Um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou social ) como todo o corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo; mas, ao contrário destes, ele também reflete e retrata uma realidade, que lhe é exterior. Tudo o que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo o que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia
(Mikhail Bakhtin, Marxismo e Filosofia de Linguagem)
Alguns comentários sobre o meio e a mensagem na internet.

domingo, 26 de maio de 2013

Cypherpunks - Sua Liberdade está por um fio




Embora Assange seja um dos ativistas mais importantes e polêmicos na atualidade, raramente alguém, está falando sobre seu livro Cypherpunks, poucos de fato parecem tê-lo lido. Isso é uma pena, já que o livro toca um sino de alarme estridente justamente sobre a erosão dos direitos individuais de privacidade em virtude do crescimento de uma poderosa indústria de vigilância global.

Assange começou tão cedo quanto pensadores como Max Horkheimer e Theodor Adorno e têm alertado para a imbricação de entretenimento com controle social disciplinar, na forma da "indústria cultural". É influenciado por uma linhagem de teóricos como Guy Debord, autor de A Sociedade do Espetáculo (1967 ), por Michel Foucault e também por Gilles Deleuze que aborda sobre a sociedade de controle, ideais que expandiram-se como referenciais teóricos na modernidade que abordam sobre o advento de governos tecnocráticos que vão esmagar a oposição e toda diferença através da vigilância em massa de dados e também em forma de um gerencialismo conduzido, na aplicação de formas tirânicas de biopolítica.

Adverte sobre plataformas web maciças, como Apple, Google e Facebook são monopólios cada vez que relembram a era de ouro do capitalismo, em que a nova forma de mercadoria é a identidade pessoal; cada interação com a Internet é constituída para fins de marketing e lucro.

Assange é não é um criminoso, é um ativista. É perseguido porque suas ideias ameaçam o grande plano arquitetado para redução de todas as liberdades individuais e privacidade dos povos, que forçam o sujeito a um estado de medo constante, em que este abdica de seu direito de privacidade, por sentir uma grande necessidade de segurança, construindo-se uma condição de paranoia global, para exercício de um controle até nos momentos mais inoportunos de nossas vidas. Enquanto isso, os governos exercem tranquilamente todas as suas arbitrariedades sem a necessidade de figuras tirânicas, necessitando apenas induzir o indivíduo a sentir medo, para que este, por sua vez, sinta o desejo de ser vigiado e passe a ser controlado. A intenção é regular e produzir controle sobre as mudanças sociais, de modo, que as pessoas percam sua capacidade e possibilidade de agir historicamente a seu favor.

Até mesmo nos ambientes acadêmicos discutem massivamente ideologia (veja o conceito em Bourdieu) e dominação como se fossem causadores de todo o quadro social, mas de fato, ambos são efeitos do poder, consequências diretas em sua manifestação física e simbolicamente bruta. Alinharam o marxismo a uma constante denúncia das estruturas, ao invés, de tratarem sobre a mecânica que as sustentava. É preciso um estudo acerca da mecânica do poder, ao invés de o concentrarmos apenas em formas e figuras arquiteturais (o Estado) como na cartilha “ortodoxa marxista”, posto que também reproduzimos os efeitos do poder e o exercemos de acordo com sua mecânica. “Ninguém dança tango sozinho”, esse “sistema” existe porque ele tem um par. Precisamos entender que o poder pode até possuir um centro, mas este centro de poder pode ser desfeito e se dinamizar, havendo uma possibilidade de reversão em sua mecânica e na maneira como ele funciona. Somos centros de transmissão e transmissores de poder.

Esta obra de Assange infelizmente, espero eu estar errado, talvez faça sentido daqui 30 ou 40 anos, em virtude do grande atraso no entendimento sobre tecnologia e compreensão de grande parte da população nesse sentido, assim como muitos autores e ativistas que ficaram para trás.

Autor: Hawking Nerddog

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