva, tal
comunidade descairia para o estado animal ou, mais provavelmente extinguir-se-ia.”
O elevado nível
de especialização da sociedade humana atual, que dependente exclusivamente de
bancos de dados escritos ou digitalizados, e sua capacidade tecnológica
individual declinante parece confirmar a tendência de fragilidade deste
comportamento de permanência de longo prazo. Para traçar-se um paralelo
significativo do ponto de vista histórico podemos lembrar como os nativos das
américas foram subjugados pelos povos europeus de origem ariana. Os invasores
ao introduzirem tecnologias desconhecidas, o aço e a pólvora, para os nativos,
como as armas de fogo, não só sobrepujaram estes povos militarmente, mas
também, apesar da rápida assimilação do manuseio de tais artefatos pelos
nativos e sua assimilação e especialização no seu uso com perícia de tiro, seus
esforços foram baldados pela dificuldade de copiar e produzir tais artefatos em
produção de escala dentro do contexto cultural em que viviam, razão
fundamental de sua derrota final e
aculturação.
É evidente que
condição semelhante ocorre na atual cultura massificada pós Revolução
Industrial. O elevado nível de especialização da sociedade urbana capacita o
indivíduo para o uso de tecnologias cada vez mais complexas, mas o homem comum
é incapaz de reproduzir tais aparatos sem especialistas e equipamentos
apropriados, isto é, não pode apropriar-se da tecnologia que utiliza
diuturnamente. Se amanhã ocorresse um colapso na sua produção o homem pós
moderno estaria numa condição ainda pior que o nativo norte americano, pois
sequer as condições básicas de sobrevivência, como fazer fogo, caçar, plantar a
terra e construir abrigos estaria ao alcance dos seus conhecimentos, já que
tais necessidades foram banidas de sua cultura eminentemente urbana.
Tal
fragilização tem sido explorada pelos que detêm o capital e os meios de
produção. Aprofundar esta dependência faz-se míster e assim a concentração de
riqueza torna-se um fim em si para manter-se com cada vez mais consumo de itens
e com isso intensificar a estratificação do poder entre as minorias que controlam
os meios de produção como verdadeiras castas de tecnólogos e tecnocratas.
As
consequências diretas desse processo cultural são evidentemente desastrosas e
nocivas ao meio ambiente na exploração de recursos não renováveis em escala
crescente e por extensão como agressão à biosfera de seus habitantes humanos ou
não.
A partir da
Revolução Industrial o indivíduo comum passou a ter duas utilidades para as
instituições do poder e do capital que controlam os meios de produção: 1) Como
mão de obra barata para execução de partes de processos de produção em série.
2) Como soldados infantes para lutar nas guerras de colonização ou disputas
entre potências em litígio.
Entretanto com
o advento da automação das linhas de produção a partir do final do séc. XX e
início do séc. XXI a necessidade relativa à mão de obra barata deixou de ter
relevância, do ponto de vista operacional, para as grandes corporações motivando
as grandes dispensas verificadas nas plantas industriais e prestadoras de
serviços, em seus países de origem.
As doutrinas
econômicas elencadas por Adam Smith, Ricardo e outros no alvorecer da Revolução
Industrial e posteriormente por Keynes no período entre guerras e no pós-guerra
de facilitar o crédito para o grande capital e promover o arrocho salarial dos trabalhadores
para evitar-se a inflação vem sendo alterado por uma nova perspectiva ainda
mais aterradora com o fracasso dos estados e o abandono de suas
responsabilidades sociais históricas inerentes ao cidadão que cada vez mais é
marginalizado dentro do processo econômico, fenômeno que tem percorrido todo o mundo dito livre.
O
neoliberalismo travestido de Nova Ordem Mundial nega estes direitos básicos
como afirmação do velho dogma do poder do capital e da concentração de riqueza
nas mãos de uns poucos. Este é o mais novo produto vendido pela indústria
cultural como algo razoável. Hoje oito pessoas detêm 50% da riqueza mundial
numa concentração de capital sem precedentes. Mas, como sempre, o funcionamento
da economia exige a existência de um limiar diferencial. Para termos amos é
necessário haver escravos. É exatamente neste ponto que a equação da exploração
econômica do séc. XXI não fecha.
Sem a
necessidade da mão de obra barata num mercado capitalista onde impera a lei da
oferta e da procura estamos prestes a observar um novo fenômeno que já começa a
atingir em cheio as sociedades urbanas que é o abandono social. A decretação do
fim do “welfare state” e a desvinculação e sucateamento, via obsoletismo
forçado, das estruturas previdenciárias existentes, de responsabilidade do
estado com o cidadão comum, sela para sempre o fim da utilidade deste como mão de obra
barata.
Por outro lado,
sem as condições mínimas de moradia, saúde, educação e amparo aos mais velhos
entre a maioria de uma população crescente, em escala geométrica, estaremos
promovendo um colapso de grandes dimensões a médio e longo prazo onde nem
sequer as minorias abastadas vão conseguir sobreviver. Daí a importância do
conflito permanente promovido entre os povos e nações, como forma de manter o
crescimento econômico da produção em escala.
Os progressos
científicos mais relevantes foram sempre desenvolvidos durante e em função de
necessidades militares surgidas em conflitos ou guerras, principalmente a
partir do séc. XIX até nossos dias. Televisão, internet, sistemas gps, sistemas
balísticos, veículos 4x4, ISO e mais uma infinidade de outras descobertas
ocorreram por necessidades de uso militar crescente e organização dos contingentes bélicos.
A forma
clássica do consumo é a guerra. Nela temos a utilização de insumos e recursos
que são eliminados e a corrida armamentista é a imagem perfeita do obsoletismo
forçado na sua acepção mais pura. Produzir ativos para depois destruí-los ou
torná-los obsoletos na escala de trilhões de dólares por ano, por enquanto, tem
sido a saída dos países do Ocidente para remediar seus problemas econômicos
crescentes. O estado absorve o déficit econômico com o esforço de guerra à
custa do povo, enquanto as corporações do complexo industrial militar ficam com
os lucros.
Para tanto é
necessária a manutenção de uma potente indústria cultural que justifique ao
homem comum tantos sacrifícios e gastos com estes aparatos bélicos
tecnológicos. Produz-se farta cinematografia que explora o mórbido conceito de
nacionalismo exacerbado do ser humano onde a bandeira nacional sempre aparece
de forma subliminar ao fundo, o estrangeiros é sempre o personagem inimigo, e a
causa é a liberdade que deve ser assegurada aos outros, seja lá quem forem.
Os meios de
comunicação de massa são hoje centralizados pelas grandes corporações que
anunciam não só produtos, mas impõem valores culturais que tornam o espectador,
o público alvo, como ser cativo num processo ideológico que justifica o
crescente caos, de preferência alhures dos grandes centros do capital, na sua
periferia geográfica, onde antes se situavam suas colônias de exploração
condenadas ao conflito permanente.
Este conflito
permanente ocorre não só em territórios distantes do continente africano e
asiático, como também nos arrabaldes dos grandes centros urbanos onde as
populações foram migradas no objetivo de esvaziar grandes áreas de plantio para
exploração do monopólio da agroindústria e do latifúndio cada vez mais
automatizado no mundo todo.
As guerras de
facções, o tráfico de drogas e de armas, e os demais comércios colaterais das
atividades criminosas são até certo ponto tolerados até o limite de genocídios
localizados promovidos pelos agentes da repressão do sistema visando liquidar
lideranças incômodas que possam perturbar o “status quo”. Manter os grupos em
conflito permanente evita de que algum atinja hegemonia sobre os demais.
A atividade
econômica ilegal passa, cada vez mais, a ser integrada pelos meios de
comunicação através de franca divulgação e absorvida pela economia formal, com
uma tendência cada vez maior de ser integrada pelos estados como parte da
geração de riqueza das nações européias e até mesmo nos EUA onde a atividade é
crescente e concorre com os índices oficiais de crescimento.
Não existem
processos estanques na comunicação do homem enquanto ser biológico. Como disse
Macluhan: “O meio é a mensagem”
O Grande Conflito
- Corporações X Estados-Nação - A mensagem a serviço do capital.
A evolução das
monarquias para estados-nação ocorreu como consequência da ascensão da
burguesia plebéia que deu origem ao mundo moderno. O contrato do grande capital
com o poder facultou esta relação de dominação da classe trabalhadora nos
países onde ocorreu sujeitos pelo estado
e pelo capital em comum acordo.
Para os estados
modernos o capital burguês servia para ocupar a mão de obra crescente que
abandonava os campos para os centros urbanos em busca de trabalho nas
indústrias, depois de serem tangidos pelos grandes proprietários de terras
apoiados pelo poder e suas leis de propriedade que favoreciam aos
latifundiários. O processo de industrialização completou seu círculo com as linhas
de produção e as grandes plantações que tinham o mesmo objetivo de exploração
do meio e da mão de obra, bem como o fornecimento de matéria prima sem limites para manter o funcionamento das
máquinas em suas respectivas atividades de produção.
Para os estados
este acordo firmou-se e prevaleceu porque as grandes corporações e seus
representantes passaram a ter assento privilegiado nas decisões políticas em
escala crescente nos últimos duzentos anos. Em todos os eventos históricos
deste período o capital atuou como interlocutor e braço econômico do poder,
como fiel da balança, nas expansões, guerras e explorações de novos territórios
cumprindo seu papel sem necessitar limites éticos como os pretendidos pelos
estados em suas proposições políticas nacionais. As corporações sempre fizeram
o serviço sujo com o apoio irrestrito de governantes por elas indicados ou que
faziam parte das mesas diretoras das mesmas enquanto cumpriam função junto aos
governos.
Entretanto
muita coisa mudou de lá para cá. Interesses que até então foram comuns passaram
a se distanciar logo após a II Guerra Mundial com o ocaso do imperialismo
europeu que momentaneamente privou as corporações de sua imensa fonte de
matéria prima e mão de obra barata nas colônias e obrigou a criação de novas
formas de exploração multinacional através dos grupos financeiros e seus
agentes em contato direto com os prepostos que permaneceram no poder nas
antigas áreas de exploração iniciando um novo processo de poder que dispensava
o uso do estado. O liberalismo econômico veio em socorro e deu respaldo a este
novo tipo de exploração. Já não é mais o estado-nação que define o objeto e o
projeto desta exploração, mas a corporação que define o estado e seus
representantes que são a ela filiados. Um verdadeiros golpe de estado em escala
mundial. Grandes somas correm o mundo e estabelecem-se onde as condições de
exploração são viáveis e tornam-se voláteis onde a mão de obra é cara ou o
governo não é suscetível de cooptação.
Nem mesmo as
grandes potências ficaram imunes a esta lógica sinistra. O endividamento dos
EUA, índice histórico impagável que vai contra os interesses do próprio povo
norte americano é uma evidência cabal da perda de poder real do governo daquele
país em relação ao complexo industrial militar. Manter o conflito permanente
ainda é o objetivo almejado por esses interesses privados independente da saúde
financeira do povo e do país norte americano.
Vivemos hoje em
uma encruzilhada enquanto habitantes deste planeta. Nunca os meios de
comunicação alcançaram tantas pessoas no mundo todo impondo uma tendência de
homogeneização das sociedades humanas em prol dos interesses econômicos de uns
poucos. A democracia como forma de
governo do povo e pelo povo sofre um ataque mundial pelos interesses dessas
minorias. A ofensiva do capital possui uma primeira linha crucial de ataque nos
meios de comunicação onde se pretende criar um novo tipo de audiência cativa que
se auto emula para adquirir bens de consumo em troca da busca da felicidade
individual. Uma mensagem pode ser falsa, mas nem sempre o receptor tem
capacidade para filtrar seu conteúdo quando produzida de forma altamente
técnica e subliminar.
A privatização
será uma tendência crescente onde as corporações assumiram o controle direto do
estado. Isso já ocorre na maioria dos países do primeiro mundo. Todas as
instituições políticas podem ser a longo prazo substituídas por Assembléias de
acionistas e diretorias com objetivos
claros de exploração comercial e lucros em todas as atividades humanas,
inclusive a guerra. Num futuro não muito distante poderemos antever exércitos
controlados e comandados por empresas com objetivos coloniais, como já ocorreu
nos séculos da exploração mercantilista da expansão européia, com uma diferença
fundamental e terrível. Da mesma forma que nas linhas de produção
paulatinamente não serão mais necessárias as massas humanas com sua mão de obra
barata substituídas pela automação. Também as forças controladas pelas minorias
que detém o capital poderão ser automatizadas ao ponto de criarem drones de
todos os tipos para manter seu crescente poder.
Essa é uma das
projeções prováveis para um futuro próximo levando em conta os interesses em
ascensão em todo o planeta neste início do século XXI. A consequente e mundial
perda de direitos, o abandono do welfare state pelos países europeus já não
mais atemorizados com o perigo da expansão comunista, a despersonalização dos
governos enquanto entidades democráticas segue sua marcha veloz em direção ao escravização de uma população crescente de forma gradual e constante através
dos meios de comunicação controlados pela indústria cultural patrocinada pelas
corporações e uma precarização da classe média que não possui mais utilidade
como fiel da balança no controle e organização das massas mais pobres, nem como
agente de informação, nem como formador de opinião. O curral urbano se materializa como realidade cada vez mais presente. Estamos vivendo hoje o
limiar dessa nova revolução tecnológica, que substitui em todos os níveis
homens por máquinas, e concentra cada vez mais a riqueza nas mãos de uns poucos
privilegiados. A tecnologia de informação segue à serviço da tirania definitiva em busca de um Reich Milenar.
Dedico este curto ensaio ao meu filho Pedro Kling, o Pedro ALEM que no presente ano está cursando comunicação social. Que seja sua herança para a criação de um mundo diferente desta profecia distópica.
Bibliografia:
1) Uma Breve História da Humanidade - Sapiens - Yuval Noah Harari - L&PM - 2016
2)Uma Teoria Científica da Cultura - B. Malinowsky - Edit Zahar - 1962
3) A Era da Incerteza - John Keneth Galbraith - Liv. Pioneira - 1980
Excelente análise, Julio. A maioria do que comentastes eu já to mais ou menos por dentro, mais tem vários detalhes e outras informações da história toda que eu fiquei sabendo, neste teu texto. Muito bom. Agradeço. Quanto mais luz nessa nossa luta, melhor. Só gostaria de fazer uma observação, que é sobre as saídas, ou possíveis saídas, caminhos a serem trilhados pra tentar mudar isto aí tudo que estamos vivendo, no mundo, que acho que devemos (quem ja tem bastante clareza sobre todo o processo político e social da humanidade) procurar saídas, mudanças, pensar em como (apesar de que já tem bastante grupos fazendo isso) fazer pra mudarmos este sistema de governo que é o capitalista. Essa história de vivermos através de compra e venda não ta dando mais. Claro que é uma coisa lenta, essa transformação, mas acho que devemos colocar mais forças nisto. No dia a dia, com tudo, desde o lixo às relações interpessoais e com todos os seres. Valeu. Abraço
ResponderExcluirOs caminhos alternativos são a democratização da tecnologia como processo gratuito e de acesso à todos sem distinção com mudança de práticas e ofícios pela classe trabalhadora para atividades de maior valor agregado intelectual ou artesanal de alto nível. Um retorno às origens do homo faber, com descentralização e abandono das urbes superlotadas que se tornaram inviáveis para pequenas comunidades com aplicação de tecnologias de ponta em telecomunicações e informática acessível para todos. O CAPITALISMO se tornará inviável ou possivelmente buscará a precarização e exclusão da mão de obra humana para tentar sobreviver num mundo cada vez mais conturbado de onde tirarão seus lucros.
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